GIALLOS – MISSA DO GALO

Numa sociedade governada por fundamentalistas religiosos, como o Brasil se deixou afrontar com a eleição de 2018, “Missa Do Galo”, o terceiro disco cheio do Giallos, se torna um manifesto. Um desabafo. Uma pichação na cara dos idiotas.

Nas onze faixas, “Missa Do Galo” atira pra todo lado, sempre acertando com guitarras rápidas e barulhentas, vocais declamados e letras certeiras a cabeça vazia dos seres que odeiam o próximo só pelo próximo ser diferente.

Em “Colonial”, sociopatia e cruzes e armas de fogo. “Pilhagem” tem o peso amargo dos séculos de colonialismo pros dias atuais. “Virgem” fala da inconsequência dos atos. “Tupac Amaru Overdrive” é sobre hipocrisia. “São Paulo é uma merda elitista / Voltem para as suas casas / Desviem dos corpos no caminho”, diz “Rádio Diáspora”. E por aí vai: o Giallos não é um grupo pra ficar em cima do muro, com medo do combate.

Três anos depois do excelente “Amor Só De Mãe”, de 2016 (leia e ouça aqui), o trio arrebenta a porta com ainda mais violência, velocidade e raiva. Não há sossego. As guitarras se sucedem, música a música, como se não pudessem ter o direito de descansar. A bateria eufórica, como se quisesse destruir e amassar privilégios, assume a artilharia porque entende como um ato necessário.

A vigilância que a nossa geração deve ter se coloca em várias frentes. A mais importante delas é não desanimar diante da abstração em face da história. “Acorde!”, suplica o Giallos. Acorde pro assalto que estão realizando enquanto ficamos ajoelhados diante de algum deus qualquer – celulares, jogos eletrônicos, igrejas, bares, televisão, filmes de super-heróis, mentiras nas redes sociais.

O altar não nos permite ouvir o que “Brown Brown” grita: “A nossa geração é uma merda / Mas andamos juntos / Sentamos na mesma mesa / Vestimos as mesmas roupas / Só não morremos da mesma forma / Da mesma bala / Na mesma dança / Das mesmas drogas / No mesmo Rock and Roll / Nós só viemos aqui para nos divertir”.

Cada um reza a cartilha que quiser. Cada um acredita do livro que quiser. Cada um se envolve na mentira que se sente melhor. Mas vai ter que aguentar uma obra como “Missa Do Galo”, de vem em quando, fungando no seu cangote pra ver se acorda e encara a realidade de que não há terra prometida sem uma luta sangrenta prévia.

“Missa Do Galo” foi produzido por Luis Tissot (Thee Dirty Rats) e Giallos. A gravação se deu no Caffeine Sound, em janeiro de 2019. Tissot também assina a mixagem e a masterização.

01. Colonial
02. Pilhagem
03. Descuido
04. Virgem
05. Crocodilagem, Armas De Fogo
06. Tupac Amaru Overdrive
07. Verdades
08. Vodu
09. Dois Copos
10. Brown Brown
11. Radio Diáspora

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