OFF FESTIVAL 2014 – COMO FOI

Férias. Talvez essa seja a única coisa na minha vida inteira que eu realmente me planeje e programe. No começo do ano, quando Pedro Oliveira, mais conhecido como I Buried Paul, esteve por São Paulo (o sortudo mora em Berlim) e me falou do OFF Festival, me empolguei: queria um destino diferente e a Polônia, país que sempre quis conhecer, teria esse final de semana como uma cereja no bolo dessas férias.

A programação dava como trecho final, Katowice, o centro industrial no sudoeste polonês, com 310 mil habitantes, próximo da Alemanha e a oitenta quilômetros de Cracóvia, cidade turística e patrimônio da humanidade. Tudo redondo, tudo certo.

Essa cereja, veja só, oferecia shows do The Jesus & Mary Chain, Slowdive, Hookworms, Neu!, The Notwist, Loop (que depois cancelou), Earth, Neutral Milk Hotel, Belle & Sebastian, Wolf Eyes, Black Lips, Clipping., Chelsea Wolfe, Deafheaven, Glenn Branca e muitos eteceteras aí. Que escalação!

Mas algo deu errado. As férias não foram liberadas, não rolou. Frustração. Tristeza.

Pedro, porém, foi. E seu texto abaixo, detalhado e preciso (e precioso), me aproximou daquelas férias que não aconteceram, me estimulou a tentar, de qualquer forma, comparecer a Katowice em 2014, quando o OFF completa dez anos de existência.

Do jeito que o festival se apresenta e pela história que Pedro conta abaixo, o OFF Festival é fácil um dos melhores eventos musicais do mundo.

Não é exagero. Preços bem em conta, organização impecável, facilidades e respeito aos clientes e escalação primorosa: tudo o que não vemos nos festivais brasileiros, que, ao contrário, pregam a cartilha do quanto maior, melhor.

Pedro nos conta aqui como foram os shows, como é a organização, a estrutura, dá uma geral nos preços, na praça de alimentação, como são os costumes locais e como é a relação das marcas que patrocinam o festival.

Você verá que, ao contrário do que acontece no Brasil, cujos eventos são plataformas invasivas das marcas pra com o público, aqui a agressão visual da turma do marketing não acontece. E verá também que, mais uma vez ao contrário do que acontece no Brasil, é um evento pé-no-chão: nada de cem mil pessoas, nada de shopping center, tudo parece ser pensado pra oferecer o máximo de conforto ao público. Assim, as pessoas podem se divertir muito mais. É lógico.

Mais do que isso, é um evento que pensa na música, mais do que na festa, no oba-oba. Isso aqui a gente ainda precisa aprender. E é por isso que vale juntar cada centavo, cada caraminguá, pra tentar viver essa experiência.

EU AMO TODOS OS SONS
Texto: Pedro Oliveira
Fotos: Luiza P. e Pedro Oliveira
Vídeos: OFFfestivalTV e Katowice Oficjalny Kana?

Quem participa da comunidade da Sinewave no Facebook, ou teve paciência de ouvir o episódio d’O Resto É Ruído que participo (Nota do Editor: o número 42, de abril de 2014) deve ter sacado que sou um defensor assíduo do OFF Festival, na Polônia.

No entanto, a cidade de Katowice (ou mesmo o país com essa língua incompreensível) podem parecer destinos um tanto quanto não-ortodoxos se você não mora numa distância, digamos, menor do que a um Oceano do festival. Depois de voltar da minha segunda empreitada por Katowice, decidi escrever uma resenha, mais caminho das pedras, pra quem se interessa em conferir um dos festivais de verão que ainda se mantém “fora do circuito” e justamente por isso acaba sendo um dos mais diversos e interessantes a se conferir. Preparados?

O OFF Festival é relativamente novo: 2014 foi sua nona edição. Desde 2009 ele acontece no “Three Ponds Valley”, em Katowice, cidadezinha do sudoeste polonês que, curiosamente, é um pólo cultural. A curadoria geral do Festival (ou “direção artística”, como queira) é sempre de Artur Rojek, músico da cena alternativa da Polônia que, segundo o próprio, “ama todos os sons”.


Entrada do festival, com mensagem de Michael Gira

Em 2013, não me lembro exatamente como, fiquei sabendo da existência deste Festival e, ao conferir o line-up (que incluía Stephen O’Malley, Godspeed You! Black Emperor, My Bloody Valentine, entre outros), o preço e as condições, não pensei duas vezes e comprei o ingresso. Não me arrependi um segundo, foi uma das experiências mais legais que tive. Motivado por isso, comprei os ingressos para a edição deste ano sem saber direito ainda a escalação do festival – confiando que seria muito bom.

Este ano, entre as coisas que gostaria de ver, estavam Neu!, Neutral Milk Hotel, Slowdive, Deafheaven, 65daysofstatic, Chelsea Wolfe e Clipping. Qual foi a minha surpresa quando, de maneira inédita, eles anunciaram um dia “pré-Festival” com curadoria de ninguém menos que o All Tomorrow’s Parties, que imediatamente adicionou bandas como Loop (que acabou cancelando de última hora, sendo substituído pelo Tuxedomoon) e Earth? Eu contei um pouco sobre como foi o Earth lá no Intervalo Banger, passem por lá também.

Porém, diferente do ano passado, no fim das contas este ano o Festival surpreendeu pelos shows que vi porque simplesmente pareciam interessantes pela descrição do livreto que você ganha quando entra no local. Em 2013, alguns nomes da escalação eu tinha ouvido falar, mas não animei de ver e no fim das contas, depois do festival em algum momento, acabei conhecendo a fundo e me arrependendo amargamente de não ter visto: melhores exemplos disso seriam o trabalho incrível da Fatima al-Qadiri, bem como o eletrônico torto da Laurel Halo.

Este ano as “estrelas” do line-up não eram exatamente todas do meu agrado (ou seja, Belle And Sebastian), então reservei uma parte muito maior dos meus dias pra conhecer bandas novas. Vou dividir, então, o texto em duas partes a partir daqui: uma comentando meus shows preferidos do festival, e outra comentando o que acontece “em torno” dos shows: comida, áreas de descanso, banheiros, filas etc. No final farei um apanhado das características do festival que acho que valem a pena ser faladas e uma estimativa média de custos.

OS SHOWS – SEXTA-FEIRA

O OFF Festival dura um final de semana (sexta a domingo), com abertura da área do festival por volta das duas da tarde, o primeiro show rolando às três e encerrando por volta de quatro e meia da manhã.

Ou seja, é cansativo e exige muitas pausas ou uma boa programação. Acredito que pra quem fique no camping seja mais tranquilo, dá para pular uns shows e tomar um banho e dormir um pouco, mas quem fica direto, como eu, acaba desistindo das bandas mais na madrugada. De praxe, o festival sempre mescla um bom número de bandas locais com atrações internacionais, e ainda promove um festival pra bandas novas ganharem um espaço por lá. Normalmente são estas bandas que abrem os palcos por dia, então vale ficar atento pra conhecer coisas boas. Além do mais, o “Palco Experimental” é sempre temático por dia – este ano, a sexta teria curadoria da Sub Pop, o sábado seria dedicado à música folk polonesa e o domingo teria curadoria do Glenn Branca.

Na sexta (1º/8) chegamos cedo e trocamos nosso dinheiro pra poder almoçar, e enquanto comíamos um delicioso Pierogi ouvi de longe o Anthony Chorale e gostei bastante, em alguns momentos me lembrou bastante o Low. Ouvi de longe também o tal do Los Campesinos! e confesso que achei bem ruim. Na verdade estava me preparando pra pancada que seria o Cerebral Ballzy, que destilou um punk/hardcore que nitidamente homenageia Bad Brains e Black Flag, com um vocalista falando mole de tão bêbado e tomando Jägermeister direto da garrafa entre uma música e outra.

Depois peguei só o começo da Lyla Foy e achei bem chatinho, então resolvi ir ao palco oposto, onde tocou o Perfume Genius. Achei o show e os sons bem interessantes, embora tenha reparado que as músicas são absurdamente curtas.

Descansei um pouco pois estava ansiosíssimo para ver o Clipping., que pra mim lançou um dos grandes discos de 2014, “CLPPNG”. O show dos caras foi tudo aquilo que eu esperava: barulho, texturas estranhas, ruídos repetitivos e a metralhadora de versos do Daveed Diggs. Nitidamente surpresos com a recepção muito calorosa do público, o show foi incrível. No final, vimos o maior pedido de bis do festival que, infelizmente, não pôde ser atendido pela banda. Saindo de lá peguei o primeiro terço da Orchestre de Poly-Rythmo de Cotonou que colocou todo mundo pra dançar com seus Voduns que, em muitos momentos, lembram nossa música latina e caribenha. Tentei pegar um pouco do Oranssi Pazuzu mas o show estava acabando e minha cabeça ainda estava se adaptando ao mundo pós-clipping.


Neu!

Resolvemos descansar e pegar grade pro show do Michael Rother que estaria apresentando músicas dos seus Neu! e Harmonia. Som muito bem regulado, Michael sobre no palco tímido acompanhado de um guitarrista e um baterista e seguiu-se uma hora de Motorik, clássicos absolutos do Neu!, como “Hallogallo” e “Negativland”, bem como materiais solo, tocados numa semi-escuridão pontuada por imagens de Autobahn alemãs. Um show literalmente viajante que era populado por todo tipo de fã esquisito que você pode imaginar. Michael, agradecendo efusivamente, controlava tudo (samplers, sintetizadores e guitarra), e por várias vezes sorria com a resposta do público.


Neutral Milk Hotel

Por fim, já cansados, nos acomodamos no primeiro show lotado do festival: o Neutral Milk Hotel tocou tudo aquilo que se esperava, ou seja, “In The Aeroplane Over The Sea”, acompanhado de materiais solo de Jeff Mangum. A banda é extremamente competente e as músicas arrepiam demais, principalmente se considerando a proximidade entre Katowice e Auschwitz (N.E.: aproximadamente 40 quilômetros), a história da Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e o tema abordado no disco. Desistimos dos shows que viriam depois e fomos dormir, porque o dia havia sido longo e estávamos de botas esperando uma tempestade anunciada pela meteorologia que no fim não aconteceu.

OS SHOWS – SÁBADO

No sábado (2/8), saímos atrasados e debaixo de um sol de trinta e tantos graus e logo de cara pegamos o show do Jerz Igor, que segundo o livreto do festival lançou um disco “pra crianças”, que fez um sucesso enorme entre adultos na Polônia. Todos assistiam ao show sentados e achei a música um tanto quanto “segura” porém bem boa, mesmo sem ser capaz de entender as letras.


Xenia Rubinos

No palco ao lado, Xenia Rubinos passava o som e esse foi um dos únicos momentos em que vi um som atrapalhando o outro. Porém, os samples e ritmos que vinham do palco me convenceram a ficar pra ver o show dela – e não me arrependi. Xenia é americana de origem cubana e porto-riquenha, toca teclado e canta, e é acompanhada do baterista Marco Buccelli, que toca os ritmos mais tortos que você pode imaginar. Ela no palco é incrível, canta muito e tem uma energia memorável. O som é como imaginar se a Björk fizesse parte do Battles, e eventualmente cantasse em espanhol. Recomendo fortemente a todos leitores do Floga-se que ouçam o preview no Bandcamp dela.

Imediatamente em seguida fomos ver o Hookworms, outra grata surpresa com suas batidas Motorik remetendo ao Neu! de ontem, porém com MUITO reverb na voz e guitarras mais distorcidas. Paramos pra tomar uma cerveja e descansar sentados num pufe, enquanto assistíamos o Deafheaven no palco principal. Acho o hype em cima da banda um pouco forçado demais e já tinha ouvido falar que ao vivo não era boa, e isso se confirmou logo na primeira música que eles tocaram. Como estava de longe e sentado resolvi ouvir até o fim e realmente continuo sem entender a adoração, mas enfim…


Chelsea Wolfe

Mais tarde, vi Chelsea Wolfe pela terceira vez e não tenho medo de dizer que ela vai muito, mas muito longe. O som e o show dela são incríveis, a banda é absolutamente competente e todo o ar de mistério que ela cria em torno de sua figura no palco é fundamental pra experiência do show. O set foi um apanhado da carreira e pra mim o grande destaque foi, além da abertura com “Movie Screen”, a execução de “Tracks (Tall Bodies)”, que não tinha rolado em nenhum dos outros que vi. Depois vi o começo do Bo Ningen mas achei J-rock demais pro meu gosto. Estávamos bem cansados e pulamos The Jesus & Mary Chain (sei que é favorita da casa, desculpem – N.E.: em vista do que o Jesus fez em cima do palco nos últimos quinze anos, ok, ok), mas o cansaço não deixou e não fazia questão.

OS SHOWS – DOMINGO

O domingo (3/8) foi, talvez, o dia mais interessante. Chegamos bem cedo e vimos uma performance curiosa de Ebola Ape (um péssimo nome pra se ter nestes últimos tempos), que mandou um trip-hop à lá Massive Attack com pitadas de Trap bem interessante. Em seguida vimos um pouco do Thaw que foi uma grande decepção – um pseudo-black metal com pitadas de mamãe-quero-ser-o-Sunn O))) que pra mim soou mais pretensioso do que bom. Fora que, me desculpem, mas estava um calor de trinta e três graus e os caras me sobem no palco de moletom com capuz…

Enfim, desistimos e fomos assistir ao Perfect Pussy, banda de hardcore barulhenta com influências nítidas de Riot Grrrl. O show foi uma pancada só, mesmo que prejudicado pelo microfone da Meredith falhando toda hora. No final, o tecladista (!!!) fez uma micro-performance de noise que ouvimos à distância enquanto nos preparávamos pra ver o Merkabah, cuja descrição no livreto como “Avant-garde? Post-metal? Hippie Psychedelia?” me chamou atenção.

A banda é incrível, lembra um Zu mais comedido ou um pouco mais matemático, com leves pitadas de Klezmer e heavy metal. Pelo que pude sacar depois, eles tocaram o disco mais recente, “Moloch”, na íntegra, e ele pode ser ouvido e baixado do Bandcamp dos caras, imperdível. Depois, sentamos no palco experimental pra ver um trecho da performance do Evan Zyporin, um dos fundadores do Bang On A Can All-Stars. Estava bem cheio e o som era bem pontuado e repleto de silêncios, o que ficava difícil ouvir com atenção quando o chato do Andrew WK toca no outro palco que, mesmo longe, invadia o som. Resolvemos pegar uma cerveja e assistir à passagem de som da Orquestra de Varsóvia, que em alguns minutos tocaria sua leitura do “Song Reader”, do Beck. Não sou um grande fã do Beck então ouvi o show meio que despretensiosamente, mas pareceu bacana.

De volta ao palco experimental, assistimos boquiabertos ao show do Nisennenmondai, um trio japonês que toca grooves psicodélicos repetidos à exaustão. Saímos um pouco antes (mesmo querendo ficar até o final) pois logo em seguida os grande astros do festival, Slowdive, tocariam no palco principal. Por isso, conseguimos um bom lugar na segunda fila e logo em frente ao Neil, e o que se seguiu por uma hora e quinze minutos foram puro êxtase.


Slowdive

É incrível o que essa banda consegue fazer ao vivo, a precisão dos timbres, dos sons, a confluência entre a voz da Rachel e o reverb da guitarra. Em alguns momentos do show, como em “When The Sun Hits”, eu tinha a sensação que o mundo estava acabando e todos ali estavam perfeitamente em paz com isso. Em outros, como em “Catch The Breeze” ou “Souvlaki Space Station”, a sensação era estar nadando nas texturas de baixo e guitarra. O final, com o cover do Syd Barrett (“Golden Hair”), foi de arrancar lágrimas de muitos presentes, incluindo este aqui.


Fuck Buttons

Mas para nós o festival ainda não havia acabado. Logo em seguida, vimos de longe o show lotado do Fuck Buttons, com um dos timbres mais graves e distorcidos do festival, emendando uma música na outra sem parar e enchendo a área do festival com aquele techno torto, distorcido e cheio de samples de origem duvidosa, que tornam o som deles tão incrível. Foi difícil ficar parado, mesmo com o cansaço batendo.

Por fim, pra fechar nossa programação do festival com chave de ouro, 65daysofstatic e sua parafernália de equipamentos tocou por mais de uma hora um clássico atrás do outro, sem tanta fritação eletrônica como quando os vi em 2010, e mais focado nas trilhas apocalípticas e maximalistas que são a característica-chave do grupo. Pra mim, as mais antigas foram o ponto altíssimo do show, como “Retreat! Retreat!” (cujo sample foi recitado em uníssono) e “Radio Protector”. Intensa e pesada, esta sequência final dos três últimos shows que vi me deixaram em estado de graça. Texturas sonoras e guitarras com muito reverb e delay me levitavam a três palmos do chão, somados com aquele êxtase que só o cansaço acumulado proporciona. Com os pés naquele estado que doem tanto que param de se existir, devagar caminhamos pro ponto de ônibus já fazendo as contas pra voltar em 2015.

SALDO

No fim meu Top 5 do Festival ficou assim:

1. Slowdive
2. Clipping.
3. Xenia Rubinos
4. Neu!
5. 65daysofstatic

Menções honrosas:
Hookworms
Nissenenmondai
Merkabah
Fuck Buttons
Neutral Milk Hotel


Matéria local sobre o festival

A EXPERIÊNCIA COMPLETA

Como muito discutido aqui no Floga-se e n’O Resto É Ruído, é de extrema importância que Festivais dediquem uma parte significativa do seu planejamento a não só evitar filas quilométricas e dar conta da demanda dos presentes, mas também de oferecer serviços de qualidade que complementem a experiência de passar o dia todo em um lugar só. Neste caso, o OFF não decepciona nem um pouco: três áreas de alimentação com a presença de restaurantes renomados da região fazem com que a fila de espera dificilmente ultrapasse os cinco minutos, e o preço, por incrível que pareça, seja absolutamente acessível.

Opções não faltam: desde os tradicionalíssimos Pierogi (uma massa recheada tradicionalmente com batata e queijo, com molho de cebola por cima) e Ch?odnik (sopa gelada de beterraba e iogurte) a currys indianos, hambúrgueres, falafel, crepes, sorvetes etc. Vegetarianos, veganos e alérgicos ao glúten estão muito bem servidos; eu diria que a proporção de comida vegetariana pra carne é de 60/40, ou seja, chega a ter mais opções sem carne do que com ela.

Cerveja só da Grolsch. Em duas das áreas de alimentação, só de barril e em uma delas em garrafas um pouco maiores. Fora isso, refrigerantes locais (uma variação típica daqui que são sucos com um pouco de gás), Jägermeister e vinho. Água pode ser comprada também, mas você pode entrar no festival com uma garrafa de até 500ml sem tempa e abastecer sua garrafa de graça nas torneiras. O festival, como de praxe, funciona com uma “moeda própria”, porém a troca é feita de maneira rápida e, obviamente, as fichas valem pros três dias de evento.

Por uma lei polonesa você não pode sair da área de alimentação com bebidas alcoólicas – ou seja, ver o show tomando uma cerveja está fora de cogitação. No começo é estranho mas no fim acaba ajudando a separar as coisas, você eventualmente se programa pra pegar cerveja no fim dos shows. Outra coisa que ajuda é que todas as áreas de alimentação têm vista pros palcos, com pufes, cadeiras e outras possibilidades de se assistir os shows de longe, sentado, degustando uma Grolsch gelada.

O festival conta ainda com três áreas de banheiros químicos, e o máximo que fiquei na fila pra eles foi dois minutos. Obviamente não é de se esperar que eles sejam sempre asseados, com papel higiênico e/ou água corrente durante os três dias, mas nada que um pacote de lenços e um gel desinfetante de farmácia não resolvam.

O festival tem patrocinadores – muitos deles – mas a intrusão no dia-a-dia do fest é mínima. O palco principal leva o nome de um banco e um dos palcos secundários o de uma rádio local. Quiosques de algumas marcas – cerveja, cartão de crédito, tênis, cigarros – populam as áreas de descanso e oferecem pufes, tendinhas e cadeiras pra relaxar, mas é tudo. Nada é intrusivo, nada passa dos limites.

O grande trunfo do OFF, pra mim, é que é um festival acima de tudo relaxado. Não tem muita gente (a média de público total é de 10 mil pessoas), não tem muito corre-corre, comida é boa e barata, tem espaço suficiente pra descansar, ver show deitado na grama ou mesmo na grade se você chegar com antecedência. Quatro palcos, dois maiores e dois menores, jamais competem entre si e o som normalmente é muito bem equalizado. O festival atende a todos os gostos: em um palco você vê hip-hop e quarenta minutos depois uma banda de afrobeat está começando no palco ao lado.

A distância entre os palcos é a suficiente pra não haver cacofonia sem precisar andar horrores e, além de tudo, dá pra riscar várias bandas de vários estilos da “lista pra ver antes de morrer”, ao mesmo tempo em que se descobre coisas que, acredite, você ainda vai ouvir falar e muito.

Na seção de merch, eu vejo um ponto negativo: acho que tem pouco merchandise oficial das bandas, no geral. E os preços não condizem com a realidade econômica da Polônia (uma camiseta do Slowdive batia os 100 Z?oty, aproximadamente R$ 75). No entanto, o “shop” conta com várias lojas de discos da região que têm de tudo um pouco, e normalmente fazem uma seleção de discos das bandas que estão tocando no festival – eu achei mais merch do Earth nas lojas do que no show, por exemplo, e a preços mais baratos. Fora isso, este ano eu vi lojas de roupas, acessórios e era possível inclusive jogar videogames antigos, cortar o cabelo ou fazer uma tattoo (!!).

QUERO IR: E AGORA?

Não se intimide pela localização, idioma ou acessibilidade. Katowice fica a sete horas de ônibus de Berlim (acessível via Deutsche Bahn, Eurolines ou PolskiBus), quatro horas de Praga, uma hora de Cracóvia via inúmeras vans que saem da estação Central e a quarenta minutos de Auschwitz. Ou seja, programando uma viagem por estes lados da Europa dá pra cobrir todos estes destinos interessantes e colocar três dias de ótimos shows a preços ridículos no meio.

Katowice também é acessível via vôos da Ryanair saindo de Londres.

O Festival oferece pacotes de camping, mas como eu e a respectiva somos velhos de espírito ficamos sempre no Ibis Budget do centro da cidade. É no esquema Formule 1 do Brasil e fica a trinta minutos andando do local onde o fest acontece. Tem também uma linha de ônibus especial pro OFF rodando no centro, e eu suspeito que seja gratuita – se não for, uma viagem não custa mais que 1€.

Aqui uma estimativa de custos (em Euro, mesmo a moeda da Polônia sendo o Z?oty) do meu rolê para lá este ano:

– Ingresso pros três dias de festival: 45€ (aproximadamente R$ 140)
– Ingresso extra pro show do Earth no ATP @ OFF: 8€ (aproximadamente R$ 25)
– 4 Noites no Ibis Budget do Centro da cidade, 30 minutos a pé pro festival: 130€ pra duas pessoas (aproximadamente R$ 400)
– Ônibus Berlim-Katowice-Berlim (pela PolskiBus): 45€ (aproximadamente R$ 140)

No festival:

– 400ml de Cerveja Grolsch (do barril): 1.8€ (aproximadamente R$ 5,50)
– 500ml de Cerveja Grolsch (na garrafa): 2.5€ (aproximadamente R$ 7,50)
– 350ml de “John Lemon”, o suco/refrigerante local: 1.2€ (aproximadamente R$ 3,75)
– Média de preço de um prato de comida vegetariana bem servido: 4€ (aproximadamente R$ 12)
– Média de preço de discos nas banquinhas de lojas: CD 10€ (aproximadamente R$ 30)/ Vinil 20€ (aproximadamente R$ 60)

Sobre o idioma, devo ser sincero: é incompreensível. Se você tem algum conhecimento básico de línguas do leste europeu como russo, tcheco ou servo-croata pode ser que você consiga entender alguma coisa (palavras como água – “woda” – e cerveja – “piwo” – por exemplo, têm grafias similares nestes idiomas).

No entanto, dentro do festival, todos falam inglês. Na cidade fica um pouco mais difícil mas com um inglês pausado e claro, e a ajuda de sinais e referências é bem tranquilo. O mesmo se aplica pra cidades como Cracóvia, que mesmo sendo maior ainda tem poucos falantes de inglês. Curiosamente, assim como em 2013, não ouvimos ninguém falando português no festival, o que fez com que nos perguntássemos se éramos os únicos brasileiros por lá, já que mesmo a presença de estrangeiros é bem comedida (ouve-se muito mais polonês do que qualquer outro idioma, e em segundo lugar talvez alemão). Mas não se assuste – não é fácil morrer de fome; contrariando uma lenda urbana, o povo polonês é em geral bem receptivo e se desdobra pra te entender e resolver seu problema, então vale sempre aqui o guia básico de não fazer cagada no país dos outros: seja respeitoso, cuidadoso e educado, que tudo se ajeita.

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