THE WEDDING PRESENT NA SALA APOLO – COMO FOI

Nunca imaginei que fosse ver um dia o Wedding Presente ao vivo. Não por pessimismo ou descrédito com o destino, mas por conta da colocação da banda na mídia “especializada” brasileira, que sempre a tratou com certo desdém, o que fatalmente contamina os nada ousados promotores brasileiros, sempre atentos ao que as Pitchforks da vida enaltecem.

Mas tive sorte e consegui vê-los na Sala Apolo dois, uma pequena sala de concertos em Barcelona, que abrigou algumas apresentações gratuitas do Primavera Sound 2017, antes, durante e depois do festival.

Tive tal privilégio. O espaço, que aparentemente suporta trezentas pessoas, é bastante confortável: fica ao lado do metrô (vinte metros, se muito, embora as apresentações tenham começado APÓS o fechamento das operações do transporte público, o que pode parecer um tanto bizarro – mas em Barcelona, porém, voltar caminhando à noite não é exatamente perigoso), não há filas, o preço das bebidas não é abusivo e o som é redondo.

Na plateia, poucos fãs locais e muitos ingleses – talvez porque a banda seja habituée do festival e da cidade, vive por aqui e aparece em toda edição do Primavera, como o Shellac. Mesmo assim, a plateia delirou com cada nota da apresentação. Mas antes teve que ouvir o som minimalista da banda catalã Retirada!, dupla com dois discos na carreira, “Inevitable” (2014) e “Victoria/Derrota” (2016), e que arrancou aplausos protocolares.

A turma de David Gedge subiu ao palco já mandando “Scotland”, peça instrumental do seu mais recente lançamento até ali, o EP “The Home Internationals” (2017, veja aqui), o que fez a turba delirar, a despeito de conhecer ou não a canção.

Mas o show faz parte da turnê comemorativa de trinta anos do lançamento de “George Best”, álbum de estréia, de 1987, que faz par com “Bizarro”, de 1989, como os dois melhores que a banda produziu, e logo na segunda música a audiência foi presenteada com “Give My Love To Kevin”, versão eletrificada (a acústica é ainda melhor), o que resultou em coro e braços levantados em comunhão.

O show demorou apenas uma hora. Uma mísera hora. Mas foi tempo suficiente pra ainda mais um clássico pra todas as gargantas berrarem juntas, “Brassneck”, e pra outras do citado EP e do “Going Going…”, bom disco de 2016.

Gedge e sua turma parecem um tanto blasés e displicentes no palco. Fazem sua apresentação cono se tocassem no estúdio caseiro, pra ninguém. Podem incomodar quem já viu alguma vez ou quem tem a possibilidade de assistir a qualquer momento. Só que pra almas de outro continente, de outro hemisfério, a oportunidade se sobressai a isso. Fica a sensação de proximidade com memórias de uma época em que ver suas bandas preferidas ao vivo era praticamente impossível, um sonho distante, um devaneio.

Já vi algumas das minhas preferidas, mas outras vão escapando, sem perspectiva, mesmo elas em plena atividade criativa. Ver o Wedding Present foi como cumprir um dever, porém ajuda a nos mostrar que ainda estamos muito distantes da oferta desejada em nossa casa. O mercado é muito restrito e é regido por noções ainda mais restritivas – quem veria, afinal, o Wedding Present no Brasil? Bom, eu estaria lá de novo, por certo.

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