Esse foi um festival feito de escolhas. E, como em boa parte das escolhas, é possível errar, é possível acertar. As escolhas de cada um fizeram o festival de cada um, pro bem ou pro mal. E, por isso mesmo, você lerá por aí análises pessoais tão diversas sobre o evento.
Uma aposta é que quase todas serão carregadas de suspiros de satisfação, poucos de arrependimento. Isso porque a própria organização fez boas escolhas – que acabaram por, de novo, pro bem ou pro mal, influenciar as escolhas de cada um dos cento e quarenta mil fãs de música que foram ao Autódromo de Interlagos.
Não era pouca a desconfiança com o formato novo sugerido pelo Lollapalooza, após duas edições conturbadas e uma relação meio truncada com o público brasileiro. Mas, depois dos erros, os acertos. A edição 2014 foi aprovada com louvor: local, estrutura, organização e até mesmo escalação (se tivermos boa vontade). Se há o que reclamar, há bem pouco.
Embora longe do centro da capital paulista, o Autódromo de Interlagos foi uma escolha ousada, mas acertada. Pra começar, é bem servido de acesso. Fiz três experiências e as três funcionaram a contento. No primeiro dia, fui e voltei de metrô (linhas Verde e Amarela) e trem. Demorei uma hora e quinze (saindo da Chácara Klabin – na volta, uma hora e meia). Na chegada à estação Autódromo, a visão era do caos: muita gente pra pouco espaço, um mar de pessoas caminhando ladeira acima pra percorrer os dois quilômetros até a entrada principal do evento.
Na entrada, decepção: fila, muita fila. Eram duas e meia da tarde e caminhei, caminhei, caminhei até encontrar o fim da fila de entrada. Foram quatro quilômetros e demorei uma hora e meia pra entrar (um quadro que se agravou com os espertinhos que adoram furar uma fila, coisa tipicamente de brasileiro – ou de babaca mesmo). Certamente não foi o melhor cartão de visitas.
Uma vez lá dentro, mais filas. A ideia era seguir direto pra Chef’ Stage, comer algo e ver algum show. Uma baita sacada essa do Chef’ Stage, uma tenda com duas dezenas de barracas de boa comida, o que fez muita gente achar que foi o “palco” com melhor escalação do festival (numa cidade onde tudo é “gourmet”, por que não um festival com essa frescura?).
Porém, ali havia mais fila, mais quarenta minutos pra comprar fichas. Mas logo os acertos começaram a dar na vista, da grandiosidade do local à boa estrutura, passando pela, digamos, sutileza das ações de marketing, que a exemplo da Lei Cidade Limpa que impera na cidade, não massacrava os olhos dos visitantes com marcas e mais marcas (como é no Rock In Rio).
Um dos pontos acertados do festival foi justamente algo que o Floga-se pede que os organizadores de qualquer evento desse porte façam: que não se economize nas maneiras e ofertas de facilidades pra atender o cliente.
Ótimo: havia muitos caixas, muitos banheiros e muitos pontos de bebida e comida. A oferta era suficiente, mas ainda havia filas porque há gargalos que fogem à mão da organização: mão de obra deficiente e a incapacidade do brasileiro em respeitar o próximo – seja na hora de se organizar em filas, seja na hora de utilizar áreas públicas como os banheiros (os das mulheres, como se costume, ficaram rapidamente impraticáveis).
E sábado foi um dia insuportavelmente cheio. De acordo com a organização, oitenta mil ingressos foram vendidos. Parecia muito mais. Eu diria que cem mil, no mínimo (é uma sensação, não uma afirmação). Vários pontos intransitáveis entre os palcos e muita gente se acotovelando nos principais shows, apesar do amplo espaço. Tá na cara que foi um equívoco vender tudo isso de ingresso, em detrimento do “conforto” mínimo dos presentes.
Entretanto, não só a escolha do Autódromo foi um acerto, como a disposição dos palcos merece crédito. Construídos em “baixadas”, os barrancos acabaram formando anfiteatros naturais (com exceção do Palco Interlagos), de modo a permitir que o público que não quisesse se embrenhar na muvuca pudesse ver seus artistas a uma boa distância, sentados na grama, confortavelmente (na medida que sentar na grama possa ser considerado algo confortável).
Mantendo pra 2015 esse modelo, é preciso, pois, acertar o som. Se o som não vazava de um palco pra outro, já que eles eram bem distantes uns dos outros, também não vazava pra quem estava de frente pra eles, atrás das mesas de operação.
Muita gente falou do tal “som de radinho de pilha”. Não há definição melhor. Não era preciso se afastar muito da frente de qualquer palco pra se dar conta da palidez do áudio. Perto dos palcos, não houve vento que tirasse a força do que saía das caixas, estava tinindo, claro e operante, mas pra quê fazer um festival desse tamanho e entregar o produto final, que é a música, apenas pra uma pequena parcela, aquela que se posiciona no centro nevrálgico?
Outros erros: falta de sinalização, falta de lixeiras, poucas áreas de sombra e não ofertar wi-fi gratuito (não é um pedido de outro planeta). Parece pouco, mas não é. Ao final do dia, a sujeira era de embrulhar estômago. Custa espalhar mais lixeiras pelo local? Sorte que não caiu uma gota de chuva. Se chovesse, seria o inferno de lama e sujeira. Melhor nem pensar na possibilidade.
E com tantas filas enfrentadas, pouco foi possível ver – mas também não fiz muito esforço pra isso. Com distâncias enormes entre os palcos, era preciso escolher previamente um roteiro, descartando as demais possibilidades. Desistir no meio de um show pra ver outro seria como desistir dos dois.
A escala dessas distâncias é algo a se pensar pra próxima edição. As pessoas não podem ficar engessadas num evento desse tamanho: o grande barato é conhecer novas bandas, circular, se deparar com o novo ou com o inusitado e tendo que se decidir previamente, baseado na agenda oficial, faz com que as pessoas naturalmente busquem aquilo que elas conheçam mais em detrimento das novidades. Com distâncias menores, é possível flexibilizar essa escolha prévia e dar espaço pra ousadias pessoais, pingando de um palco pro outro, vendo trechos grandes de vários artistas. Não gostou do que está vendo, vai pra outro. No Lolla 2014, isso era praticamente impossível, sem que se perdesse boa parte das apresentações em deslocamentos.
Quando entrei no autódromo (depois das horas de deslocamento e filas), dei de cara com um chatíssimo Café Tacvba no Palco Interlagos. Insuportável pelos breves minutos que tive que ouvi-los, eu tinha a opção de atravessar o festival e ver o Cage The Elephant “dar uma de Iggy Pop”, o que foi dispensável, ou parar no meio pra ver o Julian Casablancas ser a vergonha do festival. Escolhi beber e comer no Chef’ Stage até a hora do Portugal. The Man.
Setlist Cage The Elephant:
01. Spiderhead
02. In One Ear
03. Aberdeen
04. Back Against the Wall
05. Take It Or Leave It
06. Halo
07. Cigarette Daydreams
08. Ain’t No Rest For The Wicked
09. It’s Just Forever
10. Teeth
11. Come a Little Closer
12. Shake Me Down
13. Sabertooth Tiger
Veja o show (de “Take It Or Leave It” a “Cigarette Daydreams”):
Setlist Julian Casablancas:
01. Ego
02. 2231
03. Ize Of The World (The Strokes cover)
04. Biz Dog
05. River Of Brakelights
06. Dare I Care
07. 11th Dimension
08. Take It Or Leave It (The Strokes cover)
09. Glass
10. Where No Eagles Fly
Veja “11th Dimension”:
O show do Portugal. The Man foi tão esquecível quanto dispensável. Durante aquela hora que estive em frente aos estadunidenses, foram poucos os minutos que eles conseguiram chamar minha atenção. Na maioria das vezes por conta do som baixíssimo que variava com o vento. Era do tipo “que os bons ventos não tragam de volta…”.
O pior é que em disco a banda é bacana, eficiente com seu psicodelismo de FM – e até deveria funcionar num festival desse porte, ao por-do-sol (lembra do Band Of Horses na primeira edição?), mas não bateu e, salvo os fãs xiitas que certamente irão discordar, foi uma das decepções num dia que havia pouco pra se ver.
Setlist Portugal. The Man:
01. Purple Yellow Red and Blue
02. All Your Light (Times Like These)
03. Day Man
04. Evil Friends
05. So American
06. People Say
07. Atomic Man
08. Modern Jesus
09. Hip Hop Kids
10. Creep In A T-Shirt / Someday Believers
11. Another Brick In The Wall (Pink Floyd Cover)/Purple Yellow Red And Blue Reprise
Depois, a maior curiosidade era tentar entender o “fenômeno” Lorde.
Muitas crianças e adolescentes ao redor, o que sempre é ótimo num festival desses. A neozelandesa Ella Marija Lani Yelich-O’Connor é uma espécie de Bjork inocente e púbere, tenta ser cabeçona como a islandesa, mas a idade e a falta de experiência a travam. Em cima do palco, apenas com um baterista e um programador, seu vozeirão consegue segurar a onda, mas o palco ainda é grande demais pra ela.
Se houvesse de fato uma comparação imediata com Lana Del Rey, como alguns tentam, diria que Lorde ganha a luta com louvor. Sua plateia tão inocente quanto ela talvez não consiga perceber – ou não se importe – com a falta de traquejo da adolescente em cima do palco. Ela parece envergonhada, está tímida demais, tem pouco repertório.
Tirando “Royals”, o grande hit, sobra pouco, mas o que sobra ainda é possível se encantar, principalmente se você tiver onze, doze, quinze anos. Dá pra dizer que pra essas crianças foi um bom jeito de começar a relação com a música em festivais.
Se Lorde tem futuro ou não, melhor não arriscar (melhor nem torcer por isso), mas tomara que ela sirva de trampolim pra esses adolescentes ouvirem coisas melhores.
Se bem que seria melhor que as crianças começassem com… Nine Inch Nails.
Setlist Lorde:
01. Glory And Gore
02. Biting Down
03. Tennis Court
04. White Teeth Teens
05. Buzzcut Season
06. 400 Lux
07. Easy (Son Lux cover)
08. Ribs
09. Hold My Liquor (Kanye West cover)
10. Royals
11. Team
12. A World Alone
Veja “A World Alone”:
Um dos objetivos de sábado era ver o Nine Inch Nails, pra colocar um pouco de barulho e salvar o dia, num momento em que o cansaço batia forte. Já era noite, um certo vento gelado soprava da represa ali perto.
Do alto do morro do Palco Onix, era possível ver o mar de gente esperando Trent Reznor e companhia descer o braço. Mas não foi exatamente o que se ouviu – pelo menos não lá de cima, porque lá de baixo, na boca do palco, o som estava alto, ensurdecedor, como tem que ser.
Independente de como o show chegou aos seus ouvidos, é importante notar que Reznor não é mais o mesmo. Vale lembrar que ele ganhou um Oscar (!!!) pela trilha sonora de “A Rede Social”. Não dá pra posar de chutador de canelas do sistema com tal honraria no (extenso e respeitável) currículo.
Mas um pouco de nostalgia não faz mal nenhum, ao contrário, quando se tem um disco bem mais ou menos como carro-chefe da turnê. Do “Hesitation Marks”, de 2013, apenas três músicas, justamente no meio do show, o momento menos intenso, mais devagar-quase-parando. Se teve “Wish” e “The Hand That Feeds” pra fazer os fãs ficarem animados, as do novo disco deram aquela broxada.
De qualquer modo, sem muito esforço, o Nine Inch Nails fez bem mais do que todos os outros artistas que se apresentaram sábado.
01. Wish
02. Letting You
03. Me, I’m Not
04. Survivalism
05. March Of The Pigs
06. Piggy
07. Find My Way
08. Sanctified
09. Disappointed
10. All Time Low
11. Burn
12. The Great Destroyer
13. The Big Come Down
14. Gave Up
15. Hand Covers Bruise
16. Beside You In Time
17. The Hand That Feeds
18. Head Like A Hole
19. Hurt
Veja “Burn”:
Volto à questão da mobilidade urbana pra falar… do Muse.
Era o grande nome comercial do dia. Hordas de fãs do Muse infestavam metrôs, ruas, filas… Seria bastante prudente e inteligente se arrancar dali antes do término do show do Muse, dado o gargalo que o trem havia se mostrado na chegada e que provavelmente se mostraria muito, muito pior na saída, com todos indo pra lá ao mesmo tempo.
No caminho, do palco do Nine Inch Nails até a saída do autódromo, era preciso contornar o palco onde o Muse se apresentava. Foi possível presenciar o tamanho da encrenca: milhares de fãs espremidos no gramado em frente urrando de prazer ao ver Matthew Bellamy e seus asseclas. Jim Jones não faria melhor. Eu não desejaria ao pior inimigo estar ali, muito menos estar em qualquer ponto no caminho daquela multidão ao deixar o recinto. Era melhor se escafeder o mais rápido possível.
E consegui sair a tempo de não ouvir a cover de “Lithium”, do Nirvana, lembrando os vinte anos da morte de Kurt Cobain. Terrível e desnecessária, como se vê no vídeo abaixo. Vinte anos depois, Cobain morre de novo.
No caminho, ainda rolou o desprazer de ouvir uma das coisas mais deprimentes hypadas pelos indie-festivos nos últimos anos: o Disclosure. Não há distância segura pra ouvir esse despropósito. Sair dali urgia.
01. New Born
02. Agitated
03. Lithium (Nirvana cover)
04. Bliss
05. Plug In Baby
06. The 2nd Law: Unsustainable
07. Butterflies & Hurricanes
08. Liquid State
09. Madness
10. Interlude
11. Hysteria
12. Starlight
13. Time Is Running Out
14. Stockholm Syndrome
15. Yes Please
BIS
16. The 2nd Law: Isolated System
17. Uprising
18. Knights Of Cydonia
Veja a cover de “Lithium”:
Setlist Disclosure:
01. F For You
02. When A Fire Starts To Burn
03. Boiling
04. Tenderly
05. Flow
06. You & Me
07. Stimulation
08. Grab Her!
09. White Noise
10. Voices
11. What’s In Your Head
12. Confess To Me
13. Apollo
14. Running (Disclosure Remix)
15. Running (VIP Remix)
16. Help Me Lose My Mind
17. Latch
Veja “Latch”:
Nada como um pouco de experiência. Vale pra organização do festival, vale pra tudo na vida. Aprendi: de metrô e trem, como sugeria a organização do Lolla, nunca mais. Parti pra alternativa ônibus e uma linha que saía do metrô Vila Mariana deixava ao lado da outra entrada do festival, a do palco Onix. Da porta de casa à catraca do Lolla, dessa vez, em quarenta minutos, metade do tempo do dia anterior. Nada de tumulto, viagem sentado, sem filas, sem estresse. Cheguei mais cedo também, dessa vez pra comprar fichas sem fila e poder usufruir da Chef’ Stage sem aperto. Deu tudo certo.
Mas domingo não recebeu tanta gente. Foram apenas sessenta mil ingressos vendidos, vinte mil a menos do que na véspera. Essa diferença foi crucial pro conforto geral: menos filas (quase nenhuma), menos tumulto, mais espaço pra circulação na área dos palcos.
Ótimo: então, não seria o caso de colocar como teto esse numero de ingressos? Dá pra fazer alguma engenharia econômico-financeira pra oferecer esse conforto aos participantes?
Era também um dia mais apetitoso de apresentações. E logo a primeira foi a mais especial e emocionante. Johnny Marr, o homem que inventou a guitarra pós-1977, arrancou lágrimas dos presentes, com músicas do seu disco solo, “The Messenger”, de 2013, dos Smiths (quatro delas) e do Electronic, supergrupo com Bernard Summer e os Pet Shop Boys.
De quebra, ainda mandou recado pro Morrissey, em “Bigmouth Strtikes Again”, e chamou ao palco o baixista dos Smiths, Andy Rourke, pra tocar “How Soon Is Now?”. Deu o que a plateia queria: boas doses de Smiths, de nostalgia e de emoção.
Talvez as novas gerações não façam ideia dessa sensação de ver de perto uma banda tão importante pra sua geração, décadas depois. Hoje, qualquer bandeca com uma manchete na New Music Express ou na Pitchfork já justifica uma vinda ao Brasil com status de Beatles.
Os hoje tiozões nunca chegaram tão perto assim dos Smiths. Com Rourke e Marr, metade da banda estava ali. Lágrimas escorreram, claro.
01. The Right Thing Right
02. Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before (The Smiths cover)
03. Upstarts
04. Sun & Moon
05. New Town Velocity
06. Generate! Generate!
07. Bigmouth Strikes Again (The Smiths cover)
08. Word Starts Attack
09. Getting Away With It (Electronic cover)
10. I Fought The Law (The Crickets cover)
11. How Soon Is Now? (The Smiths cover)
12. There Is A Light That Never Goes Out (The Smiths cover)
O show quase na íntegra aqui:
A partir daí, escolhas. Savages ou Vampire Weekend? Escolhi Savages, porque nunca havia visto as moças ao vivo.
Um aparte, voltando ao problema das distâncias. O show da Savages terminaria meia hora antes do do Vampire Weekend. Em teoria, seria possível ver o final da apresentação dos indies, mas seria uma operação de deslocamento quase impossível, pra depois emendar com o do Pixies, que se iniciaria cinco minutos depois do Holger gringo. Uma pena.
Mas a escolha se mostrou acertada, embora “Modern Vampires Of The City”, o mais recente disco do Vampire Weekend seja bom o suficiente pra justificar a lamentação. O caso é que num dia em que os anos 80 foram celebrados, não haveria como escolher de outra forma.
As inglesas, com um respeitabilíssimo disco de estreia, “Silence Yourself”, de 2013, instigaram a curiosidade: não seria exagero da mídia gringa, sempre no afã de encontrar “o próximo grande grupo”?
Sim e não. O show é bem bom. O quarteto, econômico, ocupando um mínimo de palco, entrou sério e saiu calado, deixando boa parte dos presentes boquiaberto, com destaque pros noises da guitarrista Gemma Thompson.
Entretanto, a banda toda merece aplausos: Jehnny Beth tem voz potente, parece de fato a Siousxie e a baterista Fay Milton é o diabo com as baquetas.
Das onze músicas, oito foram do disco. Quem embarcou no hype de primeira, conhecia praticamente todo o repertório e pode cravar que foi uma bela apresentação. Mas foi pra poucos, principalmente saudosistas de inferninhos dos anos 80.
No final, esse revival dá às Savages o título de Joy Division de saias. Ou a Siouxsie moderna, algo do tipo. Ainda é pouco, mas foi o melhor que a escalação teve de novidade, de ligação com o novo.
01. I Am Here
02. Flying To Berlin
03. Shut Up
04. City’s Full
05. I Need Something New
06. Strife
07. She Will
08. No Face
09. Husbands
10. Hit Me
11. Fuckers
Veja “I Am Here”:
Dali ao Pixies. Bem, o Pixies faz shows ruins, mas tem um disco novo na praça, “Indie Cindy”, e só por isso já valeria a pena. Uma nova baixista, a hermana Paz Lenchantin, valia também pra ebulir a curiosidade.
Eram os atrativos. Porque realmente o show foi ruim, salvo exceções: os hits, a nova baixista, empolgadíssima, e uma outra música nova. De resto, Black Francis, David Lovering, Joey Santiago pareciam, como de praxe, entediados.
Os tiozões que estavam no show do Johnny Marr – e que a essa altura já se quintuplicaram – se deliciaram. A banda tocou o máximo de canções famosas quanto pôde pra montar um set agradável a fãs e apreciadores moderados. A plateia respondeu com entusiasmo, embora nem sempre e nem toda.
A grande análise a ser feita nesse show do Pixies é no nível da comparação: foi possível ver como se comportam as novas músicas diante dos clássicos consagrados. Estão à altura? Com exceção de “Bagboy”, “Magdalena” e “Greens And Blues” (essa tem tudo pra ser um hit), não, parecem tantas outras ruins no meio do repertório antigo. São dispensáveis. Ou talvez elas não tenham sido defendidas com o vigor de outrora, já que a banda não tem o vigor de outrora, parece seguir no automático (em direção ao caixa, pra receber o cheque).
Ouvi várias pessoas dizendo que “Pixies é sempre Pixies”. Nem sempre. Há vezes que o Pixies é realmente Pixies. Outras, é isso. E já faz tempo. Nem o disco novo parece reviver aquele Pixies.
01. Bone Machine
02. Cactus
03. Something Against You
04. Broken Face
05. Brick Is Red
06. Gouge Away
07. Bagboy
08. Monkey Gone To Heaven
09. Blue Eyed Hexe
10. I’ve Been Tired
11. Magdalena
12. Caribou
13. Nimrod’s Son
14. Indie Cindy
15. Ed Is Dead
16. Where Is My Mind?
17. Here Comes Your Man
18. La La Love You
19. The Holiday Song
20. Greens And Blues
21. Hey
22. U-Mass
23. Planet Of Sound
Veja “Where Is My Mind?” e “Here Comes Your Man”:
Mais escolhas: Soundgarden ou descanso pro filé mignon da noite? Descanso foi uma escolha prudente. O Soundgarden fez o que o UOL chamou de “acerto de contas pesado” (vale ler).
Duvido que alguém que bata bem da cabeça tenha escolhido ver o Jake Bugg. Podemos pular.
Na sequência, a grande escolha do festival: New Order ou Arcade Fire? Minha escolha foi óbvia, coroando o que o Lollapalooza me direcionou até ali, no passeio pelos anos 80: New Order, claro.
Embora pareça loucura, já que o Arcade Fire é a grande banda do momento, com um show matador, ainda tenho na memória aquelas apresentações de dez anos atrás, no TIM Festival. Apresentações pra quase ninguém e inesquecíveis. O encanto não seria maior e, tenho certeza, haverá outras tantas oportunidades.
O Arcade Fire também vive uma encruzilhada, após o lançamento do bom “Reflektor” (leia resenha aqui): ou perde a identidade e vira um U2/Muse ou ousa mais e busca novos caminhos. A explosão de histeria que se viu no Lolla indica que a primeira alternativa será a natural, então nada mais sensato do que deixar pra ver o Arcade Fire depois, num próximo show no Brasil, em breve e solo, de preferência (pra saber como foi o show do Arcade Fire, recomendo esse texto, onde o próprio escriba entra na histeria, pra se ter uma ideia).
Porque um show solo é algo que talvez eu nunca mais assista do New Order, tendo em vista que já vi dez apresentações da banda. Não há novidade: ao vivo, o grupo é um desastre, com ou sem Peter Hook; e ao vivo o grupo sabe o que a plateia quer ouvir, com sucessos atrás de sucessos, mesclando com pitadas de “primeiros passos da carreira” e Joy Division. Fatalmente, é um show ruim que diverte, que faz dançar e é bem sucedido no que se propõe.
E inacreditavelmente eu não fui o único a fazer tal escolha. O Palco Interlagos estava lotado, abarrotado, todo mundo dançando – e nesse “todo mundo” coloque não só tiozões, mas gente jovem, a la público da Lorde.
Não contente, a banda começa o show com “Elegia” (normalmente é com “Crystal”). Arrepios. Escolha ideal pro que acredito ser meu último New Order. Depois, uma sequência joydivisioniana, incluindo uma própria do Joy Division (uma das mais legais), “Transmission”, com várias introspectivas. Era o grupo preparando terreno.
Quando vieram “Bizarre Love Triangle”, “True Faith”, “5 8 6”, “The Perfect Kiss”, “Blue Monday” e “Temptation”, o autódromo virou uma enorme danceteria, gente de olhos fechados, cantando, sorrindo, fazendo as batidas com as mãos e os braços, abraçando-se, felicidade pra todo lado.
Esse é o efeito New Order, que no bis ainda enfrentou os fogos de artifício antecipados da organização do evento e mandou mais duas do Joy Division, incluindo o hino “Love Will Tear Us Apart”.
Dali, minha terceira escolha do transporte, saí de carona, de carro. Meia hora depois, estava em casa, pés doendo, alma lavada.
01. Elegia
02. Crystal
03. Transmission (Joy Division cover)
04. Singularity
05. Ceremony
06. Age Of Consent
07. Your Silent Face
08. World
09. Bizarre Love Triangle
10. True Faith
11. 5 8 6
12. The Perfect Kiss
13. Blue Monday
14. Temptation
BIS
15. Atmosphere (Joy Division cover)
16. Love Will Tear Us Apart (Joy Division cover)
Veja “Ceremony”:
Minhas escolhas me levaram a esse Lollapalooza 2014. Um festival que me deixou satisfeito. Dolorido de tanto andar, mas satisfeito. Encontrei amigos, muitos amigos, vi os shows que queria ver, mas sinto que podia ter sido melhor – num país com quase nenhuma oferta de grandes festivais, a organização poderia ter facilitado as escolhas dos consumidores.
Se nos festivais lá fora é natural o acavalamento de apresentações de grandes nomes, porque é usual que esses grandes nomes voltem ao país e assim a dor das escolhas são diminuídas, no Brasil, não: esses nomes custam a voltar, a realidade é outra, dava pra facilitar, dava pra flexibilizar. Não somos o mundo, somos o Brasil, dá pra pensar um formato que valha pra nossa realidade.
Foi isso que a organização fez com a estrutura: criou um ambiente onde o fã pudesse se preocupar só em usufruir do festival, ao contrário dos anos anteriores (nada mais do que a obrigação, pelo exorbitante preço de quase trezentos dinheiros e depois do perrengue pra comprar, lembra?). Agora, falta oferecer a plenitude, um formato que dê possibilidades pra que cada um tenha que fazer menos escolhas e aproveitar o máximo da escalação, curtir aqueles nomes que raramente aportam por aqui.
Não é uma escolha difícil. Basta querer, caro Farrell.
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Fotos Johnny Marr, Pixies e New Order por André Yamagami.
o q vc quer dizer com Pixies fazendo show ruim? Sim, eles sempre parecem entediados ao vivo, mas isso é uma coisa deles que sempre existirá. O Joey manda muito bem ao vivo.
Quis dizer que achei o show ruim, como também achei ruim o do SWU. Dos que eu vi, o único bom foi aquele de Curitiba. Não estavam entediados, longe disso. O Pixies é bem melhor do que se viu no Lolla. Aquele é um Pixies na banguela, esperando o pagamento.
Péssima escolha eu fiz quando parei pra ler este texto de um sujeito entediado, dono de um ego inflado (vai lá entender o motivo pra isso), que se esforça para dar fundamento a um texto meramente opinativo (no pior sentido possível) e tem uma queda por fazer adivinhações – O questionamento sobre a encruzilhada do Arcade Fire é vergonhoso… além de ser um ótimo exemplo do cúmulo do lugar-comum.
Fã do Arcade Fire, certo?
Que texto equivocado e chato de se ler.