SUB POP FESTIVAL NA AUDIO – COMO FOI

Na moderna e gigante Livraria Cultura do Conjunto Nacional, o prédio setentista que fica na importante esquina da Rua Augusta com a Avenida Paulista, André Forastieri recebia os compradores do seu primeiro livro, “O Dia Em Que O Rock Morreu”, lançamento e noite de autógrafos, com fotos, abraços e sorrisos.

O livro, um apanhado de textos e epitáfios sobre nomes importantes da música, indica que a vaca do rock já foi pro brejo. Apesar da deliciosa e divertida leitura do livro, não dá pra concordar plenamente com o autor. O rock não morreu, mesmo no sentido icônico que o escriba atribui, o da subversão, do incômodo, do chute nas canelas. Pra provar, descendo em direção à Barra Funda, na zona leste da cidade, havia um exemplo, o Sub Pop Festival.

Três grupos do elenco de um dos selos mais importantes do mundo (Nirvana sempre resumirá essa afirmação), incluindo um ícone, o Mudhoney, e um estouro, o METZ, mostram que há por onde. Guitarras altas, porrada, diversão insana: nada que os pais gostariam que seus filhos púberes tivessem contato. Estava acontecendo ali, sob nossas barbas brancas.

Mas, claro, pra poucos. Horário ingrato pra uma quinta-feira. Os púberes têm aula no dia seguinte, ora bolas, uma pena. Alguns adolescentes deveriam ver esse tipo de evento. Guitarra em alta rotação e volume, bateria massacrante, gritos e chute no saco fazem bem à sociedade – e por aqui, isso anda em falta. Forastieri tem aí seu argumento. O rock não espanta mais ninguém, não contesta mais nada, sumiu do interesse da juventude (que prefere, entre outras práticas culturais, o funk – esse sim um contestador), sumiu das paradas, sumiu do mapa.

José Julio do Espírito Santo (cuja entrevista aqui você precisa ouvir) esteve lá (na noite de autógrafos e no festival) e conta com exclusividade ao Floga-se como foi o desenrolar da noite. Uma noite em que o tal rock deu as caras.

DIVERSÃO GARANTIDA
Texto: José Julio do Espírito Santo
Fotos: Walkyria Garotti e José Julio do Espírito Santo

No salão maior do Audio, a mais nova casa de shows da cidade de São Paulo, aconteceu o Sub Pop Festival, com três bandas da fabulosa gravadora norte-americana. Enquanto grupos de camisa xadrez aos poucos iam se juntando, a poucos passos de distância dali acontecia a preparação pro xadrez de uma outra estirpe. Seguranças, isopores cheios de latinhas e churrasquinhos de gato quase no ponto aguardavam o tapete vermelho da Villa Country, a casa-irmã monstra e primogênita do conglomerado de entretenimento fundado na Água Branca.

Dia 15 de maio de 2014 – um dia como outro qualquer, recheado de ironias que quase sempre passam desapercebidas. A primeira delas passou a cinco quilômetros dali. Ao mesmo tempo que firmava autógrafos no lançamento do novíssimo livro “O Dia Em Que O Rock Morreu”, André Forastieri se lamentava não poder assistir ao Mudhoney.

O primeiro show se inicia com poucos minutos de atraso e com a casa, que pode abrigar até três mil pessoas, aparentemente com 20% de sua capacidade. Isso não intimidou a banda de abertura – a Obits, quarteto de Nova Iorque, surgido em 2006, quando a banda Hot Snakes temporariamente se desmanchou e o guitarrista Rick Froberg resolveu atravessar a costa e ir morar no Brooklyn.

Cinco anos atrás, quando a Sub Pop lançou “I Blame You”, o álbum de estreia, a banda foi considerada a salvadora do gênero por exagerados críticos de música. No festival, foi convincente o bastante pra ninguém colocar o dedo do meio em riste entre uma música e outra. Com as guitarras de Froberg e Sohrab Habibion, do antigo Edsel, duelando em rifes mais refinados do que o garage rock de seus projetos anteriores, o Obits apresentou faixas de seus três álbuns. Não fez feio.

A expectativa da noite, no entanto, estava na apresentação do METZ. Em 2012, a Sub Pop lançou o primeiro álbum do trio canadense. O disco, que leva o mesmo nome da banda, em maiúsculas garrafais, causou comoção e comparações um tanto descabidas com Drive Like Jehu e Nirvana em seu início. No ano passado, chegou a ser indicado no Polaris Music Prize, o “Grammy” do Canadá.

“METZ” é um disco bom, mas a banda ao vivo é muito melhor. Numa fronteira barulhenta entre o punk e o noise rock, Alex Edkins, Chris Slorach e Hayden Menzies se apresentaram com a voracidade de roubar o show da atração principal. Em parte, conseguiram. Deixaram um indelével tinitus e a sensação de que a noite já tinha valido a pena.

Setlist Metz:
01. Dirty Shirt
02. Knife In The Water
03. Negative Space
04. Get Off
05. Wasted
06. Unknown New Song
07. Sad Pricks
08. Headache
09. Rats
10. Can’t Understand
11. Neat Neat Neat (The Damned cover)
12. Wet Blanket

O Mudhoney subiu ao palco com um ar desanimado em comparação com o METZ, mas o show foi crescendo à medida que tocavam, alternando músicas antigas, como “Suck You Dry”, com faixas do álbum “Vanishing Point”, lançado no ano passado.

Quando tocaram o clássico “Touch Me I’m Sick”, mais uma vez estavam com o jogo ganho. A plateia começa uma sequência regular de stage diving e uma sensação de déjà vu domina a mente.

Tento lembrar quantas vezes já vi o show do Mudhoney. Não consigo. Lembro bem de quando amigos levaram Mark Arm e Steve Turner animadíssimos ao sambódromo em São Paulo, mas não consigo enumerar as vezes que fizeram show por aqui. A pré-gravação de “In ‘n’ Out Of Grace”, já no meio do bis, trazem as ideias pro presente. O público se diverte se ensurdecendo, se jogando e se divertindo com a exibição de peitinhos e de seguranças fora de forma tentando impedir a invasão do palco. A banda que ajudou a criar um estilo endêmico que virou universal num só rife de Kurt Cobain perpetuava o que faz de melhor. Mesmo que já tivesse feito melhor, a diversão foi garantida.

Volta o déjà vu, mas falta o presque vu. O rock morreu como ganha-pão, objeto de estudo, ou instrumento de marketing pra muita gente. Morreu de quê? Ainda não li o livro. Quem tomava mais uma do lado de fora, com a camiseta colada de suor e um sorriso cansado também não havia de saber.

Setlist Mudhoney:
01. Slipping Away
02. I Like It Small
03. You Got It
04. Suck You Dry
05. F.D.K. (Fearless Doctor Killers)
06. 1995
07. In This Rubber Tomb
08. Flat Out Fucked
09. Sweet Young Thing
10. Judgement, Rage, Retribution And Thyme
11. Touch Me I’m Sick
12. What To Do With The Neutral
13. I’m Now
14. The Final Course
15. The Open Mind
16. I Don’t Remember You
17. Next Time
18. Chardonnay
19. The Only Son Of The Widow From Nain

BIS
20. Here Comes Sickness
21. When Tomorrow Hits
22. In ‘N’ Out Of Grace
23. The Money Will Roll Right In (Fang cover)
24. Hate The Police (The Dicks cover)
25. Fix Me (Black Flag cover)

Veja a banda mandando “Touch Me I’m Sick” (mais do autor):

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