UMA NOVA VISÃO: STONE TEMPLE PILOTS EM SÃO PAULO – COMO FOI


Foto por Lucas Lima (UOL)

O show foi descrito por aí com um bocado de adjetivos desonrosos. Aparentemente, ninguém da “crítica especializada” gostou do que viu. Mas “crítica especializada”, sempre adornada com aspas porque não sei o que o termo quer dizer, é um bando de gente mal humorada esperando brindes e regalias de assessorias de imprensa ou coisa que o valha. Ou fala bem ou não fala bem, simples assim. É difícil ler críticas isentas.

Mas vá lá que temos nossas exceções. Por isso, pra uma nova visão, o Floga-se recorre aos fãs. Eles podem ser xiitas na maioria das vezes e, por isso, tendenciosos, mas entre a frieza e a distância operacional do profissionalismo e a cegueira da paixão de fã, fico muitas vezes com a segunda. Ou melhor, é bom sempre ficar com ambas. Não há verdade, certo?

Aqui, o fã. Um texto escrito com primazia por Leandro Osrolini (@leandrooduarte). O show aconteceu dia 9 de novembro, quinta-feira da semana passada, no Via Funchal, em São Paulo.

Nunca é tarde pra se curvar…

STP: BANDA DE BAR

O termo é do @ricardolilo, fã de elevada estirpe, dito no final do show do Stone Temple Pilots, quinta, dia 9, no Via Funchal. E é essa mesmo a imagem que me veio: a do filme Matador de Aluguel (Road House, EUA, 1989), em que o Patrick Swayze é o leão de chácara de um bar de beira de estrada, onde o Jeff Healey toca atrás de um alambrado, pra evitar que joguem garrafas de cerveja no palco. Coisa de macho, sem a conotação sexista, por favor.

Esse é o STP: uma banda de bar. Os caras são roquenrou. Simples assim. Confesso que eu mesmo, que sou fã há mais de 15 anos, imaginava que o show teria muito mais complexidade, que os arranjos dos discos não sairiam ao vivo sem alguns samplers e efeitos. Fora o fato de eles serem fashion, sempre de terno e blazer estilosos. Nada disso. São só os quatro caras, tocando sério, tirando cada som com competência de gente madura. Em resumo, roquenrou.

Depois de 18 anos (e quase nove sem tocar juntos), não só deram conta do recado, como superaram todas as expectativas. O pior comentário que ouvi no final foi do tipo “um dos melhores shows do ano”. Daí pra cima. Não ficaram velhos, não estavam cansados, não perderam a mão.

Aliás, o disco de 2010 é prova disso. Ao contrário de muitas bandas que retornam e se tornam covers de si mesmas (como foi o melancólico caso do Alice in Chains), o STP mostrou que ainda sabe fazer a coisa. Não é uma obra-prima, mas é um disco legítimo, tanto que os poucos sons que mostraram ao vivo já estavam na ponta da língua da galera. E ao vivo já parecem novos clássicos.

O show foi pra fãs. Pudera: a banda estourou em 92, emplacou alguns dos melhores discos e sons da década, se separou, voltou e nunca tinha vindo ao Brasil. Os 6 mil cascudos presentes cantavam todos os sons, e a cada rife inicial… “caraca, agora é essa!”. Acontece que, pra nós, todas eram “essa”. Fizeram um apanhado de todos os álbuns que agradou a maioria. Faltou “Big Bang Baby”, que eu tinha certeza que rolaria. Mas “Plush” fez o papel de ápice. Poucas vezes vi um hit ser recebido com tanta comoção. Emocionante.

Desde o pessoalzinho da Pista Premium, no gargarejo, até os que estavam lá atrás, mais contemplativos, todos cantavam e socavam o ar no ritmo certo durante uma hora e meia. Eram 6 mil coesos, sintonizados, como que indo à forra desses quase 20 anos de ausência e expectativa, agravados pelas vezes em que os boatos da vinda da banda não se confirmavam e, pior, das confirmações que eram canceladas.

Aliás, por falar em simplicidade, o pano de fundo do palco era mesmo um pano, com nada mais que um spot direcionado pra ele o tempo todo. Claro que com o logo da banda desenhado por Shepard Fairey, o designer que assinou o famoso cartaz da campanha do Obama (esse aqui: http://www.coolhunting.com/culture/shepard-fairey.php). E os quatro na frente, fazendo só o que sabem fazer. E foi suficiente.

O som é muito mais pesado ao vivo que em estúdio. Muito mais. Banda californiana, a gente já conhece as influências (Doors, Led, Bowie, até Beatles), mas ao vivo soa mais o lado Sabbath. O Dean DeLeo é da mesma classe de guitarristas do Tony Iommi: pesado, lento, preciso, dado a bizarrices e riffs simples e harmônicos. O jeito de tocar me lembrou muito o Dave Navarro.

O Robert DeLeo, baixista, irmão do Dean, me lembrou o Flea. Agita no palco, toca muito e segura as músicas indo muito além da marcação rítmica, fazendo arranjos importantes. O batera, Eric Kretz, é correto. Perfeito.
Já compararam os caras ao Pearl Jam e ao Alice in Chains. Claro que tem a ver, pois todos surgiram das expectativas de uma mesma época, algo maior que movimentos locais, como o grunge. E lembram também Red Hot e Jane’s Addiction em alguns detalhes, como também as bandas dos anos 70. Todo mundo ouve tudo, afinal. Como negar a influência?
Mas uma banda começa a ser levada a sério na medida em que qualquer influência que se perceba comece a ser vista mesmo como apenas isso, referência para a criação de um estilo novo, um fusion de tudo com nova marca registrada. E o STP tem essa credibilidade, com certeza.

Mas e o Scott Weiland? Ele é a síntese de tudo isso: um cara sério, sem muitas gracinhas com a platéia, nada de “I love you, Sao Paulo”. Com seu terno sob medida, fica totalmente confortável. O fashion não compromete o peso do som. É isso: ele lembra muita coisa, mas nada se parece com ele. Pop star com muito menos frescura do que poderia ter!

Foi muito bom poder se surpreender com algo que a gente já conhece há 20 anos.

01. Crackerman
02. Wicked Garden
03. Vasoline
04. Heaven and Hot Rods
05. Between The Lines
06. Hickory Dichotomy
07. Still Remains
08. Cinnamon
09. Big Empty
10. Dancing Days (Led Zeppelin cover)
11. Silvergun Superman
12. Plush
13. Interstate Love Song
14. Huckleberry Crumble
15. Down
16. Sex Type Thing

BIS
17. Dead & Bloated
18. Trippin’ On A Hole In A Paper Heart

“Wicked Garden”:

Que tal ouvir e ver “Dead & Bloated”?

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