SLOWDIVE NO CINE JOIA – COMO FOI

É raro um show no Cine Joia ser uma experiência boa. É raro o som da casa se mostrar ideal pra quem está se apresentando. É uma raridade um festival brasileiro ser bem organizado, com horários respeitados tal como anunciados e término a tempo de todos os espectadores voltarem pra casa sem atropelos.

Não menos raro é, em São Paulo, haver na plateia uma maioria que realmente sabe o que aquela banda que se apresenta ali em frente vai oferecer, pode oferecer e está oferecendo. Um público que não está presente só pra fazer parte daquele momento, mas que de fato conhece e gosta do protagonista da noite.

Tão raro quanto é a organização conseguir escalar bandas de abertura que tenham um mínimo de conexão com o artista principal – mesmo que, no seu único escorregão, tenha escolhido bandas demais.

E é raríssimo, acima de tudo, uma banda que volta às atividades após uma eternidade (no caso, quase vinte anos) sem parecer uma reunião de velhos amigos que não se bicam tentando fazer uma grana às custas da memória afetiva de seus fãs. Não, o Slowdive, ao contrário dos seus equivalentes Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine e, principalmente, Pixies (que se tornou uma banda qualquer desde que voltou a gravar), parece ainda mais robusto do que duas décadas atrás. A sua música está tão exuberante quanto e não é truque de estúdio, como muitos detratores argumentam.

Deu tudo certo nesse Balaclava Fest, em comemoração aos cinco anos da produtora brasileira. Teve Widowspeak, Clearance, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante e Slowdive. Quando se afirma “tudo certo” é tudo certo mesmo: da organização às apresentações, e assim até o preço fica redondinho no entendimento do público. Em outras palavras, cento e quarenta reais (do lote 1) virou um pechincha.

Pode colocar tudo na conta do Slowdive, se quiser. Em uma hora e meia de apresentação, o quinteto fez a audiência viajar, dançar, cantar, pular (por incrível que pareça) e se deixar hipnotizar. Uma suculenta lista de músicas intercalando os três discos de vinte anos atrás e o espetacular novo lançamento, “Slowdive”, de 2017, fez a alegria de quem jamais imaginaria ter a possibilidade de ver a banda ao vivo – vale lembrar que há uma geração que nasceu após o fim da banda e que no máximo se contentou com o Mojave 3.

Se há uma trilha sonora pro ato de sonhar, provavelmente o Slowdive contribui com uma boa penca de faixas. Já uma trilha sonora de sonhos realizados talvez seja composta exatamente pelas quinze canções apresentadas nesta noite de 14 de maio de 2017. De “Slomo”, do disco novo, ao coro afinado entre plateia e banda em “Dagger” e “Alison”, o show parecia uma hipnose coletiva, que traduzia satisfação, respeito e incredulidade. Nem mesmo as chatíssimas conversas laterais foram ouvidas – estavam todos vidrados nas notas, nos movimentos, nas vozes, nas guitarras e na bateria marcante que simulava o tique-taque do relógio em acelerações distintas a desacelerar os batimentos cardíacos rumo ao transe.

Aquela banda de “Just For A Day” (1991), “Souvlaki” (1993) e “Pygmalion” toca ao vivo, toca alto e toca com potência. Não é um produto de estúdio. Se alguém algum dia destratou o som do Slowdive baseado nesses termos, eis mais um momento raro pra você desfrutar: ao vivo, a atuação do quinteto é o melhor argumento pra você vencer essa discussão.

01. Slomo
02. Slowdive
03. Avalyn
04. Catch The Breeze
05. Crazy For You
06. Star Roving
07. Souvlaki Space Station
08. No Longer Making Time
09. Dagger
10. Alison
11. Sugar For The Pill
12. When The Sun Hits
13. Golden Hair (Syd Barrett cover)

BIS
14. She Calls
15. 40 Days

Fotos: André Yamagami (foto de cima do palco: publicada nas redes sociais da própria banda)

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