RESENHA: SUZANAS BAUTEN – CORPO ESQUISITO

Numa realidade alternativa, “Corpo Esquisito” seria alguma espécie de experiência sensitiva em redomas esterilizadas de pesquisa psicológica. A constância dos sons, alternadas em batidas secas e distantes, os ruídos leves e sombrios, a guitarra primária, o odor nostálgico, o clima de suspense, tudo leva a um ambiente de dúvida e reflexão. Mas no nosso meio real os vinte e oito minutos do disco passeiam por sensações ainda não descobertas e podem ampliar a ansiedade, a dúvida, a angústia, o desprazer de viver numa realidade desconexa.

“Corpo Esquisito” é uma unidade de sons vindos de sabe-se lá onde, que só nos resta imaginar como cumprir a penitência da realidade. Nós não somos o que somos diante do que tentam nos vender. Somos uma imensa massa de iguais e quanto mais iguais melhor pra ilusão capitalista de se perpetuar e ampliar. Quando não há dissenso, não há ruptura. Quando não há ruptura, não há surpresas e se há algo que o mercado não suporta são surpresas.

A música misteriosa de Suzana’s Bauten não se aninha em nenhuma ordem. Não está nas listas dos melhores do ano, nem presume um atrito com questões sociais ou políticas. Não é de uma originalidade gritante, a ponto de se sobressair no meio dos seus pares experimentais dos subterrâneos. Aparenta um grande improviso, como um desabafo, um rompante. Mesmo assim é uma mini ruptura por não entregar o que se espera. É música de nicho – um nanonicho, ainda por cima – e, como toda música de nicho, passa despercebida, o que é uma contradição em si no DNA lógico. É como se não existisse. É como se fosse uma experiência pessoal, pra poucos, que poderia até ser a tal experiência sensitiva. É uma realidade que não existe. É uma pena.

Infelizmente não se mede sucesso além de números estratosféricos de execução e venda. Sucesso é uma palavra descrita e só encontrada na bula comercial, nas manchetes dos sites e publicações gringas, mas é constantemente desafiada a se alterar, a se rearranjar. Suzana’s Bauten consegue seu ativo ao experimentar com os mesmos recursos usados por qualquer grupo de rock há décadas – baixo, guitarra, bateria, gritos – ampliando as possibilidades da linguagem.

É um corpo estranho e alucinógeno na música, uma paralelidade à realidade, e isso, por si só, já é bom.

1. Marbane
2. Muzak2
3. l4bios q n3g3m

NOTA: 7,0
Lançamento: 2 de junho de 2018
Duração: 28 minutos e 36 segundos
Selo: Exhaust Valve Records
Produção: não creditado

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