THE MARY ONETTES NO SESC VILA MARIANA – COMO FOI

Decepções dependem de expectativas, é claro. Por algum motivo inexplicável, coloquei na minha cabeça, após alguns anos de razoável imersão na obra dos suecos do Mary Onettes, principalmente nos dois únicos discos lançados, “The Mary Onettes”, de 2007; e “Islands”, de 2009; que ao vivo eu iria encontrar algumas camadas de guitarras e pedais, aquele lance dream pop, com caracterizações de Echo & The Bunnymen e The Cure. É o que se ouve em disco, certo?

Mas parece que a alfândega brasileira reteve o “dream” e deixou a banda passar só com o “pop”. Não que “pop” seja algo ruim, longe disso. E das promessas feitas em disco, pro que se vê ao vivo, há de se dizer que os suecos lambem as botas do The Cure (de “Kiss Me Kiss Me Kiss Me” pra frente). Talvez fosse isso que muita gente tenha pagado ingresso pra ver.

Entretanto, eis o problema. O Mary Onettes é bem mais do que isso nos seus registros de estúdio. E ao vivo, além de se afastar do que gravou, também se contenta em ser um “The Cure piorado”, ou um retrato de como Robert Smith teria sido se todos os seus amores da juventude tivessem dado certo. As FMs e as novelas da Globo ganhariam mais uma banda pra suas trilhas sonoras.

O vocalista Philip Ekström disse recentemente, por conta do lançamento do novo EP da banda, “Love Forever”, em 2012, que andava ouvindo muito Prefab Sprout e músicas românticas. Seria esse o motivo de fabiojuniorização do Mary Onettes?

O que se viu no SESC Vila Mariana, na noite dessa quinta-feira, dia 20 de setembro de 2012, foi uma banda com trejeitos românticos, com impressões sonoras românticas e uma felicidade astral que não combina com o histórico desse tipo de música.

É algo que se espera de bandas como o atual Snow Patrol e o Athlete (de quem gosto muito, porque se propõe exatamente a fazer isso, sem meias palavras, embora tratando o “amor” com o senso desesperador que se exige), mas que eu, talvez inocentemente, não esperava do Mary Onettes.

Sem camadas de guitarras e num espaço onde todos deveriam ver o show sentado, o espetáculo começou frio e demorou pra engrenar – e engrenou bem pouco. O teatro do SESC Vila Mariana é belo, baita estrutura, som límpido, mas não é o melhor lugar pra esse show (sorte de quem vai ao Coquetel Molotov, em Recife: lá deverá ser uma apresentação bem mais “quente”, com uma ligação público-banda mais forte).



Tudo parece de uma coxice sem tamanho aqui. Pouca coisa se salva. A postura de palco de Philip Ekström é tímida e contagia toda a banda. O baterista Simon Fransson ainda tenta imprimir um ritmo mais forte, batendo com vontade no seu kit, mas faltam aquelas camadas que ouvimos nos discos, então tudo soa um tanto esquálido.

Imagino uma banda nacional, tocando dessa forma e cantando em português. Seria execrada, não sem motivo, até porque acho que os capitais iniciais da vida já o fizeram com menos pudor e mais sucesso.

Com Ekström (o Philip, já que o baixista, Henrik, é seu irmão) tentando uma comunicação direta com a plateia, o gelo foi se quebrando. Algumas pessoas gritavam: “quero dançar”. Outras levantaram pra dançar (ou imitar aqueles bonecos de vento que ficam defronte a milhares de mecânicas país afora) nos cantos do teatro. Não era local, nem banda pra isso. Mas ajudou a deixar o show menos quadradão. Os silêncios entre as músicas, algo que visivelmente causava estranheza nos suecos, foi rareando e os aplausos e brincadeirinhas da plateia foram tomando mais espaço.

E quando, mais ou menos a partir de “Void” e “A Breaking Heart Is A Brilliant Start”, o negócio esquentou, já foi preciso dar uma pausa pro bis, que veio com “Lost” e uma dispensável apresentação ao violão pra “Pleasure Songs”.

A banda está visivelmente empolgada com essa passagem pelo Brasil. Mas pra empolgar seu público, precisava cumprir o que promete em disco. O que se viu, porém, foi um sub-The Cure (se analisado com muita boa vontade) ou um Snow Patrol sem a pujança dos espetáculos em estádio. Ou como dizem por aí: é um som coxinha demais.

Daqueles momentos em que o excesso de amor leva à decepção.

01. Once I Was Pretty
02. Dare
03. Century
04. Explosions
05. The Night Before The Funeral
06. Henry
07. Slow
08. Puzzles
09. Love’s Taking Strange Ways
10. Void
11. A Breaking Heart Is A Brilliant Start
12. God Knows I Had Plans
13. Evil Coast

BIS
14. Lost
15. Pleasure Songs

Veja como foi “Century”:

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Comentários

comentários

8 comentários

  1. Nossa, acho que não vemos o mesmo show então!
    O último álbum da banda não me agrada por estar menos post-punk e mais pop, agora dizer que o show foi coxice? Deus do céu, foi incrível principalmente nas músicas dos 3 promeiros álbuns.
    Aliás, todo mundo que conversei gostou bastante, ainda bem!
    E antes que venham os cricas falar que sou fã xiita, não sou mesmo. Estou apenas dando a mminha opinião que como de MUITOS que viram, é contrária a do blog.

  2. ooops, de novo (dá pra condensar tudo num post só?) classifiquei como álbuns os EPs e singles tb. Quis dizer que não me agradou o último EP, o “Love Forever”.

  3. Vendo o vídeo senti uma falta de “peso” no som também. Mas longe de flertar com Snow Patrol ou coisa do tipo, esse vocal se esgoela demais (vejo isso como positivo). Agora… ver esse show sentado deve ter sido uma sensação terrível. Acabaria com a minha generosa disposição de me mexer da cintura pra cima.

  4. O Show foi realmente muito bom!! Não senti frieza nao, senti uma banda com muita influencia de The Cure mas sem ser uma copia barata. O Som estava otimo e o show foi redondinho!!

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