SHAZAM: A EMPRESA DE UM BILHÃO DE DÓLARES

É uma mágica dos tempos atuais. O Shazam, aplicativo de identificação de músicas, criado no ano 2000, na Inglaterra, nunca deu um centavo de lucro, mas é uma das empresas mais valiosas da atualidade, chegando a inacreditáveis um bilhão de dólares (3,7 bilhões de reais, no câmbio de 1º de setembro de 2015).

A empresa divulgou recentemente uma série de informações sobre suas operações e de 2014 pra cá pode-se dizer que os ventos estão soprando favoravelmente ao aplicativo.

No fechamento do ano de 2013, a empresa dava conta de que tinha 375 milhões de usuários (conta feita por meio dos downloads realizados em celulares, tablets e computadores, desde que permitiu downloads pras várias plataformas, em 2008), sendo que 86 milhões são usuários mensalmente ativos, gerando 15 milhões de requisições de informações das músicas e artistas (tags) por dia, nos sites parceiros – iTunes, Google Play e, recentemente, Spotify e Rdio.

Um ano depois, esse número subiu pra meio bilhão de usuários, sendo 120 milhões de usuários mensalmente ativos, e 17 milhões de tags por dia.

Por ora, é daí que o Shazam tira sua grana.

Conhecido pelo seu serviço de música, o Shazam permite aos usuários ouvir e identificar canções pelo processo de requisições de informações (tags). Ao identificar a música, o serviço retorna informações como nome do artista, título da canção, álbum, onde se pode acessar essa canção e onde pode ser comprada. Daí, o Shazam conecta o usuário aos parceiros de venda, os fornecedores conectados, como Apple, Google, Rdio e Spotify – e, claro, recebe uma fatia de cada compra.

A empresa informa que desses 17 milhões de tags por dia, de 5 a 10% resultam em compras. No ano fiscal de 2014, essas vendas representaram 300 milhões de dólares pro Shazam – imagine qual é a parte das gravadoras e dos fornecedores.

Além disso, o Shazam tem mais três fontes de renda. Uma delas é finita, outra é importante e uma terceira é que promete ser a garantia de lucro num futuro próximo.

A finita é o aporte de capital que a empresa tem recebido desde o começo. Em março de 2014, sem indicar de onde veio o investimento, a empresa conseguiu 20 milhões de dólares. Com esse aporte, o valor da companhia chegou a meio bilhão de dólares. Mas em janeiro de 2015, anunciou outro aporte, dessa vez de 30 milhões de dólares. De 2007 pra cá, Shazam já havia conseguido incríveis 125 milhões de dólares de investidores (e prepara-se pra se lançar na bolsa de valores).

Um desses investidores, que coloca dinheiro desde o início da empresa, é Carlos Slim, o bilionário mexicano, tido várias vezes como o homem mais rico do mundo (hoje é o segundo, atrás de Bill Gates). A grana de Slim fez com que o aplicativo chegasse à toda a América Latina.

A outra fonte de renda vem da publicidade. São mais de 400 campanhas girando pelo aplicativo. Cada uma delas custa entre 75 mil e 200 mil dólares, velendo por alguns meses.

Eis que chegamos à terceira e à esperança de gerar lucros futuros: a Resonate. Essa é uma plataforma criada pra ajudar as redes de televisão, marcas, empresas e publicitários a conectar consumidores aos seus produtos via celulares e tablets, enquanto assistem tevê. Loucura? O The Wall Street Journal, em agosto de 2014, publicou um artigo estimando que 84% dos estadunidenses usam seus dispositivos enquanto vêem televisão. Do meio bilhão de usuários do Shazam, 140 milhões estão nos Esteites, o maior mercado consumidor e consumista do mundo.

Essa ferramenta é útil porque o aplicativo já reconhece, há um tempo, além de músicas, também programas de televisão – de séries a filmes e shows. E propagandas. E merchandising. Imagine o potencial disso. Identifique uma música e o aparelho tem um link pra um iTunes da vida. Identifique um produto na tevê e o link pode ser pra inúmeras possibilidades.

Mesmo assim, a empresa alega que é “intencionalmente não rentável”. Isso porque constantemente investe em estrutura, tecnologia, publicidade e pessoal (inclui aí mais de cem engenheiros e cientistas).

No ano de 2013, teve 47 milhões de dólares de receita, mas um prejuízo líquido de 3 milhões de dólares. Em 2014, o rombo aumentou, chegando a 55 milhões de receita e perdas de 23 milhões. Muito desse rombo veio do investimento no Resonate e em pessoal: o custo operacional do Shazam em 2014 foi de 72 milhões de dólares, bem mais do que a própria receita, que diminuiu bastante com a queda de vendas do iTunes (só de pessoal, o custo operacional da companhia chega a 39 milhões de dólares!).

O que faz uma empresa assim, que nunca deu um centavo de lucro e vem aumentando o prejuízo, valer mais de um bilhão de dólares? Há muita explicação pra isso. Embora as receitas tenham diminuído bastante de um ano pra outro, as perspectivas de alcance são ótimas, afinal não é todo mundo que tem meio bilhão de pessoas à mão, um terço delas interagindo constantemente com sua marca – e dispostas a gastar.

O mais cruel disso tudo é que a música é só um produto qualquer – poderia ser qualquer coisa, calhou de ser música. O que se investe aqui é em tecnologia.

Bom, pensando bem, sempre foi assim. O mercado nunca vendeu música. O que se vende é facilidade pra ouvir música – plataformas, viabilidade. Os vinis e CDs são tecnologia, plataforma pra ouvir música. O iPod e o iTunes, idem. O streaming, tal e qual. Nunca se tratou de arte, mas de tecnologia. É isso que vale um bilhão.

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