NOISE WAVES #17: THE TELESCOPES – TASTE

Por conta das recentes ótimas notícias (veja no penúltimo parágrafo), a “Noise Waves” não teria escolha a não ser dissertar e tentar elucidar o motivo real da adoração e devoção deste que vos escreve por algo absolutamente cultuado e sagrado. Diretamente de Burton-on-Trent, Inglaterra, os “terroristas maníacos-culturais” do The Telescopes.

Vou falar aqui de uma das bandas mais importantes da minha vida. Então, o egocentrismo, a megalomania e todo o enaltecimento é coisa de fã – e quando um fã verdadeiro resolve falar/escrever sobre (suas) obras-primas é melhor ou entrar junto de cabeça ou cair fora de vez.

Isso posto, é hora de se aprontar pra experiências que vão desde a mais tenra audição e experimentações, até o mais agressivo e enaltecido urro de desconforto contra tudo e todos, não necessariamente neste ordem.

Stephen Lawrie é o gênio por trás deste patrimônio da música. Os ‘Scopes iniciaram em 1986 e, em conjunto com o Spacemen 3 e o Loop, criaram um conceito de druggy sounds extremamente agressivo e perturbador. Mas diferentemente da concepção drone do Spacemen 3 e do conceito kraut do Loop, o Telescopes preferiu seguir o lado sangrento e doentio, músicas explicitamente caóticas, como “7th Disaster”, “Violence”, “Threadbare”, “Please Before You Go”, “To Kill A Slowgirl Walking” e a derradeira “Suicide”, fizeram dos ‘Scopes a banda mais perigosa e ameaçadora daqueles insanos anos do inicio de carreira.

As apresentações eram sempre provocativas e convidativas pra que um verdadeiro caos tomasse conta dos músicos e do público – este, por sinal, extremamente devoto e fiel. O teor de violência explícita evidenciado nas guitarras que gritavam e sangravam, ou nos urros de Stephen Lawrie a cada verso das músicas, fazia estremecer até o mais desavisado.

A discografia inicial do Telescopes é centrada especificamente nesta postura de autodestruição, desespero, medo, dor e barulho, muito barulho. As guitarras de David Fitzgerald ficaram definitivamente marcadas na história no clássico absoluto que atende pelo nome de “Taste”.

“Taste” é a trilha sonora perfeita pro fim do mundo, com um desfile doentio de pérolas: “Threadbare”, “There’s No Floor”, “Antecipating Nowhere”, a desesperadora “Please Before You Go”, e um dos maiores clássicos da música alternativa de todos os tempos, “The Perfect Needle”, uma daquelas canções tidas como perfeitas.

Mas “Taste” ainda reserva as insanas “Suffercation”, “Silent Water” e a despedida cruel com “Suicide”, que choca até nos dias de hoje. Note, “Taste” é do longínquo 1989, e se faz mais atual do que jamais foi.

Ouça “The Perfect Needle”:

Os ‘Scopes, depois de quase se autodestruírem radicalmente, mudaram e lançaram pérolas de psicodelismo, todos da fase Creation, e encerram as atividades em 1994.

Mas Stephen ainda tinha muito a dizer e surpreendeu a todos reformulando o Telescopes novamente e retornando às atividades em 2002, lançando “Third Wave” e outros álbuns extremamente experimentais e carregados de drone: “#4” (2005), “Infinite Suns” (2008) e pra total deleite este ano lançaram o novíssimo EP “Black Eyed Dog”, que eu aconselho audição imediata.

Atualmente os ‘Scopes são Stephen Lawrie e músicos de diversas bandas altamente experimentais, como One Unique Signal, Koolaid Electric Company, The Fauns e outros. Em conjunto com Stephen estão desde 2011 tocando pelo mundo o clássico “Taste” na integra, mesclando-o com os EPs da fase “What Goes On”.

Um tributo em vida à obra de terror cultural perpetuada pela mente enigmática de Stephen.

Digo “enigmática” pois eu tive o grande orgulho de entrevistá-lo no TBTCI. Stephen Lawrie é assim, puro e corrupto, como ele mesmo cita em determinado momento. Após a entrevista que fiz com Stephen, acabei interagindo via rede social com ele e sempre conversando sobre as novas bandas e como têm sido esses shows que resgatam o fabuloso e espetacular “Taste”.

Porém mal poderia imaginar que um belo dia eu veria no Brasil este patrimônio da música e da minha própria história. Posso afirmar que não sei o que acontecerá nos dias 30, 31 de outubro e 1º de novembro (N.E.: O Telescopes vêm ao Brasil nessas datas, leia aqui). Somente posso dizer que este é o show de um álbum que serve exatamente pra quem tem demônios internos e não pretende soltá-los tão lentamente. E é imperdível.

O perigo e o prazer estarão frente a frente quando outubro chegar e eu estarei confrontando meu ídolo de frente. Eis, então, que o refrão dessa canção ressoa na minha mente: “Hurts too much to be where you are, I’ve got the perfect neede, I’ve got the perfect needle for yoooooooooooou, foooooor yoooooooou…”. E resoará em cada uma das mentes que estiverem presentes.

Deus salve Stephen Lawrie.

Álbum – Taste
Lançamento – 12 de junho de 1989
Gravadora – What Goes On
Tempo total – 39 minutos e 07 segundos
Produção – Richard Formby

01. …And Let Me Drift Away
02. I Fall, She Screams
03. Oil Seed Rape
04. Violence
05. Threadbare
06. The Perfect Needle
07. There Is No Floor
08. Anticipating Nowhere
09. Please, Before You Go
10. Suffercation
11. Silent Water
12. Suicide

Renato Malizia é editor do blogue The Blog That Celebrates Itself.

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Comentários

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3 comentários

  1. […] O Telescopes tem dois discos lançados (na primeira fase, até 1992) e uma cacetada de singles e EPs. “Taste”, 1989; e “The Telescopes”, de 1992; são obrigatórios. Detalhe: essa é a turnê da banda tocando na íntegra o “Taste”. Pra ler mais sobre a banda e o disco, clique aqui. […]

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