SIMPLE MINDS NO ESPAÇO DAS AMÉRICAS – COMO FOI

Em 2001, o Simple Minds lançou “Neon Lights”, seu décimo segundo álbum, só com coveres. O que parecia um bom motivo pra fugir pras montanhas, na verdade, se mostrou uma prova impressionante da inventividade da banda. Foi o último disco realmente interessante do grupo, com versões desconstruídas e eletrônicas de “Gloria” (Van Morrison), “Dancing Barefoot” (Patti Smith), “Bring On The Dancing Horses” (Echo & The Bunnymen) e, claro, da faixa-título, uma releitura introspectiva do clássico do Kraftwerk.

Mas é triste pensar que um dos melhores trabalhos de uma banda seja um disco de coveres. Triste e lapidar: dá o tom do seu alcance criativo.

Vale lembrar também que seu maior hit, “Don’t You (Forget About Me)”, não foi composto pelo Simple Minds. Ele é de autoria de Keith Forsey e Steve Schiff, e veio no encerramento de um (divertidíssimo e sucesso de bilheteria) filme adolescente de 1985 (“O Clube Dos Cinco”, The Breakfast Club, EUA, direção de John Hughes).

Apesar disso, alcançou grandes vendas a partir de “New Gold Dream” (1982), chegando ao ápice nos seguintes “Sparkle In The Rain” (1984), “Once Upon A Time” (1985) e “Street Fighting Years” (1989), todos número um e disco de platina na Inglaterra. Mas não nos Esteites, onde nunca convenceram muito, apesar de terem se transformado em “banda de arenas”. Nem no Brasil.

Nesse dia 8 de outubro de 2013, o Simple Minds revitalizado pelo seu núcleo Jim Kerr (vocal), Charlie Burchill (guitarra) e Mel Gaynor (bateria), com Andy Gillespie (teclado) e o vigoroso Ged Grimes (baixo) completando a formação, tocaram no Espaço das Américas, retornando ao Brasil depois de três anos (tocaram também, no dia anterior, em Porto Alegre). O bom público, em torno de 70& da lotação, era formado na maioria por quarentões e cinquentões querendo reviver os anos 1980. Poucos jovens. Era o que se podia chamar de “jogo ganho”.

Mas… Bem, não foi bem assim. Jim Kerr até que tentou, mesmo com um fiapo de voz (e o volume mais baixo de seu microfone). Tocou “air drums”, como de costume, pediu coro pra plateia, mas era pouco correspondido por aqueles senhores já sem tanta vitalidade pra cantar junto com seu ídolo. Uma boa explicação pode ser a longa distância que aquelas canções ocupam na memória.

Tirando os hits “Mandela Day”, “Promised You A Miracle” (ambas mais pálidas ao vivo e fora do set de Porto Alegre), “Don’t You (Forget About Me)” e “Alive And Kicking”, nenhuma música causou furor na plateia. A bem da verdade, a resposta em “Don’t You (Forget About Me)” foi mais morna do que a esperada, embora Kerr tenha conseguido aumentar a temperatura ao pedir pras pessoas cantarem o famoso “la-la-la-la-lááá la-la-la-lááá la-la-la-la-la-la-la-la-la-lá” em “várias línguas” e surgissem na Pista VIP (claro que num show desses teria uma Pista VIP) cartazetes escritos “LA”. Foi pouco.


Fotos 1 e 2: Manuela Scarpa/Foto Rio News (tiradas do UOL)

Outra promessa de levantar o público estava em “Alive And Kicking”, que chegou apenas no bis. Iria encerrar a apresentação. Mas antes, uma amostra do potencial de reinterpretação da banda, com “Neon Lights”, do Kraftwerk (levada pela vocalista Sarah Brown), e, mais no início da apresentação, a versão pra “Let The Day Begin”, do The Call, que perde fácil pra ferocidade do Black Rebel Motorcycle Club. Pouca gente se tocou ou se importou, diante da habilidade dos escoceses em recriar tais clássicos.

Mas com “Alive And Kicking”, a plateia surgiu participativa, o que empolgou o Simple Minds. John Kerr e companhia resolveram, então, esticar o show, com mais duas músicas, incluindo a versão de “Gloria”, de Van Morrison (com enxertos de “Take Me To The River”, de Al Green), que arrancou danças e coros da audiência. Sem um público muito exigente, talvez a banda possa ter saído com a sensação de dever cumprido e a plateia, um tanto satisfeita.

Entretanto, é preciso notar que ao vivo, infelizmente, a banda não consegue evidenciar a inventividade que mostrou em “Neon Lights”. Ficou aquela sensação de ex-banda-em-atividade, de um fantasma arrastando correntes pelos porões da memória da música pop. E uma banda que dificilmente teria uma música própria escolhida pra entrar num disco de coveres de quem quer que seja.

01. Broken Glass Park
02. Waterfront
03. Once Upon A Time
04. Mandela Day
05. Let The Day Begin (The Call cover)
06. Hunter And The Hunted
07. All The Things She Said
08. Promised You A Miracle
09. Glittering Prize
10. This Fear Of Gods
11. Don’t You (Forget About Me)
12. New Gold Dream

BIS
13. Theme For Great Cities
14. Neon Lights (Kraftwerk cover)
15. Someone Somewhere In Summertime
16. Sanctify Yourself
17. Alive And Kicking
18. Ghost Dancing
19. Gloria (Van Morrison cover, com “Take Me To The River”, cover do Al Green)

Veja “Waterfront”:

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Comentários

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4 comentários

  1. Os primeiros discos do Simple Minds lançados entre 79 e 82 são excelentes, inventivos, mostravam uma banda que arriscava experimentar, curto muito discos como “Real to Real Cacophony”, “Empires and Dance” e “Sisters feelings Call”, acho que se eles tivessem acabado depois do “Once Upon A Time” teria sido perfeito, depois disso são o que vc colocou bem no texto, uma ex-banda em atividade que tem alguns lampejis (como o disco de covers e a música Mandela Day). Abs!!

  2. Logicamente depois de ANOS de carreira a voz de Jim Kerr não é a mesma de quando ele tinha seus 20/30 anos, o que é natural. Eu, com meus 20, posso lhe afirmar, já os vi tocar duas vezes. É notável que a maior presença de público seja de pessoas com seus 40/50 ou mais, pq viveram àquela época, e como a banda segue sua própria linha musical, não vai se render aos desejos da massa. Agora, numa Era em que a música surge de apenas uma palavra ou até menos do que isso, e ainda sim esses novos “artistas” medíocres (pq acreditam que estão cooperando culturalmente), conseguem adquirir público que com certeza não sabe da existência de bandas como o Simple Minds, assim, diferente de mim e outros poucos jovens com censo musical, certamente não estavam presentes nos shows. Outra coisa, “Neon Lights”, para você é o melhor do que fizeram ainda sim como versão, então Sir Fernando, aconselho que pesquise mais sobre os shows e também comentários até mesmo nos “STATES”, não saia por ai jogando palavras ao vento, esperando que uma meia dúzia concorde com você. Afinal se JIM/JAMES KERR e sua banda estão aí até hoje, não é de graça. Eles realmente são bons e tenho mais de meia dúzia para concordar comigo.

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