RADIO DEPT. NO BECO SP – COMO FOI

Havia três grupos de pessoas no Beco São Paulo, na noite de sexta-feira, dia 6 de julho de 2012, pra ver o Radio Dept.: 1) as que gostaram 2) as que não gostaram e 3) as que ficaram em filas. Certamente, as do primeiro grupo não pertencem ao do terceiro; as do segundo provavelmente pertencem também ao terceiro; e as do terceiro inevitavelmente pertencem ao segundo.

Porque o que aconteceu ontem no Beco foi lamentável. Muita gente penou nas filas pra entrar, inclusive quem participou do financiamento coletivo pra trazer a banda. Assim, um bocado de público perdeu o show de abertura muito bom da Lautmusik, de fato o melhor da noite – e um tanto o começo da apresentação do Radio Dept.

Só que passar pela porta do Beco não era a última barreira: pra consumir qualquer coisa nos bares da casa, uma boa parte dos presentes teve que enfrentar outro martírio, as filas imensas que levavam aos caixas, pra carregar o cartão de consumação. Parece piada de português, mas houve quem tenha ficado nessas filas durante metade do show gringo.

Há algo de errado no Beco, na organização da casa. Presume-se (sem certeza absoluta, claro) que essa tática de pré-carregamento dos cartões de consumação é pra evitar as filas ao final da noite. Criou-se, pois, uma sinuca de bico pros clientes.

Eis que o que se ouvia nessas intermináveis filas dentro da casa eram reclamações e pouca gente de fato conseguia prestar atenção ao Radio Dept. – que também não ajudou muito. A paciência se esgotou rapidamente. Ser tratado dessa forma não é tão agradável e um bocado de gente que encontrei por lá simplesmente desistiu de consumir e, pior, largou a apresentação na metade e foi encerrar a noite longe dali.





A iniciativa da PlayBook de promover tal evento merece aplausos e vale a torcida pra que a empresa siga na toada. Aqui, a escolha até foi feliz. A Radio Dept. é uma banda muito boa, encantadora. Mas parece funcionar só em disco. Ao vivo, ainda mais com o som num fiapo, a coisa beirou a sonolência.

A banda começou com “The New Improved Hypocrisy” e “Keen On Boys”, que nos originais são belas canções pop. O zumzumzum não percebido no miolo da plateia era intenso na periferia da pista. Aliado ao som baixo, dispersava a atenção. Era melhor bater um papo, pelo visto, do que ouvir a banda. Era um péssimo sinal de que o show não iria funcionar. E não funcionou. Ele se arrastou até o momento em que a banda mandou “Heaven’s On Fire” e “Never Follow Suit”, que empolgou um tanto mais de gente além daquele miolo de fãs.

A impressão que se teve é que o Radio Dept. alcançaria mais corações num palco intimista, como os do SESC (Ipiranga ou Vila Mariana, por exemplo, onde a plateia se acomoda sentada, contemplativa). É o tipo de música relaxante pra se esquecer dos problemas do cotidiano. Uma válvula de escape saborosa. Entretanto, ali no Beco, depois de tanto perrengue, foi desastroso, um dos piores shows gringos e uma das piores experiências da história relevante (e vitoriosa) da casa.

Os fãs, porém, aqueles que se enquadraram no primeiro grupo, ali na boca do palco, onde o som estava sensivelmente melhor, devem ter saciado sua vontade de ver os ídolos. Deve ter sido prazeroso. Pra eles, fica a memória de uma apresentação com o que a banda tem de melhor.

Pena que ao vivo nem o que a banda tem de melhor é o suficiente pra se esquecer dos problemas, ou pra fazer justiça à qualidade do trio.


Todas as fotos: Leandro Devitte.

Setlist
01. The New Improved Hypocrisy
02. Keen On Boys
03. The Worst Taste In Music
04. A Token of Gratitude
05. Freddie And The Trojan Horse
06. I Don’t Like It Like This
07. The City Limit
08. Bus
09. 1995
10. Why Won’t You Talk About It
11. David
12. Heaven’s On Fire
13. Never Follow Suit
14. Closing Scene

BIS
15. Lost And Found

Veja “Keen On Boys”:

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Comentários

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12 comentários

  1. É, a organização estava desastrosa mesmo. Perdi o show de abertura, no qual eu iria tirar as fotos, por causa da desorganização para entrar. Não sei que tática é essa de segurar o pessoal pra entrar na casa, mas só serviu pra irritar as pessoas, inclusive com bate boca e ânimos exaltados de alguns que queriam entrar logo. Ao entrar, mais fila pra carregar o cartão de consumação. Quando digo fila, é uma ENORME fila, de subir pro 2º andar pro Beco. Resultado: não consumi nada lá dentro. E o show… bom, tá bem explicado no post, causando bocejos e sonolência. Mas a iniciativa da PlayBook continua apreciada. Aguardando os próximos (e, espero, melhores) shows.

  2. Essa crítica não fez muito sentido pra mim.

    Sou muito fã da banda, mas não tava na boca do palco e, sim, em cima de um puff, lá atrás. E achei o show incrível. Lindo demais.

    Quem ficou com sono ou conversando certamente não sabia o que tava fazendo lá. 🙂

  3. vi o show la de cima, e o som me pareceu de ok pra bom, sem comprometer. gostei bastante do show, ja que pra mim, musicas boas sao o principal. e praticamente todas elas me agradaram muito, mesmo sendo basicamente tal como no estudio. la de cima vi uma maioria absoluta curtindo muito o show. agora, era grande a presença do povo ‘look at me’ no local, que talvez estivesse esperando performances a la AC/DC ou Iggy Pop. esses devem ter se decepcionado bastante com a postura humilde e totalmente ‘don’t look at me’ da banda. quanto a fila, realmente, inexplicavel a demora, lamentavel.

  4. o radio dept é uma bela banda, lindas canções e tudo mais, porém, a organização foi mediocre, o som estava tremendamente baixo, um desrespeito, e não adianta os fãs virem comentar que foi lindo e tudo mais, porque não foi, deveria e tinha tudo pra ter sido, mas não foi, triste, triste mesmo, o Beco me presentou depois de anos e anos de shows no me gabarito com o pior show internacional que já vi na minha vida!!uma pena, principalmente por ser o Radio Dept. ABRA O OLHO BECO E PLAYBOOK

  5. Vale lembrar que a potencias das caixas do Beco e de qualquer casa de shows é sempre muito grande, mas o The Radio Dept. levou seu próprio técnico de som ao país e ele que regulou a altura, e não a casa. O técnico, alias, é um simpático cara que tocava percussão na turnê do Peter Bjorn and John na época aurea de “Young Folks”.

  6. Assisti ao show em baixo, bem ao lado da mesa de som e posso afirmar que a qualidade estava razoável, embolada em alguns momentos, mas longe de comprometer qualquer coisa. A performance da banda também não comprometeu, sendo adequadamente discreta e reproduzindo muito de perto o que se ouve nos discos – o repertório permite. Claro que havia muita gente pouco interessada no que se passava no palco zanzando para lá e para cá, mas isso faz parte. O que não entendo é a ênfase na comparação com o opener, aqui demonstrada sistematicamente por aqueles cuja percepção do show foi negativa. Já a desorganização na porta é uma unanimidade incontestável.

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