RESENHA: ZOPELAR – JOY OF MISSING OUT

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“Joy Of Missing Out” é o terceiro trabalho solo de Pedro Zopelar, em que a repetição é quebrada pela necessidade de impor um fluxo perceptivo, que organiza e estabelece uma continuidade subjetiva.

A forte base meio retrô, meio futurística, comprova que o músico projeta sua mixagem como mediadora de diversos tempos distintos que, apesar de não serem lineares, não se anulam. Zopelar canaliza sua construção pra uma espécie de espelhamento sintético de uma grande cidade cujo dimensionamento é ampliado/reduzido através do fluxo.

À luz de uma recontextualização, as faixas “não se importam” de captar algumas brevidades; elas vão em frente e em frente. Com a admissão dessa necessidade, elas carregam uma influência seminal de muitos subgêneros da música eletrônica, porque é impossível desgrudar-se deles.

Esses indicativos de “seguir e seguir em frente” são uma convicção muito pessoal que absorvo enquanto ouço o disco nesta interminável quarentena. Uma fixação nas influências de Zopelar reduziriam as possíveis absorções que as músicas causam enquanto intermediárias de um contexto altamente pessoal com novas tecnologias que não param de se reproduzir.

Se outros bons produtores de música eletrônica têm a necessidade de afirmar um discurso bibliográfico sobre o gênero, a impressão que se tem de Zopelar é que ele simplesmente vem carregado dessa bagagem enquanto ruma pelo mundo propondo suas reflexões. Com “Joy Of Missing Out”, o músico construiu versos sonoros que ecoam como um acúmulo que redistribui os barulhos que julga serem essenciais. O desafio que ele oferece é mais como um exercício de camaradagem, as construções são tão convidativas que se passa algum tempo preso ao ritmo (o que realmente importa), grudado em suas construções sintáticas.

“Jazz Da XV” é o ponto em que os planos de tempo evidenciam o álbum como uma produção que se reformula a partir da existência da memória e de uma necessidade linear de composição, ambas justapostas. Mas a ausência de nítidas e separadas referências temporais configura um abandono das óbvias nomenclaturas pra construir algo que acena boas vindas em todas as batidas.

Depois de martelar com uma vasta gama de estilos, o músico alcança uma recombinação que, conforme as faixas provam, só seria possível a partir de um olhar muito pessoal e vivido. O fim de “Brasilidade” representa um ponto de vista muito pessoal do que nossa música realmente é, fugindo de um discurso retrô cliché entorpecido no passado.

Pelo tempo em que o músico mantém os constantes efeitos de mudança, tem-se a sensação de que os recortes são tão precisos e bem distribuídos que um possível reagrupamento é, na verdade, uma composição rica e detalhada. Essa realização deixa o ouvinte habitar os ritmos enquanto experiência progressiva que, eventualmente, retrai memórias e colagens. Esse tipo de música vive na necessidade de movimento.

No fim, um álbum deve ser experimentado pelo que apresenta e não pela sua ausência. “Joy Of Missing Out” não contém um conceito, ele é um simbolizante do mundo a ser significado. São melodias que muito tem a ver com a forma que a música é consumida hoje em dia; fragmentos dispersos que, devido a esse recorte, ganham a potência de mediar o mundo em que o ouvinte está.

É o tipo de música que eu mostraria minha cidade enquanto passeio com amigos de fora, mas também é o tipo de música que cabe na minha quarentena. Se os músicos contemporâneos estão relacionados a uma tradição, “Joy Of Missing Out” comprova que a forma como se consome música também pode ser redistribuída em uma estética criativa.

01. Sozinho À Noite
02. Looking Back
03. All I Want
04. Driving To The Sun
05. Azy
06. Hobart
07. Travel
08. Jazz Da XV
09. Welcome Stranger
10. Phobia
11. Brasilidade
12. Look At Me
13. Praia
14. Vision
15. Locked

NOTA: 8,0
Lançamento: 4 de fevereiro de 2020
Duração: 48 minutos e 22 segundos
Selo: Independente
Produção: Pedro Zopelar

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