OS DISCOS DA VIDA: LUVBUGS

Uma das grandes novidades do subterrâneo da música brasileira é a dupla LuvBugs, formada pelo casal Paloma Vasconcellos e Rodrigo Pastore, do Rio de Janeiro.

Com um disco tão simples quanto bom, lançando em 2015, “Enxaqueca” (saiba mais e ouça aqui), numa vibração bubblegum, noisy e despretensiosa, a dupla entregou músicas que grudam na cabeça e fazem balançar o esqueleto, tudo o que um adolescente entediado pode querer numa tarde ociosa com os amigos.

O grupo ainda tem dois EPs lançados, um deles pela mesma Transfusão Noise Records que lançou “Enxaqueca”: é o “Coração Vermelho” (ouça aqui). Todos divertidíssimos.

A trajetória da banda você pode ler nessa entrevista exclusiva ao Floga-se, mas pra entender o som que você ouve, tem que passar pela compreensão da formação musical dos dois. Paloma e Rodrigo elencaram dez discos cada um pra essa edição de “Os Discos da Vida”, com os trabalhos que inspiraram suas escolhas como músicos, que mudaram suas vidas e que direcionaram o formato da LuvBugs.

Pela idade dos dois e pela sonoridade da banda, parecia óbvio que os anos 1990 seriam protagonistas. Mas há algumas surpresas: a mesma sensação que você tem ao ouvir a simplicidade das composições da LuvBugs.

(foto que abre o artigo: Luiz de Magalhães)

PALOMA VASCONCELLOS (bateria)

L7 – “Bricks Are Heavy” (1992)
Só a guitarra da introdução de “One More Thing” bastou pra me apaixonar.

Ouça “One More Thing”:

Alice In Chains – “Jar Of Flies” EP (1994)
“And yet I find, Repeating in my head…”: literalmente, do início ao fim, o disco.

Ouça “Nutshell”:

Nirvana – “In Utero” (1993)
Levei séculos pra conseguir esse disco. Comprei um já usado, e quando encontrei: “I’m not like them, …lesson learned, wish me luck, … Wake me up”. Definitivamente, sem dúvidas, o álbum a banda da vida.

Ouça “Dumb”:

Sonic Youth – “Washing Machine” (1995)
Começa com a incrível “Becuz”, introduzida pela “Little Trouble Girl” Kim.

Ouça “Becuz”:

Nirvana – “MTV Unplugged In New York” (1994)
Nirvana Unplugged com Meat Puppets: “Lake Of Fire”, “Plateau”, “Oh Me”. Claro que Meat Puppets é Meat Puppets. Mas a melancolia na voz do Kurt, a melancolia daquela atmosfera toda ao redor daquele acústico todo melancólico me encantou por um bom tempo. “Where do bad folks go when they die? They don’t go to heaven where the angels fly”. Digna de ficar no repeat do Discman a tarde toda.

Ouça “Lake Of Fire”:

John Frusciante – “Inside Of Emptiness” (2004)
Não tenho palavras pra expressar o que significa John Frusciante na vida. “When I thought life was terrible, things were going fine… A paper and a pencil are the best friends I’ve got. Look on”.

Ouça: “Look On”:

The White Stripes – “Elephant” (2003)
“I wanna hypnotize you baby on the telephone”. Assim, em um belo dia, eu dei meus primeiros passos na bateria. E a arte do encarte desse disco merece tanto destaque quanto o conteúdo dele.

Ouça “Hypnotize”:

Pitty – “Admirável Chip Novo” (2003)
Do nada, na pré-adolescência, apareceu na minha televisão uma menina dizendo que “o importante é ser você. Mesmo que seja bizarro, bizarro”. Enquanto na escola você sofre bullyng por não ser aquela “Barbie disfarçada”.

Ouça “Máscara”:

Forgotten Boys – “Stand By The D.A.N.C.E” (2005)
Há exatos dez anos, era lançado esse disco. Na época onde a moda era emo, com esse disco eles tentaram o “keep on rockin in a free world”. Pra mim, deu certo. Pena que a banda acabou. Mas é a vida, né?

Ouça “Stand By The D.A.N.C.E”:

Courtney Barnett – “Sometimes I Sit And Think, Sometimes A Just Sit” (2015)
Essa mocinha australiana é a prova viva de que, sim, em 2015 ainda existe MUITO rock de qualidade pelo nosso planeta. Amor à primeira vista/ouvida. “Give me all your money, and I’ll make some origami, honey. I think you’re a joke, but I don’t find you very funny”.

Ouça “Pedestrian At Best”:

RODRIGO PASTORE (guitarra e vocal)

TSOL – “Change Today?” (1984)
Eu não devia ter 10 anos, e um primo surfista meu era viciado nesse LP, e eu era muito fã dele, do meu primo. Então, ele pegou esse disco emprestado com um amigo, levou lá pra casa e o disco ficou comigo, eu escutava todo dia. Esse amigo dele apareceu lá em casa algumas vezes pra pedir o LP mas eu dizia que tava com o meu primo. Até que uma vez ele pediu pro meu pai e ele devolveu. Uma pena, mas nem tanto porque eu já tinha gravado em K7. Hoje eu tenho em CD.

Ouça “Blackmagic”:

The Jesus & Mary Chain – “Automatic” (1989)
Esse som tocava em vários vídeos de surf quando eu era moleque, por incrível que pareça. “Between Planets” é o rock dos rocks em ritmo de academia. Aliás, esse disco é todo em ritmo de academia. Se você ouvir pensando nisso, você vai concordar. Eu passei a infãncia no interior, não existia Internet e MTV não pegava lá. Era muito difícil alguém conhecer um som novo. Então, uma vez um amigo do meu pai comprou três CDs e não gostou, deu pro meu pai pra ver se ele curtia. Eu tinha uns 12 anos mas me lembro bem quando ele disse “você precisa ouvir isso!”, nem me lembro qual escutei primeiro, mas escutei esses discos até furar.

Ouça “Between Planets”:

The Smashing Pumpkins – “Siamese Dream” (1993)
As baterias do Jimmy Chamberlin, com os rifes do Billy Corgan, nesse disco são uma coisa inexplicável. Letras e melodias lindíssimas também.

Ouça “Disarm”:

The Breeders – “Last Splash” (1993)
Os vocais da Kim Deal são sempre incríveis, mas aqui é uma explosão de talento acumulado com o pouco espaço que ela tinha nos Pixies, até porque o Black Francis é outro gênio.

Ouça “Drivin’ On 9”:

Dinosaur Jr. – “Where You Been?” (1993)
Foi difícil me acostumar com esses vocais, mas os rifes e solos desse disco são tão intensos e emocionantes que facilitaram a compreensão dos vocais do J Mascis. E ainda tem aquela história mal contada com a Uma Thurman, né?, pra explicar as letras mais dramáticas do mundo.

Ouça “Goin’ Home”:

The Jimi Hendrix Experience – “Axis Bold As Love” (1967)
Tinha uns 13 anos e uma vez fui passar um fim de semana na casa dos meus avós… E acordei com um som alucinante, vindo da casa de algum vizinho, aquelas guitarras berrando no meu sonho eram reais, acordei meu pai e perguntei: “QUE SOM É ESSE?”. E ele disse prontamente: “isso é Jimi Hendrix, ‘Axis Bold As Love'”. Sempre que vou a um lugar e vejo esse disco eu dou algum jeito dele tocar.

Ouça: “Castles Made Of Sand”:

Anekdoten – “From Within” (1999)
Conheci essa banda no extinto Teatro do Flamengo, em 1999, no lançamento desse disco. O som é melancólico, tem vários ambientes, curto muito os timbres. As duas primeiras músicas são sensacionais, mas a minha preferida é a “Hole”, é uma aula de dinâmica. Esse som me marcou muito.

Ouça “Hole”:

Deftones – “Around The Fur” (1997)
Uma vez eu comprei esse CD e não lembro o porquê… Acabou que não curti e ele ficou uns dois anos mofando no armário. Até que uma vez decidi dar mais uma chance. Pirei no som. Algumas músicas parecem meio travadas e do nada o ritmo quebra e brotam melodias lindas e letras de amor. Esse disco teve grande influência na minha vida. Engraçado que a banda leva pra vida um selo de “new metal”, mas eu o ignoro completamente.

Ouça “Mascara”:

Super Furry Animals – “B-Sides” (2005)
Aquele que tem “Tradewinds”, “The Roman Road”, “Happiness Is A Worn Pun”, “Edam Anchorman” e “All The Shit You Do”. Viciei alguns amigos nesse som.

Ouça “The Roman Road”:

Ty Segall – “Manipulator” (2014)
Precisa falar alguma coisa? Esse disco é sinistro do começo ao fim, os timbres secos de baterias e guitarras misturadas com violões, rifes incríveis. Que disco!

Ouça “It’s Over”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Sonic Jesus”.

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