BEACH HOUSE NO CINE JOIA – COMO FOI

Onze e meia da noite. O show estava marcado pra onze e meia da noite. É impossível deixar de notar como o Cine Joia consegue estragar o que poderia ser uma noite perfeita, por conta de uma (i)lógica segregacionista (sim, porque quanto mais caro, no meio da semana e mais tarde, menos gente “periférica” pode comparecer).

Mas as pessoas trataram de dar seu suave e quase imperceptível recado: no show do Beach House que aconteceu nesse dia 28 de agosto de 2013, em São Paulo, havia no máximo 70% da capacidade tomada. Estava cheio, mas não tanto pra uma banda incensada exageradamente pela “crítica especializada” hipster-indie-festiva. Esperava-se mais. O ar gélido da noite de inverno paulistana (algo em torno dos 10ºC) e uma rodada decisiva e emocionante da Copa do Brasil podem ter contribuído, mas são “poréns” que apenas forçam uma justificativa. A verdade é que com a falta de bom senso dos Cine Joias da vida, que vendem caro e entregam pouco, o mercado caminha pra se ajustar contra esses desrespeitos com o consumidor. Não ir a shows nesses locais parece ser uma alternativa viável e cada vez mais aceitável e desejável.

Até porque quem não foi não perdeu muita coisa. Quer dizer, a banda até tentou e tem por onde – dois discos muito bons, “Teen Dream”, de 2010 (esse excepcional), e “Bloom”, de 2012, base da extensa atual turnê mundial. São dois discos cheios de pequenos sucessos, que poderiam superar quaisquer desrespeitos dos empresários. Mas quem se superou mais uma vez foi o Cine Joia com sua incapacidade de entregar um som decente. E pra música límpida e cristalina do Beach House, um som límpido e cristalino se fazia necessário.

No palco apertado por uma cenografia leve mas inútil, a banda ofereceu o que tinha de melhor: quase tudo dos dois últimos discos, mais duas de “Devotion”, o segundo, de 2008. Começaram com “Wild”, seguida de “Walk In The Park”, escolhas felizes, se não fosse pela comprovação imediata de que aquilo não daria certo como deveria dar, já que o som do Cine Joia impedia.

A voz da bela e simpática Victoria Legrand, que já não lá essas coisas em disco, onde é possível dar um tapa, perdeu-se totalmente na altura e equalização distorcida do som da casa. Era difícil entender o que ela cantava. Não fosse a simplicidade de suas canções, uma variação feliz entre música de churrascaria e Cocteau Twins, de fácil identificação pelos fãs, é provável que muitos demorassem a sacar quais das belas obras a banda estava começando a executar.

E foram muitas as delícias apresentadas pelo trio, como “Silver Soul”, “The Hours”, “Zebra”, “Used To Be” e “Myth”, por exemplo.

É verdade que o som foi melhorando do meio pro fim (ou ficando menos ruim), de modo que a plateia pôde sorrir com a presença edificante da sequência de “Take Care”, “10 Mile Stereo” e a obra-prima “Myth”. Mas em nenhum momento foi possível perceber naquela banda a leveza, simplicidade e delicadeza que se ouve em disco.

O baterista Daniel Franz, que acompanha da dupla na estrada, salvo poucos momentos, era tão inútil quanto imperceptível. Ao que se possa argumentar que aquilo ali era uma “adesão sutil” à música do grupo, vale lembrar que o baterista tentou, em vários momentos, se impor, descendo a mão, mas simplesmente não convenceu de que o Beach House ao vivo precisa de um baterista.

Alex Scally, entretanto, salvou a pele da banda nessa arapuca que o Cine Joia a colocou, principalmente no bis, com as introspectivas e menos conhecidas “Turtle Island” e “Irene”. O guitarrista, que passou o show inteiro contido, tentando extrapolar os limites da palidez proposital da própria obra, finalmente se soltou nuns noises estupendos, apresentando possibilidades que a banda poderia abraçar.

Se os fãs saíram satisfeitos? Os menos exigentes talvez sim. Aqueles que viram ali uma oportunidade de estar diante da banda que gostam, ok, o evento fez valer os perrengues (com uma hora e meia de apresentação, as luzes se acenderam exatamente à 01:08h da madruga). Mas é urgente alguém fazer entender ao Cine Joia de que balada é balada, show é show. Essa mentalidade idiota de misturar as coisas só serve à casa e ao desrespeito. E pobre de quem gosta basicamente de música.

01. Wild
02. Walk In The Park
03. Troublemaker
04. Norway
05. Other People
06. Lazuli
07. Silver Soul
08. The Hours
09. Zebra
10. Wishes
11. Used To Be
12. Heart Of Chambers
13. New Year
14. Take Care
15. 10 Mile Stereo
16. Myth

BIS
17. Turtle Island
18. Irene

Veja a banda tocando as duas primeiras, “Wild” e “Walk In The Park”:

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Comentários

comentários

3 comentários

  1. É lamentável que tenha sido assim com o Beach House. Fui ao show do Grizzly Bear, em fevereiro no cine Jóia, e o som estava excelente…

  2. Também é lamentável a tpm do autor. Poderia ter retornado antes para o conforto do seu edredom tomando uns bons vinhos ao som de qq outra coisa além daquela que foi incapaz de traduzir nesse texto. Ê, Fernando.. eu heim.

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