RESENHA: THE ALBUM LEAF – BETWEEN WAVES

James LaValle esteve entre os fundadores da Tristeza, banda de post-rock-emo da Califórnia. De 1997, quando a Tristeza se formou, até 2003, LaValle levou vida dupla ao levar também seu The Album Leaf em paralelo. Uma vida dupla que tinha claro ponto final, já que a The Album Leaf se mostrava sua paixão exultante.

Nessa fase, a banda lançou dois discos, “An Orchestrated Rise To Fall”, em 1999, feito em parceira com Mike Vermillion, da viajante e anárquica GoGoGo Airheart, na qual LaValle tocou bateria por um tempo; e “One Day I’ll Be on Time”, de 2001. Só foi declarar independência em 2004, com o lançamento de “In A Safe Place”, já pela Sub Pop. Outros dois trabalhos vieram na sequência, todos também pela Sub Pop: “Into The Blue Again”, de 2006; e “A Chorus Of Storytellers”, 2010.

Nada se compara a esse “Between Waves” – curiosamente, o primeiro lançamento pela Relapse Records, especializada em sludge metal, grindcore e afins.

Aqui, LaValle conseguiu levar à risca o clichê do menos-é-mais. O disco parece variar quase nada. Ele segue uma linha reta na direção proposta, seja nas faixas instrumentais, seja nas mais acessíveis, e mesmo assim apresenta nuances bem perceptíveis, emotivas e explosivas, ora nas teclas, ora nas cordas.

Veja, talvez quem olhe o mar não enxergue uma variação da maré, o quanto ela sobe, o quanto ela desce, quando ela começa a se movimentar. Ela está lá no seu bailado cotidiano e essa é uma força inesgotável. É como qualquer sentimento, tirando aqueles traumáticos: o bom humor, o mau humor, a tristeza, a alegria. Quando você tá triste, não se lembra como chegou lá, nem como era quando estava feliz. Você simplesmente está e vive aquele momento.

“Between Waves” traz essa sensação de viver o momento, sem se preocupar como chegou lá. A façanha de LaValle é a sutileza. Sem grandes quebras, com variações sutis, o disco vai evoluindo e você simplesmente está lá em determinada faixa.

São apenas oito canções. E até chegar na faixa-titulo, que fecha o álbum, o ouvinte vai sentir o coração pulsar em “False Dawn”, sub-Radioheadiana, com uma batida entrelaçada; cantarolar com “New Soul” (a melhor do disco) e “Never Far”; e viajar com os sopros arteriais de Lost In The Fog”. Ainda tem “Back To Start”, uma construção pop belíssima, que agradará aos fãs do sumido Athlete.

Apesar disso, há momentos menores, como pasteurizada “Glimmering Lights”, que parece ter sido produzida num teclado de churrascaria nos anos oitenta pra um filme de Eddie Murphy; e “Wandering Still”, de uma grandiosidade discutível, apesar da beleza aparente.

Nada tira o mérito de sensibilidade de LaValle pra construir ao mesmo tempo temas poderosos e sensíveis, se equilibrando perigosamente entre o descartável e o genial. O resultado é uma obra de arte calorosa de afeto e familiaridade. Você já ouviu isso em algum lugar, mas ainda sente um certo frescor.

Pode-se afirmar que “Between Waves” é uma espécie de primo em primeiro grau de “Neon Golden”, disco que o Notwist lançou em 2002. A faixa-titulo, “New Soul” e “Never Far” poderiam estar facilmente no disco dos alemães – justamente as que possuem vocal. Sim, você já ouviu isso antes, até mesmo nos discos anteriores do próprio The Album Leaf, mas mesmo assim há um toque mágico que faz tudo parecer novidade.

Entre as ondas que vêm e vão, as águas se renovam. O sentimento se renova. Você tá pronto pra outra.

1. False Dawn
2. Glimmering Lights
3. New Soul
4. Back To The Start
5. Wandering Still
6. Never Far
7. Lost In The Fog
8. Between Waves

NOTA: 8,5
Lançamento: 26 de agosto de 2016
Duração: 40 minutos e 36 segundos
Selo: Relapse Records
Produção: The Album Leaf

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