SMACK NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – COMO FOI

Numa quinta-feira, dia 5 de novembro de 2015, morria Sérgio Pamplona. A notícia não causou nenhuma comoção na geração que cresceu sem inflação, com celulares na mão e com Internet fazendo parte do cotidiano tanto quanto automóveis, carros e a mudança climática. Mas Pamplona, o Pamps, foi o fundador de uma das mais importantes bandas do subterrâneo brasileiro, a Smack.

Era um dream team do underground. Além de Pamps, tinha Edgard Scandurra (guitarra e vocal, também do Ira!), Sandra Coutinho (baixo e vocal, também d’As Mercenárias) e Thomas Pappon (bateria, também do Fellini). O primeiro disco foi lançado em 1984, “Ao Vivo No Mosh”, antes do Ira!, d’As Mercenárias e do Fellini lançarem seus respectivos primeiros álbuns. É uma obra significativa, inesquecível, forte e, como se vê ainda hoje, atemporal.

“Ao Vivo No Mosh” é cru e direto, sujo e simples, poético e contestador tanto na reta final da ditadura militar em vigência na época, quanto agora, quando qualquer guri pode pegar uma guitarra, ligar o computador e gravar suas músicas e seu recado. Não envelheceu. Tinta e cinco anos depois, a solidez das suas canções urgentes e viciantes só reforça que pra música sobreviver não é preciso muita firula.

Scandurra, Coutinho e Pappon se juntaram na noite de 11 de abril de 2019 pra tocarem na íntegra o “Ao Vivo No Mosh”. Sem Pamps, claro, mas com Fábio Golfetti, outro guitarra-símbolo dessa geração, fundador do Violeta De Outono. Pra além de uma noite saudosista, escancarada por um brinde de Scandurra “ao pós-punk” e por uma plateia que tinha fácil espectadores na casa do cinquenta, sessenta anos, havia ali a demonstração de imortalidade da arte popular, jovem, com guitarras.

A música pop tende ao envelhecimento depreciativo. Bom sempre é “o novo” – enquanto os mais velhos bradam que defendem que “bom era no meu tempo”. O bom, evidentemente, pode ser a qualquer tempo. Quem está na ativa ainda é tido como dinossauro e não é exatamente um elogio. A garotada quer ver seus pares comandando as paradas de sucesso ou as tendências. Ninguém quer ser como os pais (ou, aqui, como os avós). Acontece que essa indisposição afasta de desfrutar uma apresentação como essa. O que o trio remanescente do Smack fez ao vivo foi pegar músicas que já era indiscutivelmente memoriais e transformá-las em algo ainda mais forte e estrondoso, muito graças à inquietude da guitarra de Scandurra.

Não foram execuções simples de músicas criadas trinta e cinco anos atrás, não pareceu saudosismo in natura, mas uma revitalização, trazendo a obra pro novo século, na medida do possível pra músicos criados três décadas atrás.

Quem foi pra ver “Ao Vivo No Mosh” na íntegra, ganhou também “Noite E Dia”, segundo disco da banda, de 1985, na íntegra e na ordem, faixa a faixa. Só depois veio o primeiro disco, mas fora da ordem, começando com “Nº 4”. A única ordem seguida pela banda foi de “Fora Daqui”, “Fora Daqui, Pt. 2”, “Onde Li” e “Clone”, porque são músicas-coladas, irmãs, quase como a escalação do Santos de Dorval-Mengálvio-Coutinho-Pelé-Pepe, um mantra que sai automaticamente.

Nunca havia assistido o Smack ao vivo. Eu era um pré-adolescente naquela época. E já havia perdido, infelizmente, o show do Voluntários Da Pátria no mesmo CCSP, uma semana antes. Não havia como perder isso. Seria imperdoável. E mesmo com esse espírito de jogo-ganho, o trio (quarteto, com Golfetti se juntando a partir de “Chance De Fuga”) conseguiu me surpreender, procurando trazer o passado pro agora. Não cheirava naftalina, mas leveza e energia. Energia que muito jovem posa por aí sem de fato ter.

A gente aprende com a história, com o que já foi mostrado, cantado e tocado. E se reenergiza com o que nasce todo dia. Não se pode renegar nem o passado, nem desprezar a inconsequência do presente. A música que passa pelo teste do tempo sobrevive pra sempre.

01. Abertura
02. Pequena Dissonância
03. Não Enlouqeça
04. Cavalos
05. Rádio Smack
06. Sete Nomes
07. Desafinado
08. Just Reality
09. Noite E Dia
10. Nº 4
11. 16 Horas E Pouco
12. Desespero Juvenil
13. Mediocridade Afinal
14. Chance De Fuga
15. Fora Daqui
16. Fora Daqui, Pt. 2
17. Onde Li
18. Clone
19. Limite Eternidade
20. Faça Umas Compras

BIS
21. Noite E Dia

“Nº 4”:

“Desespero Juvenil”

“Mediocridade Afinal”

“Fora Daqui” + “Fora Daqui, Pt. 2” + “Onde Li” + “Clone”:

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