OS DISCOS DA VIDA: JAPANESE BONDAGE

japanesebondage4

Quando o Japanese Bondage lançou seu primeiro disco cheio, “Mellow Punishment”, em julho de 2013, noticiamos aqui no site uma mudança da sonoridade da banda. Nada muito radical – a não se que você coloque Cramps e Nirvana em caixas diferentes de compreensão – mas perceptível.

Não ficou melhor, ficou tão bom quanto já era, em relação ao primeiro EP homônimo, mas o disco cheio mostra uma banda com mais identidade – uma identidade que se construiu com a fusão dos gostos dos quatro integrantes, Johnny Queiroz (bateria), Bruno Bonemer (guitarra), Francisco Borelli (baixo) e Pedro Gesualdi (guitarra e voz).

Ouvindo o disco – pesado, divertido, inconsequente – e analisando a lista de “Os Discos Da Vida” dos quatro, uma luz acende. Os paulistas conseguiram colocar, de forma equilibrada, o gosto e a formação musical de cada um no disco. Apesar de haver na lista abaixo algumas surpresas, de Cabo Verde a uma criação de séculos atrás, há o princípio de uma coesão que o tipo de som do Japanese Bondage praticamente exige.

Se você gostou de “Mellow Punishment” (e/ou do primeiro EP), ou se você não conhece a banda, dá pra sacar o que vai ouvir com a lista abaixo.

É um cartão de visitas: prazer, Japanese Bondage.

PEDRO GESUALDI (GUITARRA E VOZ)

Nirvana – “Nirvana” (2002)
Resolvi fazer uma espécie de linha do tempo pra decidir meus discos da vida, e essa coletânea do Nirvana foi tipo o big bang pra mim. O lançamento do disco, em 2002, coincidiu com meu primeiro interesse em rock e logo depois me mudei pra Indaiatuba, no interior de São Paulo. Aos 13 anos, a cidade me parecia uma espécie de Aberdeen particular (bobagem, Indaiatuba tem umas dez vezes o tamanho da cidade do Kurt Cobain), por isso aquele som falava comigo tanto quanto deve ter falado com um moleque de dez anos antes. Além disso, era o começo da banda larga mas nem Internet eu tinha, porque morava na zona rural. Loja de disco boa, nem pensar. Ouvir rock era difícil. Eu lia sobre Melvins, Tad, Screaming Trees e imaginava se um dia poderia conhecer todas as bandas “grunge”. Se alguma vez eu tive o gostinho de ser fã de música na era analógica, foi nessa época do Nirvana.

Ouça “You Know You’re Right”:

Queens Of The Stone Age – “Songs For The Deaf ” (2002)
Comprei o disco na mesma época do Nirvana. Pirei. Mas não tinha a mesma quantidade de informação e idolatria disponível. O Queens, por muito tempo, foi pra mim uma daquelas bandas que você sabe que adora, mas por algum motivo não põe no topo. Eu ia comprando os discos, sabia tudo de cor, mas ainda os colocava atrás do grunge e do rock clássico por algum motivo. Isso até ver meu primeiro show dos caras, em 2008 e ter meu momento de tiete conhecendo os integrantes. Aí deu um “click”. É isso. Esses caras estavam comigo desde o começo e me deram o show mais espetacular da minha vida. Desde então, é minha banda favorita, aquela que você até fica meio autoconsciente quando está fazendo uma música, pra ver se não está muito parecido. E “Songs For The Deaf” é, fácil, o disco que eu mais escutei na vida até hoje.

Ouça “Friendship”:

Led Zeppelin – “Houses Of The Holy” (1973)
Ainda em Indaiatuba, eu escutava falar das bandas e pedia pra um amigo gravar um CD com músicas deles que eu pesquisava na minha pobre Internet discada. O Led Zeppelin era uma dessas bandas e rolava uma expectativa muito alta em finalmente ouvir suas músicas (que não aquelas três mais famosas do “Led Zeppelin IV”), porque eu sabia que eles eram verdadeiros deuses. Todos os seus álbuns apareceram meio que ao mesmo tempo pra mim, e todos têm suas músicas importantíssimas. Mas “Houses Of The Holy” é o preferido. “The Song Remains The Same” e “Rain Song” formam até hoje a melhor dupla de abertura de disco na minha opinião.

Ouça “The Song Remains The Same”:

Pearl Jam – “No Code” (1996)
Durante minha fase grunge, o Pearl Jam era a “banda vendida”. Não queria nem saber deles. Aí, lá por 2005, na época dos primeiros shows dos caras no Brasil, resolvi ir atrás. Não consegui ingresso pro show em SP, mas comprei um daqueles bootlegs oficiais e fiquei maluco. Viciei. Nessa época, já tinha uma net melhorzinha e tratei de baixar uns 10 gigas deles. Escutava o dia inteiro. Era voltar da escola, mandar um miojão, botar Pearl jam e ficar no MSN com minha namoradinha juvenil. O Pearl Jam foi também minha banda favorita quando eu sonhava em ser jornalista musical. Por isso, pra mim era fundamental conhecer cada single de natal, cada bootleg. Ouvia compulsivamente, a ponto de ser a banda com mais plays no meu finado perfil no last.fm. E olha que eu só fazia scrobble dos shows que havia baixado, porque os CDs de estúdio ficavam restritos ao CD player/sistema de som. “No Code” tá aí porque é meu favorito deles. A música de abertura, “Sometimes”, confunde minha cabeça até hoje.

Ouça “Sometimes”:

Kanye West – “Graduation” (2007)
O quarteto Nirvana, QotSA, Zeppelin e Pearl Jam me formou, mas depois deles veio… todo o resto. Pensei na minha fase folk/country, com Elliott Smith, Johnny Cash e Nick Drake, na descoberta do rap e do eletrônico com The Streets, Gnarls Barkley, LCD Soundsystem e Justice, no samba e na música brasileira que eu aprendi a curtir há alguns anos, fora vícios fortes em Beatles, Radiohead, Faith No More e Pavement. Como escolher? Pensei em “Graduation” porque resume toda essa fase que vem desde 2008. Eu tinha resolvido que queria ser músico, ressuscitei a guitarra e descobri que não podia mais ser xiita. “Graduation” foi um soco no cerebelo. Antes, achava que Kanye West entrava no mesmo balaio desses Ushers e Nellys. Escutar um babacão coxinha desses e perceber que o cara é gênio foi o último golpe no meu já então moribundo purismo roqueiro. “Graduation” é autoconfiante, bem produzido e já aponta pra experimentação dos discos seguintes. Tem melodias lindas, tirações de sarro espetaculares, instrumentações que eu não dava valor… Além disso, entendi de vez a linguagem do hip hop, que explica nossos tempos tanto quanto o rock explicava o mundo nos anos 60 e 70. Gosto de pensar que existe – ou pode existir – no rap um pouco de todos esses outros artistas que eu gostaria de ter colocado na lista.

Ouça “Barry Bonds”:



BRUNO BONEMER (GUITARRA)

Black Sabbath – “Technical Ecstasy” (1976)
Eu resolvi aprender a tocar guitarra aos 14 anos, quando ganhei meu primeiro disco do Iron Maiden, “Brave New World”. Obrigado, Samir. Aí, uma coisa levou a outra e conheci Black Sabbath. Ficava o dia inteiro em frente ao boombox tentando decifrar e reproduzir o que o Tony Iommi fazia nos primeiros discos da banda. Os ouvi de cabo a rabo e amei cada um deles no seu devido tempo. Escolhi o “Technical Ecstasy” pra abrir minha lista pelo fato de ter sido o disco que mais marcou minha adolescência. Como a maioria da população jovial mundial, passei por uma fase chata e rebelde e a música “You Won’t Change Me” fazia muito sentido quando minha mãe se decepcionava com meu lastimável desempenho no colégio. Desculpa, mãe.

Ouça “You Won’t Change Me”:

Neil Young – “Greatest Hits” (2004)
Um dia eu fui morar numa cidade de interior nos Estados Unidos da América. Fiz alguns amigos e estes me apresentaram Neil Young. Eu não era muito de baixar músicas online, então fui até a loja de discos local (e única, visto que era uma cidade caipira na mais bela e vasta zona rural) e adquiri a coletânea “Greatest Hits”. Quando ouvi o disco pela primeira vez, fiquei boquiaberto. Antes disso, eu só ouvia bandas de heavy metal e era difícil gostar de algo que não fosse pesado. Neil Young era a trilha sonora perfeita pra ouvir no carro enquanto observava os mais extensos milharais que compunham a paisagem rural norte-americana. Parabéns, América.

Ouça: “After The Gold Rush”:

Mr. Bungle – “Mr. Bungle” (1991)
Um dia eu saí com uns amigos norte-americanos pela América do Norte pra me divertir. Quando nos aproximávamos de minha residência, um deles sugeriu que eu ouvisse algumas bandas das quais eu nunca havia ouvido falar. Ele citou quatro: Acid Bath, Kyuss, Queens Of The Stone Age e Mr. Bungle. Eu entendi “bunghole” na hora, foi super gozado. Baixei umas três músicas de cada banda citada assim que cheguei em casa. Sou fã dos quatro grupos e seus derivados até hoje e pra sempre. Obrigado, Dustin. Decidi dar o lugar ao Bungle na lista porque, mais uma vez, foi uma banda que mudou completamente meu modo de ouvir e compor música. Degusto e aprecio cada projeto do Mike Patton, mas este é, sem dúvida, meu favorito.

Ouça “Stubb (a Dub)”:

Mark Lanegan – “Bubblegum” (2004)
Eu já havia retornado ao Brasil quando um amigo me passou umas músicas do cara que cantava algumas músicas no “Songs For The Deaf”, do QOTSA. Obrigado, Felipe. Baixei mais algumas e aguardei ansiosamente a hora e oportunidade de comprar um disco do Lanegan. Fui visitar a América do Norte e aproveitei pra tomar um banho de loja de discos. Encontrei o EP “Here Comes That Weird Chill” e o “Bubblegum”. Voltei pro hotel onde estava hospedado e coloquei o último pra tocar no meu CD player portátil. Quando ouço a faixa de abertura do disco, “When Your Number Isn’t Up”, sinto que viajo no tempo e volto pra aquele quarto de hotel.

Ouça “When Your Number Isnt Up”:

Tom Waits – “Nighthawks At The Diner” (1975)
Lanegan monopolizava meu sistema de som estéreo até aquele meu amigo me apresentar o trabalho de Tom Waits. Obrigado, Felipe. A voz que fora mergulhada no Bourbon, pendurada na chaminé e atropelada por um caminhão me agradou muito. “Nighthawks At The Diner” foi o primeiro material dele com o qual eu tive contato, por isso o elejo. O disco transmite uma atmosfera de jazz que me fascinou e deixou muito interessado no gênero. Fora a interpretação de Waits em cada uma de suas músicas de cada um de seus discos e concertos. Sim.

Ouça “Eggs And Sausage (In A Cadillac With Susan Michelson)”:



JOHNNY QUEIROZ (BATERIA)

NOFX – “Punk In Drublic” (1994)
Sempre gostei da levada hardcore e do punk, mesmo tendo sido introduzido a esse meio por Descendents quando tinha 15 anos, eu precisava de algo mais violento. Foi ai que conheci NOFX, uma banda que, naquele momento, trazia tudo que eu queria. Na mesma época em que as batidas hardcore faziam minha cabeça eu comecei a me interessar por um instrumento musical, a bateria. Foi interessante. Devo tudo isso ao NOFX que me cativou a tocar bateria rápida e violenta. Devo mencionar o show de 2010 como violento.

Ouça “The Brews”:

Rage Against The Machine – “Rage Against The Machine” (1992)
RAtM é uma banda que me envolveu desde o primeiro contato, tanto pela proposta quanto pelo som, que devo dizer, sem sombra de duvidas, é bastante singular. Trechos de letras como a de “Freedom” (“What does the billboard say / Come and play, come and play / Forget about the movement”) era tudo o que eu queria de uma banda com o som extremamente pesado e refinado. Os DVDs que tinha visto eram bons demais pra ser verdade, e com o fim da banda, minhas expectativas de ver um show dos caras ao vivo morreram. Mas eles vieram (risos). Primeiro show na America latina não podia ser menos épico.

Ouça “Take The Power Back”:

The Transplants – “Transplants” (2002)
Gostei muito de Blink 182 uma época de minha vida, 110% por conta doa bateria – 10% por conta dos arranjos de guitarra e baixo. Sim, sou fã do Travis Barker, mas é claro que um baterista talentoso não tocaria em uma só banda, ainda mais se essa banda for o Blink 182. Portanto logo conheci os outros projetos dele, como The Aquabats (primeira banda dele e era de ska) e Transplants. Sujeira com um vocal maltratado por uísque e cigarros ao longo da vida, em que algumas músicas um pianinho de fundo lembra um bom jazz e em outras uma batida eletrônica e um rap jogado. Esse som fez minha cabeça!

Ouça “One Seventeen”:

Deftones – “Diamond Eyes” (2010)
Nunca gostei de metal, enquanto meus amiguinhos criavam cabelos grandes e lisos, eu cultivava minha barba, porque quem não tem barba não merece escutar esse som (risos). Deftones é, o que alguns dizem, o mais perto que cheguei de metal. Discordo. Mas que som poderoso sai desse CD, sai. Fui apresentado ao Deftones por “Around The Fur”, que assim como “White Pony”, são os melhores CDs da banda, mas “Diamond Eyes” foi um pouco alem. As batidas estão mais arrastadas e o vocal calmo que leva a um refrão que nunca se espertaria de Deftones. Isso foi o que me agradou nesse CD.

Ouça “You’ve Seen The Butcher”:

The Mars Volta – “The Bedlam In Goliath” (2008)
Som organicamente perfeito e orquestrado por um grande mix de batuques com open bar de psicodelia. A primeira vez que ouvi, achei horrível, tive um grande asco por uns bons anos, até parar para escutar e perceber que se trata de algo que vale a pena. Diferente de tudo que escutava na época em que comecei a gostar, Mars Volta me chamou atenção pela ambiência de cada musica que é completamente diferente em cada CD. A dinâmica das musicas é algo de se destacar, ora violenta, ora incompreensível.

Ouça “Agadez”:



FRANCISCO BORELLI (BAIXO)

Cesária Évora – “Café Atlantico” (1999)
A voz da intérprete cabo-verdiana embalou diversas viagens de família quando eu era criança. E esse disco é uma pepita d’ouro embalada em papel machê e com cheirinho de morango. Os arranjos são de extremo bom gosto, a voz da Cesária é aquela voz de quem fuma um cigarro após o outro (fumava, pois infelizmente ela faleceu) e as composições e harmonias criam uma atmosfera exótica proveniente de Cabo Verde.

Ouça “Paraíso Di Atlantico”:

Gorillaz – “Gorillaz” (2001)
Foi o primeiro disco que eu comprei. Eu tinha uns 10 anos e me apaixonei pela “Clint Eastwood”, que era o hit da juventude na época. Aí eu descobri o hard rock, o metal e esqueci da existência dos símios por um bom tempo. Até uns anos depois, quando eu ouvi chapado o disco na casa de um amigo, redescobri esse incrível álbum e nunca mais deixei de amá-lo.

Ouça “Sound Check”:

Ozzy Osbourne – “Speak Of The Devil” (1982)
Acho que esse foi o disco mais importante na minha vida. Foi com 13 anos, na casa de um amigo que eu ouvi “Paranoid” sendo executada por Brad Gillis, Tommy Aldridge, Rudi Sarzo e Ozzy, e foi nesse dia que eu decidi que ia comprar uma guitarra e aprender a tocar. Lembro de ter gostado tanto do disco, que meu amigo ficou com pena e deu ele pra mim. Eu devo ter zerado uns dez jogos de Playstation I ouvindo esse disco em looping. Melancolias à parte, pra mim, essa foi a melhor formação da banda do Ozzy, e os arranjos e timbres escolhidos para as músicas do Sabbath são de ouvir louvando.

Ouça “Snowblind”:

Massive Attack – “Mezzanine” (1998)
Eu lembro que foi com esse disco que eu descobri que música eletrônica pode ser legal. Até conhecer Massive Attack, eu só ouvia rock. E “Mezzanine” é indiscutivelmente o melhor disco dos caras. As músicas tem uma pegada mais sombria e Robert Del Naja ostenta sua melhor performance vocal nessa bolacha. Bruta discão, meu!

Ouça “Black Milk”:

Mozart – “Requiem” (1791)
Na minha opinião, é a obra-prima do maior compositor que já existiu. Eu sou capaz de ouvir em looping durante dias essa pepita d’ouro. É um “álbum” pra ouvir em casa, fumando um charuto após assassinar sua mulher adúltera. Chega a ser mais delicioso do que um bolo de cenoura com cobertura de chocolate após sair do forno. Por mais que eu tente, não conseguiria descrever em palavras o quão rica, musicalmente falando, é essa obra. Se você nunca escutou, eu não vou te aceitar como amigo no Facebook (e nem curtir o seu check-in na cafeteria da moda).

Ouça “Dies Irae”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Sonora Coisa”.

Leia mais:

Comentários

comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.