RESENHA: TOY – HAPPY IN THE HOLLOW

Ao ouvir “Happy In The Hollow”, o quarto disco do Toy, fica uma sensação de déjà-vu. “Já ouvi isso antes” é algo bem corriqueiro na música pop, não importa se mainstream ou subterrânea, mas aqui é extraordinariamente saliente.

Toy é um sentido bem amplo do que se pode comprovar no ideal de “conglomerado de referências”. Senão, vejamos: não há uma nota em “Happy In The Hollow” onde o ouvinte não seja transportado pra algum ambiente minimamente reconhecido na memória. É possível a todo instante imaginar-se diante de um disco do Raveonettes ou de um lado B menor do Jesus & Mary Chain. Mas também se pode apreciar momentos de um krautrock adocicado e lento.

Ou, em outras palavras, mais diretas e objetivas, é como se o Raveonettes tivesse adotado o kraut como força-motriz e, ao mesmo tempo, não se incomodasse em dedilhar canções higiênicas como “Charlie’s House”.

Os tempos não são seguros pra afirmações irrestritas. É preciso contemporizar e assimilar o bombardeio constante de novas verdades e afirmações. O Toy parece ser um bom reflexo disso. Começa com “Sequence One” exalando “Some Candy Talking”, canção exuberante dos irmãos Reid. O baixo e a bateria sequenciais dão uma digna modernizada na obra lançada em 1986 (não que fosse necessário), e é exatamente sobre isso que estamos falando, refresh, atualização.

As cíclicas “Energy”, “Jolt Awake” e “Mechanism” redescobrem o redemoinho sonoro do estilo alemão como uma obra possivelmente original, embora claramente revivida. “Mistake A Stranger” tem um início a la U2 (acredite se quiser). E assim soa como se o pressuposto de unificar suas referências numa obra seja um tanto básico à primeira vista, mas se deve levar em conta que identificar essas particularidades não é algo tão usual pro autor, algo tão complicado quanto desconstruir um prato elaborado a partir de receita alguma, só com o uso do paladar.

A característica que faz de “Happy In The Hollow” ser uma obra encaixada em seu tempo está nessa diluição, na heterogeneidade. Os muitos em um único, como a enxurrada de informação que inunda nossas mentes pra elaborar pensamentos até simples. É por isso que o disco soa tão saboroso: há sempre algo a mais pra descobrir no emaranhado de referências. Não é uma busca por originalidade, é uma expressão elementar a partir da percepção do entorno durante toda a vida. Pro ouvinte, é ainda mais simples: é divertido pacas.

01. Sequence One
02. Mistake A Stranger
03. Energy
04. Last Warmth Of The Day
05. The Willo
06. Jolt Awake
07. Mechanism
08. Strangulation Day
09. You Make Me Forget Myself
10. Charlie’s House
11. Move Through The Dark

NOTA: 8,0
Lançamento: 26 de janeiro de 2019
Duração: 47 minutos e 47 segundos
Selo: Tough Love Records
Produção: Toy e James Hoare

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