OS DISCOS DA VIDA: ELMA

O Elma está na ativa desde 2002. Embora produza pouco – em termos de quantidade mesmo – fez o suficiente pra ser uma das bandas mais respeitadas do subterrâneo do Brasil. Não é exagero: o primeiro disco – e até aqui único – “Elma LP”, de 2012, acabou batendo em um bocado de listas de melhores do ano (inclusive aqui no Floga-se). Se você ainda não ouviu e, por isso, não se deu conta do que tá perdendo, ouça na íntegra aqui.

Baseada em São Paulo e formada por Fernando Seixlack (bateria, ex-Polara, banda que voltou à ativa recentemente, e do projeto de música eletrônica Seixlack), Paulo Cyrino (guitarra, também no projeto Babylons P), Bernardo Pacheco (guitarra) e Ricardo Lopes (baixo), a banda é conhecida pelos shows impressionantes, cujo peso reverbera no peito do ouvinte por um bom bocado de dias.

O Elma vibra no palco não só pelo peso e pelo experimentalismo das canções, mas também pelo sincronismo dos integrantes. É um relógio, mas um relógio que fatalmente vai te surpreender no minuto seguinte.

(Vale ouvir o papo que o podcast “O Resto É Ruído” teve com Bernardo no meio de agosto de 2013).

Nessa edição de “Os Discos Da Vida”, os quatro mergulharam na difícil missão de listar cinco discos (apenas cinco cada um!) que de alguma forma moldaram sua consciência musical adulta e, assim, formataram o que o Elma é hoje. Há um bom poder de síntese e surpresa nesse grupo.

Foto: Samuel Esteves

FERNANDO SEIXLACK (BATERIA)

Wu-Tang Clan – “Enter the Wu-Tang (36 Chambers)” (1993)
Acho massa o som do disco, produzido pelo RZA, os samples de filmes são bem bons. Todas as músicas viraram clássicos.

Ouça “Protect Ya Neck”:

Sonic Youth – “Daydream Nation” (1988)
Nem foi o primeiro disco do Sonic Youth que eu gostei, mas se for pra escolher, eu acho que é esse.

Ouça “‘Cross The Breeze”:

Earth – “Hibernaculum” (2007)
Foi quando lançou esse disco que eu resolvi escutar o Earth e acabei gostando muito.Ouvi vários depois, mas esse ainda é o que eu mais escuto sempre.

Ouça “Ouroboros Is Broken”:

Aphex Twin – “Richard D. James Album” (1996)
Se hoje em dia eu escuto bem mais música eletrônica, talvez a culpa seja desse disco aí.

Ouça “Peek 824545201”:

Melvis – “Bullhead” (1991)
Poderiam ser vários do Melvins, esse é um dos que eu acho bolado!

Ouça “Anaconda”:



PAULO CYRINO (GUITARRA)

Will Haven – “WHVN” (1991)
É o segundo álbum de estúdio deles, lançado em 1999, conheci tarde esse disco. Acho muito foda.

Ouça “Fresno”:

Sepultura – “Roots” (1993)
Nem sei quantas vezes eu escutei já. Curto muito até hoje. Foi o sexto álbum do Sepultura, lançado em 1996. Marcou época, foi uma bela fusão do forte som da banda, com música brasileira e outros experimentalismos. Foi produzido por Ross Robinson.

Ouça: “Cut-Throat”:

Korn – “Life Is Peachy” (1996)
Uma das bandas pioneiras do new metal, o Korn, meu álbum favorito, não canso de escutar até hoje. Produzido também pelo Ross Robinson, em 1996.

Ouça “Swallow”:

Deftones – “White Pony” (2000)
Terceiro álbum deles, lançado em 2000. Essa banda mudou minha vida.

Ouça “Elite”:

Destroid – “The Invasion” (1994)
Ultimamente dubstep mudou minha vida, Destroid é uma banda de dubstep formada por grandes produtores do gênero: Excision, Downlink e DJ Sawka.

Ouça “Destroid 1. Raise Your Fist”:



RICARDO LOPES (BAIXO)

Melvins – “Ozma” (1989)
Quando saiu eu tinha nove anos, fui escutar e entender só com uns 25 anos. Até hoje nunca vi uma banda de metal no Brasil fazendo alguma coisa tão moderna.

Ouça “Oven”:

Neurosis – “Times Of Grace” (1999)
Foi o primeiro disco do Neurosis que me emprestaram com a instrução: “escute”. Era 1999 mesmo, mas eu só fui entender alguns anos depois, quando saiu o “Sun That Never Sets”. Aí, tive que escutar a discografia inteira pra entender que eu passei metade da minha vida em outro mundo. Desde então, eu acredito estar vivendo o mundo que eu nasci para viver.

Ouça “End Of The Harvest”:

NoFX – “Punk In Drublic” (1994)
Não tenho o menor problema em colocar esse disco no meio dos outros. Curto de tudo que o NoFX faz e já fez. Conheci através desse disco em 1994 mesmo. Gosto desse disco pra sempre, e NoFX é a minha coleção de maior prestígio e carinho.

Ouça “Linoleum”:

Black Sabbath – “Vol. 4” (1972)
Meu primeiro disco da vida, o primeiro disco a gente nunca esquece. Em 89, quando o “Ozma”, saiu eu estava tendo minha primeira lição com o Prof. Iommi.

Ouça “Cornucopia”:

Thelonious Monk – “Brilliant Corners” (1957)
Pra mudar um pouco de assunto. Comecei no jazz por aqui. Thelonious é soco no piano, mermão. Sem dó!

Ouça “Brilliant Corners”:



BERNARDO PACHECO (GUITARRA)

Pixies – “Surfer Rosa” (1988)
Foi a única “banda favorita” que eu já tive na vida (não tenho mais), e emblemática da fase em que música passou a ser meu maior interesse, lá por 1991. Meu pai tinha esse LP encostado em casa, acho que comprou e não gostou. Da primeira vez em que eu escutei tambem não sei se gostei muito, não. A “Bone Machine”, com aqueles vocais azedos e aquela levada que entra de ponta-cabeça, tudo no som deles era um pouco fora do lugar, mas acho que foi nessa época que eu aprendi que muitas das coisas mais legais em música não batem de primeira, é na insistência que se consegue, TIPO, ABRIR A CABEÇA, MEU! Não é sempre que rola mas quando vai, vai. Não fosse por isso eu tinha ficado ali pelos Pet Shop Boys e U2 mesmo e hoje talvez achasse os Strokes importantes. Na mesma época chegou o primeiro aparelho de CD lá de casa e meu irmão me deu o “Bossanova” de presente, inaugurou minha coleção de CDs e abriu a porteirinha pro meu vício de comprar discos. Ah, e esse disco tem meu primeiro solo de guitarra favorito, também, na música “Vamos”.

Ouça “Bone Machine”:

Entombed – “Clandestine” (1991)
Tem que ter algum disco de metal na minha lista e esse é o meu preferido. O Entombed tava com fogo no rabo quando fez essas músicas, é uma ideia atrás da outra, sem parar, mas de um jeito bem orgânico. O Nicke Andersson toca um absurdo de bateria no disco, e só uns anos depois eu fui saber que o vocalista ali também era ele, apesar do crédito no encarte ser pra outro cara. Se você reparar ele realmente toca, muitas vezes, respondendo ou antecipando algo que vai acontecer na linha de voz. Infelizmente ele traiu o metal e a própria raça humana pouco tempo depois fundando os Hellacopters, uma banda com uma influência nefasta cujos frutos malignos só estão terminando de desaparecer agora. Quase um césio 137 artístico.

Ouça “Chaos Breed”:

Ismael Silva – “História da Música Popular Brasileira” (1970)
Não é meu disco de samba favorito (esse seria o do Elton Medeiros, de 1973), mas é o que tem que estar na lista. Lá pro final dos anos 90 o dólar disparou e de repente era caro demais ficar comprando disco importado. Na mesma época achei esse fascículo + disco 10″ por um real num sebo na Brigadeiro Luiz Antonio. Levei pra casa e já na primeira ouvida deu aquele clique depois do qual eu descobri que realmente gostava de samba. Por algum motivo nunca consegui gostar de choro, porém, acho que precisa ter alguém cantando ali no meio ou pra mim o negócio vira só um monte de notas musicais sem razão de ser.

Ouça “Se Você Jurar”:

Aphex Twin – “Richard D. James Album” (1996)
Tem bastante gente que faz música eletrônica, já ele faz música e usa a eletrônica pra isso. Quando comecei a trabalhar com som eu era estagiário num estúdio em que o Arrigo Barnabé estava gravando uma trilha sonora. Um cara bem gente fina, acessível e tal. Eu tinha acabado de comprar esse disco, tava todo maravilhado e fui mostrar essa música aí do vídeo pra ele, era a minha preferida. Ele escutou meio com cara de nada e recomendou a “Canção da Juventude”, do Stockhausen.

Ouça “To Cure A Weakling Child”:

Derek Bailey – “Music And Dance” (1980)
O Derek Bailey dizia que gostaria de discos se cada um só pudesse ser escutado uma vez, pra pessoa escutar pra valer. Aprendi a ouvir música desse jeito com esse CD (que já ouvi muitas vezes, por sinal) mas infelizmente acho isso cada vez mais difícil de fazer. A Internet é boa, mas é uma merda.

Ouça “Rain Dance”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Fora Do Beiço”.

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