RESENHA: THE TELESCOPES – AS LIGHT RETURN

Desde que voltou em 2002, com “Third Wave”, Stephen Lawrie sempre deixou claro que a idade e o tempo não seriam motivos pra curar suas neuroses. Nascido em 1969, Lawrie montou o Telescopes em 1986, lançou a porrada “Taste” em 1989 e “The Telescopes” em 1992 pra então mergulhar num obscurantismo autorreflexivo que talvez tenha significado sua salvação – lançando esporadicamente como Unisex, ao lado da baixista Joanna Doran.

Quando criança, canções dos Beatles como “Tomorrow Never Knows” e “Helter Skelter” fascinaram Lawrie, que passou a olhar noise como forma de expressão, ao invés de um corpo estranho. Ao mesmo tempo, o Velvet Underground fez sentido perfeito na sua adolescência. Ele conseguia enxergar humanidade naquelas guitarras distorcidas.

Mesmo assim, não estava preparado pro impacto que causou aos vinte anos com o lançamento de “Taste” (leia mais aqui), O segundo disco foi amenizado e até ganhou as paradas independentes inglesas, mas Lawrie escangalhou de vez a cuca e preferiu se recolher, enquanto a imprensa e os fãs tratavam de colocar o Telescopes no mesmo altar de Jesus & Mary Chain, Spacemen 3, Loop e My Bloody Valentine.

“As Light Return” (leia detalhes e ouça na íntegra aqui) é um disco “menor” em sua discografia, mas diz muito sobre sua história. Desde que voltou em 2002, o seu Telescopes tem fincado fundações na sua preferência barulhenta, com exceções de inserções eletrônicas, como em “#4”, de 2013. Com “Harm”, tinha caminhado a um extremo, que logo foi retrocedido (não sem brilhantismo) com “Hidden Fields”, pra então chegar a este trabalho.

É como se Lawrie tivesse tido uma visão qualquer, do seu passado que seja, que conecta os dois tempos. Como se não tivesse havido recesso. O Telescopes nunca tivesse parado. “Something In My Brain”, a insanamente hipnótica quarta faixa, é o artista vasculhando sua mente e descobrindo o inevitável, as memórias, o passado.

“De um vazio angustiante”, segundo o próprio, ele tirou a inspiração pro disco. Não é como se Lawrie estivesse perdido ou se arrependesse de algo. É bobagem, já que ele está constantemente se testando em torno da mesma matriz. É só que de vez em quando é bom lembrar a si mesmo sobre sua essência.

NOTA: 9,0
Lançamento: 7 de julho de 2017
Duração: 40 minutos e 11 segundos
Selo: Tapete Records
Produção: Stephen Lawrie

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