UMA NOVA VISAO: COACHELLA 2012

O Coachella 2012 foi diferente dos anteriores. Teve dois finais de semana. Duplicou de tamanho. Não é de se espantar, porém: o maior festival do planeta tinha que ser grande também na extensão e no tamanho.

O que é de se admirar, além da escalação sempre prodigiosa, é a organização que manteve-se redonda. É que o Coachella preza pelo o que é mais caro ao festival: seus clientes, o público.

De acordo com o que conta Carolina Ferraz, nossa doce colaboradora na gringolândia, tudo é pensado pra que o público sofra o mínimo possível, dentro das circunstâncias que se pressupõe atípicas de um festival que recebe num mesmo (enorme) espaço dezenas de milhares de pessoas. Água de graça, por exemplo, algo que não se acha nos festivais brasileiros nem por decreto-lei. No Coachella, é uma questão de prover sobrevivência e conforto aos clientes. Ou, como Carolina diz, “um lindo universo paralelo” de higiene, segurança e respeito (atente-se pro relato sobre os banheiros).

Além disso, é preciso oferecer um produto significativo. O Coachella sabe fazer como poucos nesse ramo de mega-ultra-enormes-festivais. Uma escalação de fazer inveja, em dois finais de semana. Carolina foi ao segundo, dos dias 20, 21 e 22 de abril de 2012.

Pelo o que assistiu e conta no delicioso texto abaixo, foi algo mágico. Um final de semana como aquele que ela nos trouxe do Lollapalooza 2011 (lembra?) – mas diferente (deveria sempre ser, certo?).

Num festival em que o holograma de um rapper morto foi a grande notícia, Carolina nos traz uma nova visão do quão realmente legal foi passar um final de semana ali. Mágico também. Mas por outros motivos.

— FINAL DE SEMANA MÁGICO —
Por Carolina Ferraz (texto e fotos)
Outras tantas fotos, você encontra no blogue dela, clicando aqui.

Às vezes as coisas simplesmente gritam alto demais e fica impossível ignorar. Foi assim ano passado com o Lollapalooza e esse ano com o Coachella. A seleção de bandas era boa demais pra deixar passar. Fui.

Graças à maravilha que é o GPS e essa freeway chamada I-10 que cruza todas as cidades da CalifÓrnia, cheguei em Indio quase 2 da manhã, com relativa facilidade. Carro estacionado no lote 10, eu cansada depois de um dia gigante de 21 horas.

Fui acordada às 8 HORAS pelo calor. Estava muito calor. Daqueles que fazem você perder a fome e metade do peso em suor. Agradabilíssimo. Especialmente porque no fim-de-semana anterior choveu e a média era inferior a 30 graus. No segundo, as máximas chegariam a 42 (em fahrenheit fica ainda mais impressionante: 106!).

Fui pra tenda com wi-fi e estações pra carregar aparelhos. Elas estavam quase sempre cheias, tinha que esperar um pouco. Logo tive a felicidade de descobrir a tenda da Hyundai entre dois palcos que, além de tomadas, tinha ar-condicionado. Assim que os portões abriam, às 11 da manhã, ia direto pra lá carregar meus apetrechos, usar wi-fi e não morrer de calor por alguns minutos.

A reputação de organização impecável permanece. Tinha muito banheiro, sempre com papel e anti-bactericida pras mãos. E, apesar de serem banheiros químicos debaixo de um calor absurdo, o cheiro não ficava insuportável. Perto da maioria dos banheiros tinha as “refill stations”, umas 5 ou 6 torneiras pra encher garrafas de água sem pagar. A garrafa gelada custava 2 dólares. Se você recolhesse 10 vazias podia trocar por uma gelada também. Pessoas como eu que ficam perto da grade ganham água de graça dos seguranças. E são regadas regularmente, o que torna tudo mais suportável e divertido – lembra infância. Enfim, não vi confusão, briga ou nada do tipo. Meninas andam livremente de biquíni sem serem incomodadas; as filas, apesar de quilométricas, eram pacíficas. Um lindo universo paralelo.

Na sexta-feira, fiquei no palco principal por um bom tempo, vi coisas que não me interessaram (ok, foi legal ver o Tim Armstrong, mesmo atuando apenas como guitarrista do Jimmy Cliff) até Arctic Monkeys entrarem e me bombardearem com “Brianstorm”, “This House Is A Circus”, “Still Take You Home” e “Don’t Sit Down ‘Cause I Moved Your Chair” em sequência. Saí dolorida e sorridente em direção ao Outdoor Theatre pra ver Explosions In The Sky. Antes tinha Mazzy Star. Mazzy é o tipo de banda que eu gostaria bastante. Até ver ao vivo. A mocinha cantora é muito desegajada de tudo, o palco escuríssimo, os fotógrafos mal-humorados depois de ela falar “can we keep it this dark all the time?” Alguns “thank you” quase inaudíveis, “Fade Into You”, mais alguma coisa e tchau. Eu acredito que quando ver o show é apenas um modo mais desconfortável de ouvir uma coletânea da banda, algo está estranho. Mas eu estava ali por causa da atração seguinte então esqueci bem rápido. Infelizmente os meninos do Explosions estavam um pouco sem inspiração naquele dia, foi o show menos incrível que vi deles. Pareciam cansados. Não que eu os culpe.

Perda do dia: Atari Teenage Riot. Segunda vez que tenho um conflito e os deixo de lado. Não haverá uma terceira.

Tentei dormir o máximo possível antes de ser acordada pelo sol violento das oito da manhã de sábado, sem muito sucesso.


We Were Promised Jetpacks

Comecei às duas da tarde com We Were Promised Jetpacks no Outdoor. Pobres escoceses fritando no período mais quente do dia. Os regadores de pessoas trabalhando arduamente e eu agradecendo de todo o coração. Intervalo, vitamina de blueberry, banana e maçã quase congelada por 5 dólares, alguns pedaços de shows pelo telões (Childish Gambino e a mais nova “it girl” do hip hop, Azealia Banks, que lotou a tenda sem ter ao menos um álbum lançado) até o segundo round de tUnE-yArDs, que vi dois dias antes em Pomona junto com St. Vincent e gostei tanto que a coloquei na programação do Coachella também.


tUnE-yArDs

O show do festival foi mais acessível, sem tantas peripécias ou esquisitices vocais. Ela é simpática e agradecida por estarmos ali cozinhando pra vê-la com suas ombreiras laranjas de franjas. Virou uma festa com todo mundo dançando e feliz. Fiquei encantada pelo jeito que ela vai construindo as bases das canções, pedacinho por pedacinho e colocando em loop e de repente… PLIM! Menção honrosa aos saxofonistas-percursionistas e baixista-tecladista que pareciam pertencer a um fã-clube de Richie Tenenbaum.

Depois me dirigi ao palco principal, onde Kaiser Chiefs estavam terminando e eu teria o show do Noel Gallagher pra me posicionar pra Shins – Bon Iver – Radiohead. Consegui a grade no lado direito onde um simpático segurança prontamente me ofereceu água.


The Shins

Eu não sou fã do “Port Of Morrow” então só fiquei animada com “Sleeping Lesson”, “Saint Simon” e “New Slang”. Adoro a voz do James Mercer ao vivo (já o tinha visto com o Broken Bells) mas, no geral, foi esquecível. Não que eu tivesse altíssimas expectativas, ao contrário do mocinho que veio depois. Eu adoro o “For Emma, Forever Ago”, até gostei do álbum recente, mas ali, em um dos maiores festivais do mundo, pra dezenas de milhares de pessoas, não funciona. Desconfio que perdi a chance de amar um show do Bon Iver quando a turnê do “Emma…” terminou. No lado bonito, gostei de “Creature Fear” com as mudanças de arranjo pra acomodar a banda, fiquei feliz por ela estar incluída no setlist. E “Skinny Love” só com violão me lembrou o tal show que sinto que nunca verei.


Bon Iver

Então passou uma hora e o sábado realmente começou. E eu entendi porque as pessoas ficam tão malucas com o Radiohead. Desde os meninos histéricos quando o Thom Yorke entrou (digo, muito histéricos) até o coro de “Karma Police” que não terminou junto com a banda e se estendeu por mais ou menos um minuto. Foi forte, foram mais de duas horas que passaram voando. E estar do lado direito me permitiu ver o Jonny sendo autista, tirando seus vários coelhinhos da cartola e fazendo aquelas coisas incríveis. Podem ressucitar pessoas em forma de hologramas, não vai ser mais intenso.


Você sabe quem…

Perda do dia: Feist e St. Vincent. Porque ver a Annie Clark dando mosh apenas uma vez não é suficiente.

Depois de voltar flutuando com os pés em frangalhos e dormir o sono dos felizes por poucas horas, comecei meu domingo com gosto de melancolia, já dando tchau e ficando triste.

Andei lentamente pelos palcos, tirei fotos e esperei o Metronomy. Eu comecei a ouvir o “The English Riviera” uns 10 dias antes (sim, atrasada) e cada vez que ouvia gostava mais. Não procurei vídeos, não sabia como eles eram até subirem no palco.

A baterista-vocalista com um macacão de lantejoulas verdes sendo fofa e sorridente causou uma ótima primeira impressão. Assim como o baixista, sua calça cor-de-abóbora e seu cabelo Grace Jones. Ganhei de presente sete das onze faixas do “…Riviera”, não tenho do que reclamar. Saí do Outdoor saltitando, encontrei uma sombra e esperei o Wild Flag. Há evidências fotográficas mostrando que eu consegui dormir por alguns minutos. Exaustão é subestimada.


Wild Flag

Voltei, me senti sortuda por ter a chance de ver Mary Timony, Carrie Brownstein e Janet Weiss juntas pela terceira vez e antes das oito estava me preparando pra ir embora. Pois é, não fiquei pro holograma. Já tinha presenciado mágica suficiente pra um fim-de-semana.

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Comentários

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5 comentários

  1. Como eu queria ter visto o M83 e o tUnE-yArDs, assim, de pertinho. Pelo livestream, gostei bastante do Andrew Bird, St. Vincent e Manchester Orchestra, fora os que citei. O Radiohead é outro que ainda tenho que ver ao vivo.

  2. Bem legal a descrição do evento, ficou bem cético e longe de uma paixonite, onde tudo seria apenas maravilhoso e perfeito de qualquer maneira por conta das atrações. Pode ate ter sido perfeito, mas pela organização feliz de um otimo festival.

    O lance da paixão é um enorme problema no Brasil. A grande questão é que a falta de respeito com o público, que seria o principal cliente dos eventos culturais ou de entretenimento no Brasil, é falha em todos os eventos, basta ir num jogo de futebol pra notar isso. Somado a isso está o fato do brasileiro se contentar facilmente com o que tem, a organização do evento é uma merda, o som ta ruim, mas tal banda veio e eu vi ao vivo. Usa o lance da paixão irracional que temos com os times de futebol e big bands que nunca vem por aqui. Isso ja adentra numa questão educacional ate, não sei se é muito positivo ter visto um show X em condições muito ruins, devo estar realmente velho..

    Belo relato do Coachella, sempre penso todo ano em me preparar pra ir no mes de Abriil pro deserto, acho que me ajudaria se o festival fosse um pouco mais urbano, sei la, mas um dia irei.

    abraço!

  3. Tenho que admitir que me deu muita tristeza não ter ido e ainda ver que a menina que foi tinha conhecido muitas das bandas uma semana antes. Invejas a parte, bom relato da estrutura do festival. Gostaria de saber um pouco mais de como foram os shows pra quem estava lá.

  4. “Porque ver a Annie Clark dando mosh apenas uma vez não é suficiente” mania de indie usar termo de hardcore sem saber, e brasileiro, ok deu pra entender… MOSH é “dança” punk-hardcore-thrash, q resulta, normalmente, na roda de pogo, ou circle-pit, ou MOSH-PIT. Pular do palco é STAGE DIVE!

    Pra um cast tão glorificado, até que foram vários shows ruins citados na resenha… vai entender… parece que as bandas citadas não são tão boas assim, pois são ruins ao vivo… ou são boas, em estúdio, ou é questão de gosto mesmo.

    Só pra informar

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