WILCO NO AUDITÓRIO IBIRAPUERA – COMO FOI

“Foi lindo!”, “foi maravilhoso!”, “fantástico!”, “espetacular!”, “melhor show da vida!”: os superlativos sobre o Wilco valem pra qualquer um dos três shows que a banda fez nessa sua segunda passagem pelo Brasil – quinta, dia 6, no Circo Voador, no Rio; dia 8 no Polpload Festival, em São Paulo; e dia 9, no belo Auditório Ibirapuera, em São Paulo – e saíram com uma facilidade de causar mais espanto do que a própria banda em cima do palco parecia causar nos fãs.

Não que o Wilco não mereça tal reverência. Merece as exclamações, mas compreende-se também o porquê do sexteto ser preferência apenas de um pequeno e concentrado nicho: sua música transita entre o folk fofinho e inofensivo e a saraivada de ruídos e distorções patrocinada por Nels Cline e Glenn Kotche. Nem tanto lá, nem tanto cá. Talvez seja isso que torne o Wilco único.

Já era assim onze anos atrás, quando o grupo esteve no Tim Festival, apenas no Rio de Janeiro, tocando junto com um Arcade Fire também ainda sem grande badalação. Se muito, umas trezentas pessoas estavam naquela plateia. Eu estava lá e o nível de adoração que presenciei era bem mais sensato.

O que o Wilco fez de lá pra cá que merecesse tamanha paixão? Três bons discos (com ressalvas) dos cinco lançados nesses onze anos: “Sky Blue Sky” (2007), “The Whole Love” (2011) e “Star Wars” (2015). E uma insistente campanha nas redes sociais pra volta ao Brasil.

Jeff Tweedy é um talento e tanto. Em cima do palco, é boa-praça e poderia mandar todo mundo imitar cachorrinho que imitaríamos sorrindo e batendo as patinhas com a língua de fora – não sei quantas bandas teriam esse poder hoje em dia pra um público que já vê a puberdade à longa distância (e que não seja heavy metal). Ele é um daqueles caras que você gostaria de ter na mesa do boteco tomando umas contigo. Mas é a dupla Nels Cline e Glenn Kotche que vale o show – e a banda. É a dupla que justifica qualquer adoração.

Logo de cara, com “Via Chicago” abrindo os trabalhos no ótimo Auditório Ibirapuera (som bacana, palco idem), os ruídos dominaram a cena, enquanto a banda seguia, em paralelo, na sua função.

Que banda hoje em dia se atreve a dar “olá” aos fãs – e esse foi especificamente um show pra fãs – com bons segundos de barulhos entortando o que é palatável? “Cry All Day”, uma das que se salvam do mais recente “Schmilco”, usa o mesmo artifício, numa canção deliciosa. É um proposital vendaval de arranhões.

A música do Wilco é um rol de fofura e bom mocismo, por isso cabem a Nels Cline e sua guitarra, em cima do palco, experimentar e arranhar um pouco a maciez ofertada. Teve solo acachapante – não um solo-posado, mas um solo ruidoso. Teve um proto-kraut (na incrível “Spiders (Kidsmoke)”) e uma longa jornada (na derradeira “I’m a Wheel”), mostrando toda o sincronismo do sexteto. Seja com fofura ou ruídos, cada passo, cada gesto, cada nota eram motivos de mais exaltações.

Foram duas horas e vinte minutos de apresentação, passando por toda a discografia: do “A.M.” (1995), duas músicas; do “Being There” (1996), uma; do “Summerteeth” (1999), duas; do “Yankee Hotel Foxtrot” (2001), que é o disco mais adorado da carreira deles, sete; do “A Ghost Is Born” (2004), cinco; do “Sky Blue Sky” (2007), três; do “Wilco” (2009), uma; do “The Whole Love” (2013), uma; do “Star Wars” (2015), uma; e do “Schmilco” (2016), cinco.

O próprio Tweedy brincou com o fato dessa ou aquela música ter ficado de fora: não dá pra tocar tudo, mas deu pra variar e divertir quem é fã e se estapeou por um dos ingressos (a vinte reais!) pra apresentação.

A certa altura, ao chamar a audiência pra mais perto, as cadeiras do Auditório logo foram deixadas pra trás, sem remorso, e a segurança local nem se preocupou com a proximidade dos fiéis debruçados no palco, cantando de olhinhos fechados, braços pro alto, barbas (todos parecem ter barbas) molhadas de suor. O show virou espetáculo, ganhou clima de cantar-pra-amigos-na-sala-de-casa, e Tweedy teve que prometer não demorar onze anos pra voltar.

Não é um show pra tantas exaltações e exclamações, mas a sinergia que seu pequeno público e a banda experimentaram nesses três dias, em especial neste show, já é argumento bastante pra que o Wilco se sinta com as portas do país abertas pra quando quiser. Sua ruidosa fofura será sempre bem-vinda, do tamanho da importância que ela tem.

01. Via Chicago
02. If I Ever Was A Child
03. Cry All Day
04. Company In My Back
05. I Am Trying To Break Your Heart
06. Kamera
07. You Are My Face
08. Misunderstood
09. Someone To Lose
10. Radio Cure
11. Bull Black Nova
12. Reservations
13. Impossible Germany
14. Whole Love
15. Passenger Side
16. Locator
17. We Aren’t The World (Safety Girl)
18. Box Full Of Letters
19. Heavy Metal Drummer
20. I’m The Man Who Loves You
21. Hummingbird
22. The Late Greats

BIS
23. Jesus, Etc.
24. Hate It Here
25. I’m Always In Love
26. Random Name Generator
27. Spiders (Kidsmoke)

BIS 2
28. I’m a Wheel

Veja “Whole Love”:

“Heavy Metal Drummer”:

“Jesus Etc”:

Fotos: André Yamagami

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