RESENHA: THE WONDER YEARS – NO CLOSER TO HEAVEN

“Brothers &” é a faixa de abertura do quinto álbum de estúdio do The Wonder Years, “No Closer To Heaven” (2015). Praticamente instrumental, vai eclodir em “Cardinals”, onde suas letras vão ser repetidas como uma ponte.

Com certeza você já ouviu, ou até mesmo disse, “uma banda salvou minha vida”. E é com “We’re no saviours if we can’t save our brothers” que Daniel Soupy Campbell abre as letras. Ou seja, se ele não conseguiu salvar um dos seus melhores amigos (que é mencionado no álbum anterior, “The Greatest Generation”), por que as pessoas afirmam tanto que sua banda salvou vidas?

“Cardinals” já era conhecida dos fãs, porque o vídeo foi lançado dia 29 de julho. É uma música intensa, que conta com um vocalista desesperado, em evidente processo de aflição. Como audiência, presenciamos lamentos teoricamente aleatórios sem saber o que fazer. O tema é recorrente na obra do TWY; o subúrbio que eles cresceram, companheirismo, resistência mental.

Soupy testemunha um pássaro bater na janela do seu carro e morrer. Passado com a tragédia, ele quer dar um funeral adequado pra ave. O funeral mencionado na música é o católico, o que é paradoxal, pois em suas letras anteriores o vocalista já falava sobre sua posição ateísta. Curiosamente, o pássaro é um cardeal (que também é um cargo alto dignitário na Igreja Católica).

Através de uma América crua, Soupy volta ao tema da primeira música e evidencia o porquê daquela possível culpa; seu amigo estava viciado em drogas. O narrador estava em turnê com sua banda e se lamenta por não ter podido ajudá-lo. Ele sabe que desapontou alguém e promete não fazer isso novamente. O autor explica que tem pesadelos sobre isso e ele pede desculpas, porque agora que ele cresceu, ele sabe que não fez seu melhor. Ele quer aqueles anos de volta, não pra necessariamente salvar o amigo, mas pra saber que fez tudo possível. Essa canção é especificamente sobre a morte de Mike Pelone, que era da banda Emergency And I.

Vídeo oficial de “Cardinals”:

“A Song For Patsy Cline” é a terceira faixa. Há semanas os airbags do carro de Soupy não funcionam. Ele tem muitos sonhos de que em breve vai morrer nesse carro. Mas apesar disso, ele se recusa a consertar os airbags. Isso significa que ele é suicida? Patsy Cline foi uma cantora country muito influente no século XX. Há uma lenda urbana que envolve sua morte. Ao que tudo indica, ela tinha passado por dois acidentes e disse a uma amiga que o terceiro ou a mataria ou a consagraria de vez. Ela morreu uma semana depois em um acidente de avião. O narrador ouve “Faded Love” (boatos que Patsy levou cinco tomadas pra gravar a música, pois nas quatro primeiras ela chorava) enquanto o “ar de agosto está pesado” (agosto foi o mês do funeral de Mike). Ele não quer arrumar os airbags. Ele quer ir pra longe de tudo.

“I Don’t Like Who I Was Then” é o terceiro single de “No Closer To Heaven” e foi lançado 20 de agosto. Soupy revisita sua juventude com uma avaliação mais madura. O tempo e a experiência têm ajudado. Quando era adolescente, ele teve uma lesão na cabeça. Quando ele foi para a emergência do hospital, lhe disseram pra esperar porque sua lesão não era uma que apresentava “risco de vida”. Ele abandonou o hospital porque estava com medo de não poder assistir um show de uma de suas bandas favoritas. Ainda sangrando na cabeça, Soupy imita um lutador de luta profissional famoso, como se fosse uma criança. Em “My Last Semester” (do segundo disco, “The Upsides”, de 2010) ele expressa uma sensação semelhante. Agora, cinco anos mais velho, ele está ansioso pra poder arcar com responsabilidades que correspondam a sua maturidade. Soupy está dizendo que está cansado de agir de maneira irresponsável. Ele está engajado em crescer.

Soupy volta a revisitar a morte do seu amigo Mike. Em “You Make Me Want to Be A Saint” (do terceiro álbum, “Suburbia I’ve Given You All And Now I’m Nothing”, de 2011) ele fala do funeral como se estivesse olhando do lado de fora. Seus pensamentos estavam concentrados no que ele vai escrever em memória do amigo e também em sua raiva. Aqui ele visita o túmulo do seu amigo, a grama está alta porque o tempo passou. Ele revisita o adolescente imaturo e narcisista que ele costumava ser, pra reconhecer que é hora de seguir outro caminho.

“Cigarettes & Saints” é o segundo single de “No Closer To Heaven”, lançado 21 de julho. Essa é uma homenagem de Soupy pra Mike. Soupy relembra esse funeral enquanto passa em frente à igreja. O pastor do enterro não foi muito simpático com Mike, uma vez que este, por ser viciado, era considera um grande “pecador” em sua comunidade profundamente fundamentalista e religiosa. Mas embora continue chamando Mike de pecador, o pastor reconhece que ele era uma boa pessoa e que vai provavelmente caminhar ao lado de Jesus. Mas Soupy, como ateísta, não encontra conforto nisso. Alguém que acabou tirando sua própria vida não merece ser lembrado como pecador. Seus amigos e sua família souberam de tudo que Mike passou. Eles merecem mais que esse reducionismo. Embora Soupy continue com sua vida e fazendo turnê com a banda, ele se lembra de acender uma vela pra seu amigo em toda catedral por onde passa. Soupy sente que seu amigo está lhe protegendo. Soupy sabia que Mike só culparia a si mesmo pela sua overdose. Só porque Soupy não acredita no paraíso não significa que ele não pode imaginar seu amigo ali. É seu jeito de pensar que o amigo pode ter uma segunda chance.

Vídeo oficial de “Cigarettes & Saints”:

“The Bluest Things On Earth” fala sobre uma memória que Soupy tem de Mike. Ela se refere também a como não só as drogas mas também os doutores colaboraram pra morte de Mike. Estabelece uma relação de semelhança entre o vício de Mike nas drogas ilícitas e depois nas drogas lícitas, este último estimulado por médicos. Mesmo que seu amigo tenha perdido muito de quem costumava ser, ainda há elementos dele que estão ali. Soupy afirma que há alguns elementos dele que não foram eliminados nessa batalha. Eles estão sentados em frente a um lago, que foi “construído” em função da destruição de uma cidade. A cidade, como Mike, tinha seus problemas, mas sua aniquilação total pra construção de uma paz forçada (o lago artificial) não resolve o problema. Cobrir a cidade com água não melhora a cidade, assim como o vício de Mike em remédios não consertava seu problema, apenas introduzia outro. É um tema frequente no álbum a “indústria da farmácia”, que força as pessoas a usarem coisas que elas não precisam.

“A Song For Ernest Hemingway” é a segunda homenagem que Soupy escreveu pra dois grandes artistas que já tiveram, como ele na criação de “No Closer To Heaven”, “bloqueio criativo”.

Ele se identificava com Patsy Cline por causa de seus acidentes e batalhas constantes entre “pressão pra produzir” e méritos artísticos. No fim da vida de Hemingway, muitas coisas não estavam dando certo pra ele. Há uma espécie de camaradagem entre esses dois ídolos caídos e o vocalista da banda. As histórias dos “bloqueios criativos” que envolvem os três são relacionadas. Ernest Hemingway passou por dois acidentes de avião quase fatais que o deixaram com dores crônicas pro resto de sua vida. Essas dores, com uma doença e seu alcoolismo contribuíram pra seu suicídio. Soupy se identifica com o pássaro morto em “Cardinals”. Enquanto ele também se identifica com as tragédias na vida de Hemingway, ele pede pro ouvinte que carregue seu corpo e sua memória na forma dessa canção.

Da mesma maneira que ele fala sobre seus amigos mortos em suas canções, ele acha que ao descrever suas tragédias ele também será lembrado, assim como Hemingway. Este e sua mulher sobreviveram a um acidente de avião em 1954. No entanto, um jornal publicou que os dois morreram no acidente. Ambos devem ter lido sobre suas próprias mortes. Esse foi o primeiro acidente. No dia seguinte, quando deixaram os cuidados médicos, o outro avião explodiu.

Soupy escreveu “Thanks For The Ride” pra uma amiga que esteve em um acidente de carro, ela ficou anos em coma e depois morreu. Ele descreve, no entanto, um cenário realístico com ela “fora de coma”. Como se ele perdesse contato com ela depois da faculdade, e ela teria se casado com um rapaz na Califórnia e teria sido mãe. Eles perderiam contato por causa dos anos e da distância, ela teria sido feliz e isso seria o suficiente.

“Stained Glass Ceilings” lida com pessoas que abusam das outras (de várias maneiras; social, economicamente, exploração) por estarem muito perto da “hierarquia superior social”. Quando se cresce, especialmente quando se cresce privilegiado nos Estados Unidos, as pessoas dizem que tudo vai dar certo no seu caminho, e que você vai fazer tudo o que quer. Mas a estrada mostra que as coisas são de outra maneira. Então, em certo ponto, as pessoas têm o mesmo destino do pássaro de “Cardinals”. Elas eclodem com o vidro, que aparentava ser a continuação normal do caminho, e isso é muito destrutivo pra muitas delas.

“I Wanted So Badly To Be Brave” é a décima música de “No Closer To Heaven”. É uma descrição do presente com otimismo e esperança. Soupy fala com nostalgia sobre as brincadeiras de criança. Ele fala de Mike como irmão, do contraste bonito das cores e desenvolve a ideia de que passar uma lição traumática pra uma pessoa não resolve nada, apenas amplia o circulo de violência.

Em “You In January”, Soupy usa o nome de Deus em vão e usa “sagrada” pra descrever uma pessoa, ofendendo fundamentalistas cristãos duas vezes em uma linha. Ele fala sobre sua parceira romântica, que ela é uma das poucas relações que ele não se arrepende. Descreve lugares em que eles estiveram de uma maneira similar a canções norte-americanas patriotas. Mas ele, sendo um incentivador tão intenso da chamada “contracultura”, prefere listar lugares simples importantes em sua vida ao invés de estruturas sociais que ele odeia. Em luz dessas estruturas, sua parceira é o contraponto, sua certeza.

Em “Palm Reader”, o narrador compra flores e acha que está fazendo algo bom ao adquirir algo bonito e dar dinheiro pro vendedor; no entanto, os espinhos dessa flor cortam a palma de sua mão. Ele não acredita que isso possa ser algo bom, e não precisa ser alguém que lê “as mãos” pra perceber isso. Alguém diz pro narrador que lutou na guerra, acreditando estar fazendo algo bom pelo país. No entanto, o narrador não acredita que guerra é algo bom. A ideia do que é certo é algo não muito claro. A pessoa que lutou na guerra para em um ponto de ônibus, uma parada temporária, pra esperar que a tempestade passe. O narrador considera se juntar ao exército pra fazer algo bom. Ele retorna para as morais que lhe foram ensinadas na infância.

“No Closer To Heaven” é a faixa final e título do disco. É uma aceitação da natureza imperfeita das coisas, mas não de maneira pessimista. Aqui Soupy usa dos seus fracassos pra pelo menos tentar ser alguém melhor. Soupy não acredita em Deus ou no paraíso, mas o contexto de paraíso nessa música é de algo interno. Soupy não acredita que está perto de encontrar o que quer que esteja procurando. Mas ele não vai desistir, não vai parar de procurar.

01. Brothers &
02. Cardinals
03. A Song For Patsy Cline
04. I Don’t Like Who I Was Then
05. Cigarettes & Saints
06. The Bluest Things On Earth
07. A Song For Ernest Hemingway
08. Thanks For The Ride
09. Stained Glass Ceilings
10. I Wanted So Badly To Be Brave
11. You In January
12. Palm Reader
13. No Closer To Heaven

NOTA: 7,5
Lançamento: 4 de setembro de 2015
Duração: 45 minutos e 09 segundos
Selo: Hopeless
Produção: Steve Evetts

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