RESENHA: THE PASTELS – SLOW SUMMITS

NA SURDINA

Katrina Mitchell canta “Can you sing a song quietly?” na faixa de abertura de “Slow Summits”, “Secret Music”. É um convite e um aviso do que o ouvinte terá pela frente. Porém, mais do que isso, é o estilo do Pastels expressar sua música, é o jeito de Mitchell e Stephen McRobbie serem. Sem alarde, a banda voltou a lançar um disco, dezesseis anos depois de “Illumination”, de 1997 (sem contar a trilha sonora de “The Last Great Wilderness”, de 2003), e parece querer se manter assim, na dela, sem muito estardalhaço.

Mas o fã sabe: é difícil ficar alheio à volta do Pastels, a banda que praticamente “inventou” a sonoridade indie como se acostumou identificar nos dias de hoje. Isso foi lá em 1981, quando a banda surgiu em Glasgow, Escócia – longe de ser uma coincidência, é a terra de uma banda que não existiria se o Pastels não tivesse lançado o clássico “Up For A Bit With The Pastels”, em 1987 (principalmente os hinos “Address Book” e “I’m Alright with You”): Belle & Sebastian. Esse jeito “indie” moldado pelo Pastels não era vergonhoso como hoje, tinha um quê de semancol.

Ou não, sejamos sinceros. Digo, “indie” é “indie” de qualquer maneira, em qualquer época, mas a essência que o Pastels utiliza é a pureza do “não saber fazer e fazer por conta própria”, do “tocar como entender mais adequado à expressão artística”, do ser independente, do ser autêntico… Um ideal meio punk, enfim. Mas um punk fofinho, sem inclinação político-social, se é que existe isso, se é que isso é realmente necessário. Ou, por outra, um punk sem cojones, pra desespero dos punks autênticos, por punk de fato não ser.

Mas se não há a urgência sonora nem a agressividade ou a crueza e porrada do punk, o Pastels é um indie com bagagem, porque está na raiz do termo. “Slow Summits”, mesmo tão longe no tempo, não me deixa mentir. Está na música, no jeito de se vestir, na pose, está nos temas.

O que diferencia o Pastels da maioria dos indies atuais não são só os quilômetros rodados e a vida vivida, é o que se herda com tudo isso: uma visão perspicaz do que é mais simples no dia a dia.

“Night Time Made Us” é tão cheia de pureza, com as lembranças da juventude de McRobbie, de seus pais e de suas saídas à noite, que se torna daquelas de assobiar como se fosse uma velha canção conhecida, bem familiar – e logo ela vai se tornar, com duas ou três audições e com versos como “night-time colours are so cool / I wanted to be somewhere with you”. É uma canção-recordação.

Ouça “Night Time Made Us”:

O hit fácil, “Check My Heart”, é grudento, pra cantar ao sol, e balançar com os amigos. Adolescentes devem adorar isso, porque, bem, adolescentes pueris adoram falar de coisas do coração, se encantar, celebrar o verão, essas coisas bucólicas, quando estão de bem com a vida. Impossível evitar o óbvio: se seu coração não se curvou até aqui, tem alguma coisa errada com ele. É melhor se certificar.

Vídeo oficial de “Check My Heart”:

O disco chega à metade com uma divertida alusão à velvetiana “Who Loves The Sun”. É “Summer Rain”, delicada e a mais próxima de todo o DNA conhecido do Pastels: uma base simples, sem variações (a não ser no arranjo de cordas), como as boas canções pop. Entretanto, o Pastels avisa que algo vai mudar. Da metade pra frente, a banda engata o que sugere ser seu conceito de final épico pra uma canção: mais de dois minutos de massa instrumental, sem nenhum esporro, apenas uma viagem sonora que Mitchell e McRobbie permitiram.

E as coisas realmente mudam de rumo a partir daqui. “After Image” é instrumental, banhada a dor, tocante. Efeitos, barulhinhos, invenções. “Kicking Leaves”, na voz de Katrina, mais psicodélica, envolvente, contemplativa. “The Wrong Light”, uma das melhores do disco e a melhor da “parte adulta”, prega de maneira um tanto soturna e com a voz rouca de McRobbie, em repetição, “we’re shadows of the night”. O Pastels se afasta da puberdade, abraçando sua condição de maturidade.

A instrumental “Slowly Taking Place”, tem uma guitarra inicial pós-punk, mas se arrasta e parece mais um ensaio; e “Come To The Dance” incomoda com a voz desordenada de Mitchell – parece ter sido produzida às pressas. Ambas são os pontos baixos do álbum.

O Pastels aqui é basicamente Stephen McRobbie (vocais e guitarra) e Katrina Mitchell (vocais e bateria), mas a banda é formada também por Tom Crossley (teclados), Gerard Love (baixo), Alison Mitchell (trumpete) e John Hogarty (guitarra). O clima transparece ser bem bom porque a banda está cercada de amigos: Annabel Aggi Wright (baixo), Norman Blake (Teenage Fanclub), dois terços do To Rococo Rot (Stefan Schneider e Ronald Lippok, uma das bandas preferidas de McRobbie), os japoneses do Tenniscoats (com quem o Pastels lançou um split em 2009), Craig Armstrong, que fez o arranjo de cordas em “Kicking Leaves”, e John McEntire (Tortoise), que produziu tudo.

“Slow Summits” é um disco pequeno, despretensioso, como os demais dos Pastels. Parece uma brincadeira entre amigos. Não fará muita diferença pra história da música, como a banda fez no início de carreira (seu legado está aí, é só espiar). Mas é um belo disco e o grupo ainda pode servir de inspiração pros Belle & Sebastian da vida seguirem a toada. Se isso é uma boa notícia são outros quinhentos. O Pastels não pode ser culpado dos efeitos colaterais do indie atual, até porque tenta cantar suas canções na surdina, à boca-pequena.

“Come To Dance”:

NOTA: 7,5
Lançamento: 27 de maio de 2013
Duração: 39 minutos e 12 segundos
Selo: Domino Records
Produção: John McEntire e Bal Cooke

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