RESENHA: WILL MASON ENSEMBLE – BEAMS OF THE HUGE NIGHT

Estar num espaço remoto e se contrapor à vastidão noturna têm provocado os acessos artísticos mais criativos desde que a vida é vida. O desejo da composição de Mason tem em sua poderosa ambição uma construção mística que não idealiza esse isolamento, mas que antecipa suas explosões, que explora suas dissonâncias, suas loucuras. A música complexa de “Beams Of The Huge Night” cria tanta fibra porque o time que suporta Mason é forte, as explosões convocam o livre improviso como terreno que também representa um estágio do isolamento, da contemplação da vastidão noturna. Nessa estreia, Mason surge como uma nova voz ambiciosa e que produz uma composição detalhada pros parâmetros atuais da música experimental, em que cada etapa – das ideias primárias à pós-produção – foi incansavelmente trabalhada.

Logo na abertura, uma pretensiosa faixa de quase dezessete minutos, temos uma noção do que o álbum vai apresentar: improvisação caótica em grupo contra uma produção minimalista detalhada; vocais claros e organizados (que lembram muito jazz espiritual) contra vocais de rock progressivo (parecido com as coisas do Magma), guitarras com rifes angulares de math rock. A forma com que todo esse caos se organiza pra natureza que Mason deseja representar é a destruição de dicotomias, os pensamentos mais insanos que uma noite contemplativa solitária pode abordar. É tudo muito, muito audacioso pra uma primeira composição; é um caos primário onde se sobrepõem angústias, quietudes, pensamentos agressivos. Mason força seu próprio limite enquanto arquiteto musical pra dar forma sonora a visualizações radicais de qual ponto a arte pode atingir.

Em toda essa multi-instrumentalidade que “Beams…” apresenta, pode-se sentir um traço de melancolia que percorre cada faixa, como se o estado “natural” de todo o disco fosse uma infelicidade que em vários momentos é superada, destroçada em pensamentos menos seguros (sim, a tristeza aqui é tratada como algo seguro). Uma máxima bem comum em muitas vertentes zen-budistas é que “tudo é dor”. Mas não pra Mason, ele não atravessa diversos estados pra voltar à mesma tristeza ingênua que sentia na primeira canção; ele reconhece na música a transformação até pra experimentar sentimentos negativos.

Mason homenageia duas cidades de Maine nesse álbum: Dixfield e Strong e assim não poderia deixar de ser, uma vez que é seu estado natal. “Dixfield” explora o ambiente de todas as maneiras possíveis; os saxofones em constante explosão, as viradas incansáveis da bateria e com uma influência forte de um drone “trance” que recebe estímulos mais “nervosos e angustiantes” pra refletir uma calma manipulada por essas explosões. “Strong” é mais curta, mais complexa e mais irônica; influenciada por mentes como a de Steve Coleman e as peças com temáticas nova-iorquinas de Steve Reich, começa com um grande solo (o melhor de todo disco) de Andrew Smiley e a guitarra ofensiva de Reuter cerca toda a música; a segunda parte da peça não apresenta repetições (o que não acontece em nenhuma outra canção).

“Beams Of The Huge Night” não apenas apresenta um compositor ansioso por passar seu conhecimento (tanto teórico como empírico) pra frente, como é a primeira obra forte de uma mente jovem que não hesita duas vezes em arriscar tanto.

1. Finn
2. Door 6
3. Door 7
4. Dixfield, ME.
5. Strong, ME.
6. Brille

NOTA: 6,5
Lançamento: 28 de agosto de 2015
Duração: 66 minutos e 23 segundos
Selo: New Amsterdam
Produção: Will Mason

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