VITECASSE – ST. FRANCIS ANGLO-INDIAN HIGH SCHOOL FOR GIRLS

Cassius Augusto é o baixista do Dorgas. Essa é e deve ser sempre sua prioridade, ao que parece. Mas o cara tá se tornando um dos nomes mais ativos do “alternativo” carioca: além de ajudar o Dorgas a ganhar o merecido destaque (as entranhas da MTV começam a ser abertas pra eles cometerem lá suas loucuras, em rede nacional), ele vai tocar com o Sobre A Máquina no próximo Sinewave Festival (que acontece no Rio de Janeiro, dia 7 de maio) e tem esse projeto paralelo, o VITECASSE.

Quer dizer, “projeto paralelo” é modo de falar. Segundo o próprio Cassius, “eu sempre gravei músicas sozinho, no meu computador, sem me preocupar se tava bonito ou tosco, e acumulei durante um tempão ‘milhões’ de gravações, sob várias alcunhas diferentes. Quando me mudei pra Botafogo, fiz um (perfil no) MySpace chamado saintfrancisandstuff, que saiu da brincadeira com um amigo, aquela de ‘clique em uma página aleatória do Wikipedia e esse será o nome da sua banda’, curti o nome e gravei quatro músicas (duas eu botei no TramaVirtual). Aí, me deu vontade de gravar músicas novas, do zero, a partir dessas duas que já estavam gravadas”.

É mais um desabafo, um plano de fuga, uma área de escape. Ou como ele diz na sua página na TramaVirtual, “ficava muito entediado quando morava lá (no Recreio dos Bandeirantes, bairro afastado do centro do Rio de Janeiro). E gravar músicas de bobeira no meu notebook se tornou um hobby. Ano passado eu me mudei para Botafogo.(…) Mas continuo entediado com frequência. E gravando músicas até às 10h da noite, de preferência, para não atrapalhar os vizinhos. Talvez seja patológico”.

Tudo começou pro Vitecasse quando a Trama falou que ia citar o projeto numa matéria: “pensei que (aquelas) duas eram pouco e gravei mais duas, assim, de qualquer jeito. Depois disso me empolguei e fiquei meio que gravando uma música sempre que tinha tempo. A idéia meio que surge do nada, gravo voz e violão no mesmo canal no meu laptop vagabundo, aí jogo uns teclados (aqueles presets do Garageband mesmo) e coloco o reverb no talo. É mais ou menos assim que funciona. Acho essas gravações uma merda, sinceramente, mas a idéia era me lembrar delas para quem sabe um dia gravá-las direito”.

Pois não são “uma merda”. Esse apanhado de músicas acabou se transformando num disco inusitado na produção nacional, esse “Francis Anglo-Indian High School For Girls”, com 12 belas canções literalmente lo-fi. Cassius toca todos os instrumentos e faz, por assim dizer, a produção.

Ele mesmo fala sobre o processo de gravação “uma coisa que eu faço normalmente nas músicas é colocar distorção de voz (uma distorção chamada megaphone voice, que é na verdade um efeito que deixa tudo bem agudo e irritante) na faixa com violão+voz. Costumo gravar tudo em um take só, assim que eu penso na música, sem planejar muita coisa (riff, letra etc…). Tem uma musica chamada ‘The Heartfelt One’ que foi a pior de todas, eu botei pra gravar e nem sabia o que ia fazer, comecei a tocar do nada e foi indo, aí eu tentei trabalhar a música, mas achei que a gravação nova perdeu muito na intensidade, aí deixei aquela mesmo”.

Não se ouve nada parecido no Brasil – talvez nem lá fora. Há ambientações e melodias bossa-novísticas, há arroubos blueseiros e há reverberações eletrônicos, que remetem curiosamente aos suecos do Radio Dept., banda que serviu de base pra uma das melhores do disco, “Bus To Ohio”, em parceria com Marcos Xi, editor do bom blogue RockinPress (que pretende lançar o disco oficialmente pra download gratuito).

Marcos Xi conta como foi: “a música foi feita por mim, e ele fez uma letra e gravou a voz. Adicionou uns teclados e voltou pra mim, que fiz back vocal, flauta e calimba. Além disso, a batida é sampleada da ‘Bus’, do The Radio Dept e eu gravei o violão em cima”. Sobre o nome da canção, uma curiosidade: “‘Bus’ era o nome do sampler do Radio Dept, e eu coloquei ‘Ohio’ para diferenciar a minha mix (que é bem limpa) da versão com o Cassius. Aí ele meteu o ‘To’ e virou ‘Bus To Ohio’, o que não tem nada haver com a letra da música!”, conta.

De acordo com Marcos Xi, um vídeo será feito dessa música.

As doze canções têm algo em comum na temática, segundo Cassius. Todas elas tem um “come back home” na letra: “é como eu disse, elas não são pensadas, então acho que é um desejo latente de voltar pra casa, ou que alguém volte pra minha casa. Não sei (na verdade, talvez eu saiba)”.

De alguma forma, “Francis Anglo-Indian High School For Girls” irá te encantar. É um daqueles casos em que a espontaneidade vale mais do que o apuro. Os erros são bem aceitos, e a precariedade é virtuosa.

Um disco que o artista deveria se orgulhar. E você, se deliciar.

01. St. Francis High School For Girls
02. Strange Days
03. No Escape
04. Sunny America
05. Bus To Ohio (feat. Marcos Xi)
06. The Heartfelt One
07. Hazel (nut)
08. Late Night Radio Show
09. Reasons
10. To The City I Love
11. 45
12. Last Song

Ouça na íntegra aqui:

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Comentários

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15 comentários

  1. Sinceramente, mas que bosta é esta. Meu jovem rapaz, o trabalho criativo nunca é terminado, mas sim abandonado. Disso todos somos certos, mas de gravar a música em um só take isso é uma parada escrota de gente mulambenta para com o trabalho artístico.
    Não é porque que hoje há uma abertura maior para divulgar música com facilidade que você deve ficar colocando qualquer merda por aí. Ficar gravando música com o microfone do seu celular também não é engraçado. Logo, se o jovem é alguém que parece bastante ocupado com música, de acordo com esse textículo acima, trate de tratar o ofício como algo trabalhoso para se conseguir resultados verdadeiramente belos. Então trabalhe duro e procure fazer algumas aulas de voz. Se não, faça o favor de guardar esse material medíocre para si mesmo e não faça seus amigos ou pessas desconhecidas perderem tempo com esse pedaço de suplício.
    Espero que encare as críticas de maneira construtiva.

  2. Trate de tratar é tenso, ein BB? Faça o favor de aprender a escrever.

    Espero que encare a crítica de maneira construtiva.

  3. Quanto ao rapaz…

    É complicado criticar um trabalho tão despretensioso quanto o dele, eu acho que se o próprio afirma que é uma merda, quem somos nós para julgar? É fácil cair no papo de “o que é música hoje em dia?”, mas se você deixar sempre para julgar algo pelo seu aspecto de técnica e/ou habilidade, acho que acaba entrando em um caminho virtuoso demais para os tempos de hoje. A sua visão elitista da música demonstra ignorância e preconceito. E bem, direito de expressão taí, o cara coloca o que quiser, escuta quem quer. Se você escutou e se sentiu ofendido, limite-se a não ouvir, não falar e fique reduzido à sua insignificância. O problema de música é que todo mundo dá pitaco, mas não tem nada para dizer. Você já sabe quantas músicas que você provavelmente escuta foram gravadas em um só take? Louie Louie do Kingsmen, Twist and Shout na versão dos Beatles, Alfie na voz de Dione Warwick, Rock the Casbah do Clash… para citar alguns. Parada escrota de gente mulambenta? Talvez você precise rever seus conceitos.

    Eu gostei do que ouvi. O garoto tem ouvido para melodias, criou bons ganchos, os efeitos são precários mas utilizados de uma forma inteligente, e enfim, é um projeto de quarto, sem ambições e gostoso de escutar. Excelente que hoje em dia exista espaço para que mais pessoas coloquem as suas canções online para que todos possam ouvir, até mesmo as gravadas em celular. Pode não ser engraçado, mas muitas vezes é algo muito mais original do que as mesmas velhas harmonias gastas. E é daí que sai a nova música, dos amadores com boas idéias, e não dos babacas que se firmam no lugar-comum. Continue arriscando.

  4. Boa Jorge, falou tudo! (se você for o ‘Du Peixe’, SOU SEU FÃ!)

    É a questão: Como julgar e porque julgar uma forma de expressão artística de alguém? Será meio egoísta pensar somente no seu gosto para gravações e achar que outros não podem fazer o mesmo? E pelo o que eu ouvi – e gostei bastante – as músicas são bem pensadas quanto em arranjo, mesmo nos momentos voz e violão. Ouvindo o Dorgas e o Sobre a Máquina, percebe-se que a qualidade da gravação de ambas as bandas são ótimas, mas cada um no seu estilo. O dorgas resolveu manter erros de execução durante a gravação e isso deixou o som mais orgânico, mais real. O Sobre a Máquina tem bastante coisa feita no pc, o que impede de erros de execução. São estilos.

    E você BB, acha que a gravação ao vivo do cd do Thiago Pethit (que custou 55 mil) precária e desnecessária?

  5. Sinceramente, eu acho falta de respeito com quem gasta seu tempo ouvindo. Atenção é hoje um recurso cada vez mais escasso e um trabalho de baixa qualidade como esse só serve como BURACO NEGRO de atenção que podia estar sendo gasta com um artista verdadeiramente talentoso e esforçado.
    Segundo ponto: “gostoso de ouvir”é sacanagem né, puta que pariu. Como que uma merda de track com distorção aonde o cara não se dá nem o trabalho de cortar as frequências altas pra tirar aquele chiado de filho de uma puta pode ser “gostoso de ouvir?”
    Terceiro ponto: encher o saco com concordância em uma argumentação é coisa de noob.
    Último ponto, Pedro: Cara, ta na cara que você deve ser amigo dele, mas tipo, o caso do Cassius não é estilo, é falta de microfonação adequada e habilitação musical. Como se ele faria uma bosta dessas sendo filho do Eike Baptista.

  6. Ah, e Thiago Pethit é outro merdinha, só pra constar. Espécie de Roberto Carlos da década de 10 que foi pra Argentina e gastou muito dinheiro fumando maconha e brincando de ser ator, aí quando ele viu que a brincadeira não tava dando certo, e decidiu brincar de músico. Chave pro sucesso: Faz um arranjozinho de banda mais acústico e fala que é influenciado por música francesa. OHHH, aí todos os fãnzinhos brasileiros que descobriram Beirut assistindo Capitu (isso porque nem francesa a banda é) são envolvidos por um sentimento geral de hype e todos ficam lambendo as bolas desse cara começou a pegar num instrumento há… 3 anos atrás, mas por causa da aparência pras as fãnzinhas feias ficarem gritando agudo e os babacões escreverem ele no seus blogs.
    Mas aí, é questão de gosto, mas se você gosta, vai na ondinha dessa juventude de época.

  7. Definitivamente uma opinião pessoal, um tanto generalista e pouco conclusiva, até porque o Thiago nunca teria chegado onde ele chegou se o som dele fosse tão merda quando você exclama dizer. Além do fato dele ter ganho projeção e elogios até da grande mídia, aparecido no Jô, Altas Horas e todos os programas online de música.
    Acho que a sua cabeça, BB, é que é fechada e você olha como um burro de carga o caminho que está a sua frente, vendo apenas aquilo que você aprendeu a decifrar e entender, sem pensar que já há, hoje em dia, novas formas de gravação e difusão de música, principalmente a experimental e o folk, o que acredito que o Vitecasse tentou juntar, dando aquele formato básico chamado Lo-Fi, algo que você, se tiver o mínimo de conhecimento musical, deve concordar.
    Não sei se você notou, porque acho fácil de pegar, mas ele não deve ter tirado a frequência e os chiados PROPOSITALMENTE, tanto que algumas músicas dão pra ver que foram inclusive valorizados esses chiados.
    Lembro do Rosie And Me, que ganhou certa dimensão no mundo com arquivos gravados em casa, em baixa qualidade, e posto não em uma rede convencional, mas sim no last.fm somente.
    Assim como acho que você está se desfazendo do trabalho do tal jovem e ainda me subjugando, assim como eu acho que você tá bancando o babaca aqui falando tais asneiras, pois se fosse tão ruim eu não teria encontrado matéria sobre esse Vitecasse na Trama Virtual, no RockinPress e aqui no Floga-Se. Todos eles curtiram e os que não curtiram, ficaram na deles ou deram críticas construtivas.
    Agora, soltar informações sobre o limbo cerebral que você passa, descontando nos outros, é que não é legal.

  8. Pedro, você tocou em um assunto que me ofende…
    Não gosto que usem essa metáfora do burro.
    Odiei.
    O Vitecasse foi tão esculachado aqui, que eu vou até dar uma ouvida. Mas então.. o lo-fi (e suas variações) é um estilo. Tem gente que gosta e tem gente que não. O que a gente precisa realmente escutar é a música e não os chiadinhos.
    O BB toma a opinião dele como lei. vai-te!

  9. ah
    e concordo num ponto..
    ele pode ter usado o seu poder de divulgação em gravações “inúteis” (ainda não escutei, então não estou julgando), mas cada um sabe o que faz com ele. Ele pode perder credibilidade.. esse tipo de coisa. E se você não quer ouvir, então bola-pra-frente, não se oprima kkkk
    ps Amo Sobre a Máquina, então o Cassius já marcou um pontinho.

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