RESENHA: THE JOY FORMIDABLE – WOLF’S LAW

OSSO DURO DE ROER

“Toda alteração no formato e na função dos ossos ou somente de sua função é seguida por certas alterações, definidas na sua arquitetura interna, e igualmente em sua conformação externa”.

A frase é do fisiologista e cirurgião alemão Julius Wolff, que viveu de 1836 a 1902, ao formular sua famosa “Lei da Transformação dos Ossos”, ou simplesmente, como ficou conhecida, “Lei de Wolff”.

A lei trata das transformações das estruturas ósseas por conta do estresse e das tensões recebidas: “num local onde as tensões mecânicas passem a ser mais elevadas existirá deposição de matéria óssea enquanto que, num outro, onde, a partir de determinado momento, as tensões diminuam substancialmente passará a existir absorção de matéria óssea”.

Embora a guitarrista e vocalista Ritzy Bryan afine o discurso temático do álbum com “sentimentos que são fortalecidos e revigorados”, incluindo os relacionamentos internos da banda, que escreveu e gravou o disco durante a exaustiva turnê do trabalho de estreia, “The Big Roar”, há uma certa forçação de barra.

“Wolf’s Law”, o disco (assim mesmo, com um “f” só), pode ter essa intenção de absorver as tensões que a estrada impõe e fortalecer a banda, mas está relacionado mesmo é com outra lei, a de mercado.

O Joy Formidable, trio formado em 2007 no País de Gales, chamou atenção em 2009, com o lançamento do seu mega-EP “A Balloon Called Moaning” (o embrião de “The Big Roar”), por conta das explosões de fúria das canções contrastando com a voz refinada de Bryan; mas principalmente pelas apresentações ao vivo, que culminavam com um esporro homérico de mais de dez minutos, com direito a guitarra sendo despedaçada num enorme gongo (normalmente com o “Austere” – vale ler o relato do show explosivo no Lollapalooza Chicago 2011).

Pouco disso existia em “The Big Roar”, mesmo tendo muitas das músicas do mega-EP. Mas quase nada sobrou em “Wolf’s Law”.

O trio ainda tenta oferecer aquela fúria, mas se preocupa em assimilar as influências do mercado a seu favor. “This Ladder Is Ours” e “Cholla”, as músicas de abertura, aceleram a guitarra e as distorções. Há energia, mas ela parece ser calculada o tempo inteiro, de olho ou na massa adolescentes cheios de espinhas e hormônios, ou no que é possível fazer nos shows. Não se sente um “real extravasamento de tensões”, como sugere o título do álbum.

Vídeo oficial de “This Ladder Is Ours”:

Um bom exemplo da amaciada que a banda deu está em “Little Blimp”, que começa distorcendo maravilhosamente o baixo de Rhydian Dafydd, pra então entrar o vocal e a massa instrumental que teria tudo pra serem contundentes, mas estão atrás de uma muralha de produção pra FMs e filmes aborrescentes indies. Na sua intenção pop, a música é perfeita, mas não dá pra enganar todo mundo.

Talvez a banda tenha mesmo achado sua vocação pop industrializada, assumindo todos os clichês possíveis. Não há demérito nenhum nisso, mas comparativamente com a estreia, é desolador.

“Little Blimp”:

Nesse sentido, com essa visão condescendente, é até possível pinçar alguma coisa interessante no disco. Pouca coisa, mas dá. A balada “Silent Treatment” é sensível. “Forest Serenade” tem tendência ao épico. E em “The Hurdle” a banda parece assumir todas suas intenções.

Mas a maioria é um aceno desesperado ao sucesso, com as armas do bom-mocismo. “The Leopard And The Lung”, pra se ter uma ideia, é uma homenagem à ativista queniana Wangari Maathai, morta em 2001, vítima de câncer no ovário. Há também um certo apreço bem colocado à natureza. O politicamente correto predomina.

No final das contas, o alemão Wolff, se pudesse atribuir algo de sua lei ao Joy Formidable, diria enfim que esse disco é um osso duro de roer.

NOTA: 4,5
Lançamento: 21 de janeiro de 2013
Duração: 52 minutos e 41 segundos
Selo: Atlantic Records
Produção: The Joy Formidable

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