NADA SURF NA FNAC PAULISTA – COMO FOI

Os relógios públicos já anunciavam cinco horas da tarde e eu tinha certeza de que pegaria um bom lugar na possível fila que se formaria na saída da Avenida Paulista que a Fnac tem. É uma das vantagens de trabalhar por conta própria, em casa.

Mas qual nada! Já havia uma considerável fila nesse horário. Era o primeiro anúncio de que, sim, o Nada Surf é popular.

Na segunda vez que vem ao Brasil, o Nada Surf faz uma enorme turnê. São sete datas (a primeira já havia acontecido, domingo, no Abril Pro Rock, em Recife). De quebra, surgiu esse pocket show gratuito na Fnac, quase de surpresa, anunciado uma semana antes.

Marcado pras sete da noite, no coração da cidade, a ideia aparentemente era dificultar mesmo – local com lotação limitadíssima, a retirada das poucas pulseiras de entrada (140 no total) seria feita uma hora antes. Quem poderia estar lá às seis da tarde, em plena segunda-feira, numa cidade maluca como São Paulo? Certamente, quem trabalha e tem lá suas responsabilidades ficou impossibilitado.

Mas o Nada Surf é popular – e entre os indies jovenzinhos, de 16 a 25 anos, o que garantiu a lotação do pequeno espaço que a livraria guarda pra essas apresentações (nessa faixa de idade é provável que os horários sejam mais flexíveis, embora, a gente sabe, não se caracterize uma regra).

Confesso que não imaginava tanta juventude no show do Nada Surf. A banda tá nessa há 20 anos e o primeiro disco, “High/Low”, é de 1996. Tinha gente ali que nem havia nascido quando o trio deu as primeiras notas.

Mas “Always Love” na trilha de alguma série de tevê fez a cama, além de pérolas espalhadas em todas a sua discografia (há quem diga, não sem pouca razão, que o Nada Surf é basicamente uma banda de singles, que coando bem, daria uma ótima e vibrante coletânea). É uma discografia vasta: “The Proximity Effect”, de 1998; “Let Go”, de 2002; “The Weight Is A Gift”, de 2005; e “Lucky”, de 2008 (além do citado disco de estreia). Pro sucesso, também contam muito o disco de coveres lançado em 2010, “If I Had A Hi-Fi”, e o recente e de mais fácil digestão, “The Stars Are Indifferent To Astronomy”, de 2012.

Lá dentro, no apertado espaço, a coisa ficou meio confusa, mas Matthew Caws, Daniel Lorca e Ira Elliot (ajudados por Martin Wenk, do Calexico, nos teclados e sopros; e Doug Gillard, que já foi do Guided By Voices, na guitarra solo) trataram de tentar colocar ordem, pedindo pra quem estivesse na frente se sentar. Na medida do possível, o pedido foi aceito.

Não havia setlist preparado. A apresentação seria acústica (acústica-plugada, bem entendido) e a banda tinha algumas canções em mente, mas no decorrer foi aceitando os pedidos da plateia. Plateia que conhecia bem a obra do trio (quinteto): do total de treze canções, duas vieram do “The Proximity Effect”, três do “Let Go”, duas do “The Weight Is A Gift”, uma do “Lucky”, e cinco do mais recente disco. A maioria delas teve coro e era reconhecida nos primeiros acordes.

É isso, claro: o Nada Surf é popular.

Mesmo as músicas novas, como “Looking Through”, que abriu a apresentação, e “When I Was Young”, tiveram boas recepções. Apenas “Jules And Jim” e “The Future” foram recebidas com maior frieza. Mas o resto, todo o resto, mereceu tratamento de hit band.

Tá certo que a banda ajudou. Estava simpática, aceitando todos os pedidos. Foi assim que resolveu tocar “80 Windows”, “Concrete Bed”, “Hyperspace” e, principalmente, “Always Love”, o encerramento pra alegrar todos os mocinhos e mocinhas.

Meu destaque, porém, vai pra “Paper Boats”, também tocada a pedidos – muitos pedidos. A música pareceu tirar dos cinco a maior impressão emocional. Principalmente quando da já usual citação de “Ocean Rain”, do Echo & The Bunnymen, no seu final.

Nesse mar de hits em que a banda surfou fácil, curiosamente ficou de fora o maior sucesso de todos, “Popular” – mais curioso ainda foi o fato de ninguém ter pedido a música. A produção do Cars Ric Ocasek é uma canção que satiriza… os adolescentes. Faz sentido, será?

No final, um bocado de gente correu pra comprar o CD novo (numa bela embalagem digipack) pra que a banda autografasse. Uma enorme fila se formou pra tietagem geral. O dublê de Chico César, o baixista Daniel Lorca, simpaticíssimo, tirava fotos com suas sapecas e sorridentes fãs. Nada como ser popular.

O saldo foi bom. Este foi um show único justamente por propiciar essa interação com o público. Nada disso, porém, se repetirá nas outras praças por onde a banda passar. Ao contrário. Mas não é algo a se lamentar: os shows “elétricos” devem ser melhor, mais enérgicos, com guitarras altas e distorcidas (alternando com as limpas, é a boa lembrança que tenho dos shows de 2004). Porque o Nada Surf é assim: um grupo que consegue agradar novos e velhos fãs.

01. Looking Through
02. Happy Kid
03. Clear Eye Clouded Mind
04. 80 Windows
05. Jules And Jim
06. Weightless
07. Paper Boats
08. Blizzard Of ’77
09. When I Was Young
10. Concrete Bed
11. Hyperspace
12. The Future
13. Always Love

Veja “Looking Through”:

“Concrete Bed”:

“80 Windows”:

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Comentários

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6 comentários

  1. O show foi basicamente igual ao de Recife, a maioria das músicas das quais atenderam dos pedidos já estava no setlist do último show, mas isso não exclui o fato da banda ser extremamente simpática e agradar o público.
    Os vi duas vezes em 2004, em São Paulo e em Taubaté, onde o show foi bem pequeno e tive a chance depois de conversar com todos os 3 no final, eles são mto receptivos, foi fantástico.
    Agora, oq queria saber é se alguém pediu stalemate, pq essa sim está fora dos últimos sets q fizeram e hj vou ser a voz no meio da galera gritando o nome dessa canção.

  2. Sinceramente, não sei dizer. A cada intervalo, era uma saraivada de pedidos, que duvido que a banda pudesse ouvi-los ou distingui-los, a não ser os daquelas pessoas bem próximas ao palco. Ficava uma balbúrdia.

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