Talvez Jhones Silva seja o artista mais perturbado com a situação social convulsiva que o Brasil vive (desde sempre). Ele se incomoda com o que vê, ouve e vive e transporta isso pra sua música. Não são poucas as suas obras que tratam da miserabilidade causada pela segregação secular.
Em “Reação Carnificina”, é o ódio o mais novo alimento visceral da nossa desigualdade. Quer dizer, o ódio de classes sempre existiu por parte de uma elite que ainda vive na idade média e por uma classe média que não quer ser alvo desse ódio e discriminação. O resultado é exatamente o presente que vivemos.
Mas quem alimenta esse ódio é uma máquina bem articulada, de engenharia primorosa que culmina no ódio perpetuado inclusive por aqueles que sempre foram alvos desse ódio. O ódio que alimenta o ódio. É uma perfeita composição pra sua manutenção.
O God Pussy se indigna e não é fazendo poesia pra diretórios acadêmicos (não que tais manifestações não seja válidas), é jogando em som o símbolo dessa distorção que é nossa sociedade de um capitalismo arcaico e predador. Um sistema que se alimenta da intriga e da separação. Um sistema de ruídos, muito mais do que de diálogo e entendimento.
Semear o ódio é muitas vezes uma reação de quem foi adubo pra odiosos. Não há compreensão nessa agricultura. Nas cinco faixas do disco, mais um entre as incontáveis manifestações de Silva, habituado a transportar sua leitura dos mais diversos temas de embate social moderno, é o atrito que tem voz. Suas microfonias e manipulações nos colocam de frente ao absurdo.
Não deveria ser difícil de ouvir: esse é o som do nosso intrincado cotidiano. Ação e reação. Difícil deveria ser engolir um amor irreal.
“Reação Carnificina” foi publicado no Bandcamp dia 18 de maio de 2018, num lançamento via Ruído Horrible.
1. Semeando Ódio Pt1
2. Semeando Ódio Pt2
3. Semeando Ódio Pt3
4. Semeando Ódio Pt4
5. Semeando Ódio Pt5
