UMA NOVA VISÃO: LOLLAPALOOZA 2011

Acho que a Internet inteira já publicou coisas sobre a edição de 20 anos do Lollapalooza, que aconteceu final de semana passado. Shows na íntegra, mas com textos de quem certamente não esteve lá e viu tudo pelo YouTube.

O Floga-se foi por um caminho diferente, com a colaboradora Ana Carolina Ferraz, brasileira moradora na Terra do Obama: simplesmente esteve lá. No delicioso texto abaixo, ela conta como é participar de um festival desse porte. Onde se hospedou, como é a organização, o respeito ao público, fala da famosa chuva que caiu domingo e sua visão dos shows.

Todas as fotos e vídeos são de autoria dela – e muitas fotos estão no tumblr da moça, o Multi Colored Noises, que você deveria visitar.

PERRY FARRELL CRIOU UM MONSTRO
Fotos, vídeos e texto: Ana Carolina Ferraz

Vou falar um monte de coisas repetidas, porque não tem como ser diferente: o Lollapalooza é super organizado, a qualidade do som é perfeita, o layout do lugar é claro, é fácil de chegar, a pulseira com o chipe torna a entrada muito mais rápida, eles tomam algumas medidas bem inteligentes pra diminuir a quantidade de lixo, eles dão água de graça etc. (N.E.: esse abre pode parecer sem sentido no resto do texto, já que ela escreveu isso diretamente pra mim, sem ligação com o corpo da matéria, mas fiz questão de colocar porque dá uma ideia de como o público é tratado)

Viajei de Seattle pra Chicago porque pra mim o lineup era imperdível. São mais de três horas de voo e eu nunca tinha ido a Chicago antes. Como meu telefone não tem GPS, anotei umas coisas do Google Maps e pensei que se me perdesse era só pedir informações, como pessoas normais faziam uns quatro meses atrás. Quando decidi ir, já em maio, tinha apenas o lote mais caro (US$ 215,00) do passe pros três dias, o HI (rede de albergues que costumo ficar) estava lotado e os hotéis do centro estavam lotados ou os preços eram exorbitantes. Achei um albergue com nome grego, a vinte minutos do parque, e quando cheguei lá, vi que se tratava de um pedacinho da cidade chamado Greektown, super simpático e com ônibus pro festival bem na esquina. Dei sorte.

Chegar num lugar assim é sempre chocante, tudo é gigante, bonito e tem aquela fonte maravilhosa no meio do parque. Estava um calor infernal em Chicago. Não sei precisar o número exato no termômetro mas todas as pessoas estavam derretendo, eu incluída, claro. Meu primeiro dia foi todo em um lugar só, o Bud Light, um dos dois palcos principais que ficavam em cantos opostos do Grant Park. Perto do Bud Light, tinha o Playstation e esses palcos se revezavam nas apresentações e dava pra ouvir claramente o que estava acontecendo em um mesmo se você estivesse no outro esperando pela próxima banda (o mesmo acontecia com os palcos Sony e Music Unlimited). Ajuda a distrair nos longos intervalos de uma hora mas também, enfim, é a razão dos longos intervalos, então eu comecei a detestar o Playstation à medida que meus calcanhares começaram a doer bastante.

Sexta-feira teve The Kills, Bright Eyes e Coldplay, um atrás do outro; e apesar de gostar muito do último (disco) do Kills, o “Blood Pressures”, a estrelinha de show mais legal do dia fica com o Sr. Conor Oberst e sua banda.


The Kills

Bright Eyes é forte, tem um coração sangrando e fica muito muito bom com aquela amplificação toda. Eu não sabia exatamente o que esperar, não sou fã da banda, não conheço toda a discografia. E acho que isso faz ainda mais diferença. Seria fácil dizer que gostei do Kills porque sabia todas as letras, a Alisson Mosshart estava sorridente e falante (bem diferente de quando a vi com o Dead Weather) e foi tudo certo. O Bright Eyes desestabilizou com o elemento-surpresa. E a penúltima foi “Road to Joy”. Não, não importa se (vou estimar) trinta mil pessoas estão derretendo e querendo se divertir, vou falar sobre estar deprimido e tudo ser ruim. Foi o que ele fez e pelo menos as pessoas ao meu redor não se importaram nem um pouco com isso.


Bright Eyes

Coldplay todo mundo viu, foi um show. Os lasers, os telões, o vocalista carismático usando cada item do Livrinho do Rockstar pra agradar toda aquela gente. Quem viu pelo YouTube e ficou impressionado com o tamanho do público, pense que do outro lado tinha tantas pessoas quanto, vendo o Muse. Como sou apenas uma e não possuo um clone, não posso falar absolutamente nada do outro headliner que, junto com o Coldplay, foi responsável pelo recorde de público entre todos os primeiros dias de Lollapalooza nesses vinte anos.

Não preciso dizer que demorou muito tempo pra sair do Grant Park depois das dez da noite. Mas todo mundo saiu, não teve confusão. As pessoas estavam exaustas demais pra brigar. Descobri que sair assim com a multidão e por um lugar diferente do que entrou no começo do dia deixa pessoas atordoadas. Me perdi um pouquinho mas fiz uma amiga incrível que me ensinou a chegar em Greektown bem rápido.

Sábado, eu tive tempo de explorar mais. Na praça central do Grant Park, além das tendas vendendo bebidas (US$ 2,00 cada garrafa de água, US$ 3,00 Red Bull, cerveja…), tinha um guarda-volume, uma casinha com ventiladores grandes com gotinhas de água pra se refrescar, as tendas pra encher as garrafas que você já tinha comprado ou que trouxe com você. As filas eram grandes porque ninguém queria morrer desidratado mas, novamente, sem confusão alguma. Tinha uma feira pra quem queria manter uma dieta saudável durante o Lolla, tinha caixa gigante da Adidas que eu não entrei, tinha o Kidzapalooza, um palco com atrações só para os pequenos. E estava bem cheio.

Fui caminhando tranquilamente pro Bud Light, vi o róquenrou dos Disappears e tive um intervalo longo até a próxima atração que me interessava (Lykke Li). No meio tempo, vi coisas ruins que não vale a pena comentar. O show da sueca com carinha de boneca foi cheio de percussão, mudanças nas melodias e ela com uma atitude bem sassy. Outro lançamento ótimo desse ano, o “Wounded Rhymes” dela, fica tão ou mais legal ao vivo. Ainda por cima reinventou as antigas que as pessoas amam, tipo “Dance Dance Dance”. Tocou também um cover do The Drifters, “Please Stay, Don’t Go”. O show dela passou muito rápido, mal acreditei quando Get Some começou. Não fiquei pra nenhum dos headliners de sábado (Eminen de um lado, My Morning Jacket do outro), fui pra um lugar chamado The Hideout ver The Head And The Heart.


Disappears

Domingo, também conhecido como Apocalipse, começou frustrando meus planos de explorar o centro de Chicago antes de cruzar a entrada do Lolla. Chovia. Chovia muito. Dois vendedores ambulantes pediam cinco dólares por uma capa de chuva de um plástico bem fino. As meninas ainda passeavam de shorts e camisetas como se fosse sexta-feira. Me abriguei sob uma marquise em frente ao parque, fiquei observando as pessoas e ouvindo música.

Eventualmente a chuva deu lugar ao sol mais forte do mundo e eu já estava chamando o clima de Chicago de esquizofrênico sem saber o que me aguardava. Vi The Joy Formidable sendo essa mistura de fofura e barulho, com a vocalista e guitarrista Ritzy Brian quebrando tudo e jogando sua guitarra em um gongo (!), com um vestido rosa no final. Set curtíssimo, talvez por causa do calor, não sei. Sei que terminaram quinze minutos antes, o que é bastante.


The Joy Formidable

Depois veio Noah And The Whale, com seus ternos e violino. Charlie Fink e aquela voz que não combina com ele, a maioria do setlist composta por canções do “Last Night On Earth”, com uma ou outra dos outros álbuns intercaladas. Bem legal.

Atravessei o parque e pela primeira vez fui pro palco da Sony. O Pains Of Being Pure At Heart estava encerrando e a ideia era ficar por ali tentando encontrar um bom lugar pro Explosions In The Sky, que
começaria em quatro horas. Teria Portugal. The Man e o áudio do Arctic Monkeys vazando do Music Unlimited nesse meio tempo. Portugal. The Man, ao contrário da Lykke Li, tocou por quatro horas. Pelo menos foi o que eu senti. Na penúltima música deles, começou a chuviscar. Eu, inocentemente, não vi nada demais nisso. Apesar do show infinito, fiquei triste por terem roubado todo o equipamento deles. Que prejuízo.


The Pains Of Being Pure At Heart

O chuvisco virou temporal muito rápido. Eram 17:30h, Arctics marcado pras 18 e Explosions pras 19. A melhor maneira de descrever a experiência é: fiquei debaixo de uma ducha muito forte e gelada por vinte e cinco minutos. De calça jeans, camiseta e botas. O Arctics começou quase vinte minutos atrasado e, consequentemente, o Explosions também.


Arctic Monkeys

Eles disseram “a gente vai dar uma hora de róquenrou pra vocês em quarenta e cinco minutos”. Foi minha segunda vez vendo Explosions In The Sky num período de pouco mais de duas semanas. Eles foram um dos motivos que me fizeram ir pro festival e mesmo se eu não gostasse de mais nenhuma outra banda, teria sido um ótimo investimento só por causa deles. Qualquer descrição que tentem fazer não consegue abarcar a experiência do show. Fecharam com a “The Only Moment We Were Alone” mais violentamente linda de todos os tempos.


Explosions In The Sky

As pessoas saíram com caras de zumbis, sem saber o que fazer depois daquilo tudo. Eu fui andando meio inconsciente pro meio do lamaçal (claro que depois da chuva virou uma coisa Glastonbury com pessoas mergulhando na lama), vi o Dave Grohl no telão, tirei algumas fotos dos arredores e quando estava recobrando os sentidos pra voltar pro albergue, começou o temporal novamente. Me abriguei numa das tendas de bebidas contra a vontade da mocinha que estava vendendo as coisas.

Ouvi “My Hero” de longe, a chuva deu uma trégua, saí correndo em busca de um táxi mas todos estavam ocupados, andei, andei, dei de cara com a linha azul do metrô quase acidentalmente e cheguei em Greektown, em estado de calamidade pública, bicolor e com um sorriso gigante que até agora não foi embora por completo.

Na manhã seguinte, fui pro aeroporto e mal cheguei em Seattle já tinha e-mail dizendo que ano que vem Lollapalooza começa dia 3 e termina dia 5 de agosto. E eu, ainda com minhas botas úmidas e cheias de lama e dores em todos os músculos, pensei automaticamente: “vou comprar o ingresso early bird e pagar US$ 60,00 pelos três dias”.

Perry Farrell, você criou um monstro.

Dois vídeos…

The Pains Of Being Pure At Heart, “The Body”:

Disappears

Leia mais:

Comentários

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6 comentários

  1. […] O Joy Formidable, trio formado em 2007 no País de Gales, chamou atenção em 2009, com o lançamento do seu mega-EP “A Balloon Called Moaning” (o embrião de “The Big Roar”), por conta das explosões de fúria das canções contrastando com a voz refinada de Bryan; mas principalmente pelas apresentações ao vivo, que culminavam com um esporro homérico de mais de dez minutos, com direito a guitarra sendo despedaçada num enorme gongo (normalmente com o “Austere” – vale ler o relato do show explosivo no Lollapalooza Chicago 2011). […]

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