4 DISCOS: INTERPOL, STAGNANT POOLS, LEONARD COHEN, PURLING HISS

INTERPOL – “EL PINTOR”

Até o mais mala e cego dos fãs deve concordar que “Interpol”, o quarto disco da banda, lançado em 2010, é frustrante. Mas, mesmo ali, o Interpol mantinha sua boa sina de ser um grupo de hits potentes. Naquele disco, salvava-se “Barricade”. Passaram quatro anos e, sob o idiota anagrama de “El Pintor”, o Interpol nos apresenta mais um grande hit, uma vibrante e empolgante canção: “All The Rage Back Home”.

A canção bastou pra que os mesmos fãs declarassem que esse era o melhor disco da banda e coisas e tal. Bem devagar com o andor, gente boa. Pingos nos “i”s e nos “jota”s: “El Pintor” é um bom disco, ponto. Beleza. Mas não é um discaço. Está longe disso.

A cada obra que passa, o Interpol vai se consolidando como uma grande banda pra uma ótima coletânea. Não vale a imersão na discografia. E “El Pintor” só ajuda a elevar o nível, mas não salva a lavoura, não é exceção à regra.

Depois de “All The Rage Back Home”, uma canção que qualquer banda cortaria um braço pra compor (elegante, dançante, forte), o disco ainda oferece a arrastada e pegajosa (uma virtude que toda música pop deveria ter) “My Desire” e a oitentista “Same Town, New Story”, com uma ideia só, mas que é suficiente pra sustentar quatro minutos de lamúrias. Daí, o ouvinte enfrenta fraquezas como “My Blue Supreme” e “Everything Is Wrong” (títulos apropriados).

O disco só volta a empolgar com as boas “Ancient Ways” e “Tidal Wave”. É pouco pra uma obra que foi enaltecida como “a volta do velho Interpol”, como se a banda não pudesse evoluir e andar pra frente.

“El Pintor”, o primeiro disco sem Carlos Dengler no baixo, assumido por Paul Banks, merece o elogio de ser um passo a frente. Uma banda talentosa que pouco se prendeu ao bom passado (a única que remete ao aclamado disco de estreia é a insossa “Breaker 1”), a despeito das reações dos fãs. Mas ainda é pouco: melhor esperar uma boa coletânea.

NOTA: 6,0
Lançamento: 8 de setembro de 2014
Duração: 39 minutos e 58 segundos
Selo: Matador Records e Soft Limit
Produção: Interpol
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STAGNANT POOLS – “GEIST”

Não há nada de muito original ou revolucionário no que faz a dupla de irmãos Bryan (vocal e guitarra) e Douglass Enas (bateria). Vocais preguiçosos e uma muralha de ruídos guitarrísticos não são exatamente uma novidade.

A dupla mistura aquele pessimismo gótico com a leseira shoegazer pra passar seu recado. Ora, contemporâneos seus, como o Crystal Stilts, andam fazendo isso muito bem também. Então, por que diabos alguém deveria se prestar a ouvir o Stagnant Pools?

O primeiro motivo talvez seja a impressionante estreia com “Temporary Room”, de 2012. Mas nesse segundo disco, “Geist”, embora mais monotom, é um disco tão bonito quanto e mais amargo, bem mais.

O segundo motivo pode ser o fato de que o Stagnant Pools faz belas melodias e não se fia só no barulho. Valem como exemplos a pegajosa “To Begin”, a bonita “Intentions” e “Dots And Lines”. “Decorder” é um nó na garganta. A abertura, com “You Whir”, é pesadíssima, tanto quanto lamuriosa. E a faixa-título é marcante, com seu rife repetitivo.

“Geist” não vai ficar na história da música, não vai influenciar ninguém, não vai tocar no rádio, não vai ser sua primeira lembrança quando for chamado pra tocar na festa dos amigos. Mas é daquelas obras cuja beleza merece uma chance.

NOTA: 7,5
Lançamento: 10 de junho de 2014
Duração: 32 minutos e 41 segundos
Selo: Polyvinyl Records
Produção: Stagnant Pools
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LEONARD COHEN – “POPULAR PROBLEMS”

“Estou pegando leve na música / nunca gostei de agitação / você quer chegar lá rápido / eu quero ser o último / não é porque estou velho / não é a vida que eu levava / sempre gostei de ir devagar”. Leonardo Cohen abre seu décimo terceiro disco da carreira, “Popular Songs”, sendo o melhor Leonard Cohen possível: sedutor, envolvente, e proseando em duplo sentido. Ele está na cama com a donzela, mas também está a nos amaciar os ouvidos, a gente tá quase sentindo o bafo dele no cangote. “Slow” é do jeito que ele e a gente gostamos.

Logo depois, ele emenda: “deixe-me pegar um pouco de fôlego / achei que tínhamos a noite inteira”. Bem, nós sempre temos o tempo todo do mundo pra você, caro Cohen. E em “Popular Songs”, vale cada minuto. Não dá pra resistir a tanta sedução.

Mas ele não é tão pueril, não pensa só no carnal. “Almost Like The Blues” é espaço pra ele cantar injustiças do mundo e a busca por redenção. Assim toca a boiada desde o excepcional “Old Ideas”, o álbum anterior que o colocou de volta o centro das atenções (após duas tentativas frustradas nesse século): Leonard Cohen coloca o vozeirão à serviço de uma beleza elegante, simples, sem brilhos, badulaques, maquiagens.

Bem, é o que gostamos de imaginar, mesmo sabendo que o badalado produtor pop Patrick Leonard (de Elton John, Madonna, Rod Stweart) deve ter se esmerado um bocado aqui. O produtor tem seu ponto alto da carreira, escrevendo essas pérolas em parceria com Cohen. Mas é dele também a responsabilidade de “modernizar” o som, como em “Nevermind”, com o baixo e a bateria sintetizados e o coro “árabe”. Não caiu bem.

Aos oitenta anos, Leonard Cohen é maior do que esses deslizes. Ele nos faz lembrar como é delicioso seu blues urbano solitário, aquele do contador de causos que fica na varanda a observar a vida vibrante lá fora, enquanto a dele vai se cansando com o tempo. “Samson In New Orleans” é de arrancar lágrimas ou apertar o coração ou tudo junto.

Até mesmo uma das melhores músicas desse ano (e da sua elástica carreira), “Did I Ever Love You”, dançante que é, tem uma dose de arrepio ao ouvinte. Cohen questiona seu passado com poesia, mas é só porque é a poesia a base de todo o disco e pra qual a obra existe.

Tome fôlego, Cohen, e vá devagar, pra poder ir sempre. Estamos esperando mais, ansiosos.

NOTA: 9,0
Lançamento: 19 de setembro de 2014
Duração: 36 minutos e 01 segundos
Selo: Columbia
Produção: Patrick Leonard
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PURLING HISS – “WEIRDON”

O título fala de “estranheza”, mas ouvir “Weirdon”, o quinto disco do Purling Hiss, o segundo como uma banda de fato, não causa estranheza alguma, a não ser que você nunca tenha ouvido uma guitarra distorcida na vida e tenha pulado os anos 1990.

Ao contrário, Mike Polizze e sua turma dão ao ouvinte um punhado de canções pop deliciosas, com letras simples (“sem mais mentiras / sem mais mentiras / é o final dos tempos”, diz em “Sundance Saloon Boogie”), alternando com viagens psicodélicas de cinco, seis e até sete minutos.

Polizze é estadunidense da Filadélfia e sempre manteve esse projeto como um exercício lo-fi. Mas achou que precisava de fato profissionalizar a parada, e como um trio lançou o soberbo “Water On Mars”, em 2013. Os olhinhos dos amantes do noventismo brilharam com as similaridades com o Dinosaur Jr.

Só que Polizze resolveu dar uma nova chacoalhada e com “Weirdo” – e talvez daí venha a “estranheza” – virou-se um tanto pros anos 1960 (“Reptili-A-Genda”) e seguiu experimentando até onde vai sua loucura criativa.

“Weirdo”, se visto como obra isolada, um disco de cultura pop, vai precisar de bem mais tempo (como os discos do DInosaur Jr. precisaram) pra sacramentar seu impacto. Por ora, é um trabalho bem divertido, principalmente as canções mais curtas e descompromissadas, como “Sundance Saloon Boogie”, “Where’s Sweetboy”, “Aging Faces” e “Airwaves”.

Se chocar e causar estranhamento é um dos pilares da rebeldia juvenil, esse disco tem por onde, mesmo que Polizze já não seja assim tão jovem (ele já tem pra lá de 30). Ele fala com seu público.

NOTA: 7,0
Lançamento: 23 de setembro de 2014
Duração: 43 minutos e 58 segundos
Selo: Drag City
Produção: Mike Polizze
Pra ouvir: clique aqui e ouça “Learning Slowly”
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