RESENHA: THE MYRRORS – BORDERLANDS

Você pode achar que o marasmo predomina na música atual, com especulações sobre aquilo que já foi apresentado nos últimos quarenta anos. Mastigados e digeridos, símbolos foram sendo apropriados como novidade, como inovação, quando a embalagem estava com pontas rasgadas e uma fita adesiva já não tão aderente assim.

Se ninguém espera mais novidades, não há porque negar o frescor, ou o reflorescimento. A música do Myrrors, um coletivo de Tucson, no estado estadunidense do Arizona, é uma perfeita radiação causada por uma lufada de ares tântricos e hipnóticos. No seu quarto disco, “Borderlands”, o grupo equaciona free jazz, noise, psicodelia e kraut de modo a atingir um resultado expressivo.

A rápida explosão inicial, com “Awakening”, logo vira um reconfortante e introspectivo tema, “The Blood That Runs The Border”. Daí, temos “Formaciones Rojas”, com o kraut já dando as caras pra hipnotizar e preparar o ouvinte pra extensa viagem de “Note From The Underground”. O Myrrors sempre termina seus discos com exigências de fôlego de um fundista e invariavelmente se sai bem.

No decorrer dos quarenta minutos do disco, exige-se muito pouco do ouvinte. Apenas reflexão e aceitação. É a postura passiva que vai ampliar a experiência e levar a mente às fronteiras da percepção. É deixar-se levar e aceitar. O Myrrors espelha a nossa vontade de usufruir de uma relatividade vez por outra, um profundo desejo de descanso diante das turbulências atuais. Um escapismo diferente, pra dentro de si próprio. Um olhar de auto-aceitação.

Quando “Note From The Underground” tiver acabado, e consequentemente o disco também, haverá apenas o vazio e a inescapável vontade de retomar tudo de novo. Ninguém se importa mais aqui, a essa altura, com preciosidades do pensamento moderno como “inovação” e “novidade”. O que se aprecia é a experiência de estar fora do cotidiano e se apresentar, de cara limpa, a profunda apreciação de um singelo momento.

Ficar consigo mesmo é uma dificuldade cada vez mais grave e impiedosa. Seja por se evitar forçosamente, num mundo que se exige interações inférteis e falsas, ou por já não se saber como proceder. O Myrrors te convida mais uma vez a se olhar no espelho e procurar suas próprias fronteiras, pra então ultrapassá-las. Se a gente não compreende a si próprio, não tem como procurar compreensão no mundo.

1. Awakening
2. The Blood That Runs The Border
3. Formaciones Rojas
4. Biznagas
5. Call For Unity
6. Note From The Underground

NOTA: 8,0
Lançamento: 17 de agosto de 2018
Duração: 43 minutos e 08 segundos
Selo: Beyond Beyond Is Beyond Records
Produção: Nik Rayne

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