OS DISCOS DA VIDA: SIN AYUDA

“Noise Reminders”, o primeiro disco do Sin Ayuda, acabou de ser lançado. Ali, o ouvinte será banhado por canções ao violão e muita, muita barulheira, ruídos e estranheza. É uma tática confiável pra agradar os meus ouvidos.

Da onde saiu aquilo tudo? A ousadia pra irritar ouvidos alheios é algo que a juventude e quase a totalidade das bandas atuais evitam a todo custo. Mas essa zona de conforto acaba jogando todas na mesma vala. As que tentam tatear fora dela, merecem um destaque. Uma delas é o Sin Ayuda. Da onde saiu essa coragem?

Essa edição de “Os Discos da Vida” talvez não responda diretamente a pergunta, porque dificilmente você verá na lista abaixo algum disco que possa ter impulsionado esse traço do quarteto. Mas há, sem dúvida, uma fagulha pra chegar lá. Os discos que ouvimos durante toda a vida, principalmente na infância e na adolescência, são escolhas que moldam o que ouviremos no futuro, ou, caso você ouse ser um músico, o que você vai tocar. É óbvio. Tudo fica na memória.

Os barulhos que ficaram na memória do Sin Ayuda estão aqui.

RICARDO HENRIQUE (bateria)

Social Distortion – “White Light, White Heat, White Trash” (1988)
Quem teve que migalhar música no Kazaa e afins numa certa época sabe que cada música boa achada era uma vitória, afinal baixar 4Mb com Internet discada não era tarefa tão simples assim, era? Quando achei um vídeo low quality de 4Mb, não tive dúvida, baixei na hora! O vídeo? “When The Angels Sing”. Através dele, fui atrás de mais daquelas guitarras distorcidas, rifes melodiosos e letras fortes, e nessa busca fui curtindo mais e mais bandas… Misfits, banda que considero muito, Ramones, The Clash etc. etc… Aí, o estrago já tava feito!

Ouça “When The Angels Sing”:

The Get Up Kids – “Something To Write Home About” (1999)
Depois de passar um bom tempo ouvindo o chamado punk rock californiano como NOFX, Lagwagon, No Use For A Name, Rancid, Millencolin (que é não é californiano), o Diego me mostrou esse álbum, lá por 2002, e fez minha cabeça na hora. Saía da batida do hardcore melódico mas ainda tinha seu próprio peso, timbres lindos principalmente das guitarras, bateras dinâmicas e criativas e os vocais impecáveis de Matt Pryor. Gosto de todas as fases dessa banda, aprecio as mudanças e os experimentos que eles fizeram e esse álbum é só um deles que eu “risquei” de tanto ouvir.

Ouça “Action & Action”:

Hot Water Music – “No Division” (1999)
O puro creme do punk rock e do post-hardcore. Guitarras, vozes, letras, tudo. Eles têm outros álbuns fodas e mais bem produzidos pela No Idea, mas pra fechar em um só fico com esse.

Ouça “Our Own Way”:

Pink Floyd – “Dark Side Of The Moon” (1973)
Tem mais clichê que esse? Não é à toa. Acho que todos conhecem a qualidade de produção, as experimentações e a importância dele pra música. Quando a obra toda é de primeira não tem muito sentido comentar seus vários aspectos. Sempre fico tentando imaginar o impacto e a sensação de ouvir esse álbum pela primeira vez 1973, na vibe de 73. É de mandar nego pra lua mesmo!

Ouça “Speak To Me/Breathe”:

The Beatles – “Let It Be” (1970)
Pra fechar, vou com um que os Beatles encerraram a conta deles. Na verdade a partir de “Rubber Soul”, eu gosto de todos, tem sempre um pra cada ocasião. Acompanhar o amadurecimento deles como músicos e como pessoas através dos álbuns é bom demais, dá muita inspiração e aquele sopro de renovação pra qualquer um que toque em uma banda.

Ouça “Let It Be”:

DIEGO XAVIER (vocal e guitarra)

RX Bandits – “Mandala” (2009)
O último disco dos caras, pra mim, é o melhor. Apesar de muitos puristas ainda sentirem falta dos metais, eu acho que essa banda, com o passar do tempo e suas experiências (vide vários outros projetos paralelos, como o The Sound of Animals Fighting), ficou com um som cada vez mais único, e isso sempre tem o seu lado bom e ruim. Pra mim, foi muito bom. Gosto de bandas que vão mudando, sem o menor medo de perder tudo o que se conquistou, em nome da arte.

Ouça “My Lonesome Only Friend”:

Thrice – “The Alchemy Index” (2007/2008)
Essa série de EPs temáticos, me comprovou algo que sempre gostei e que muita banda esqueceu: bandas têm que lançar álbuns e não um monte de caça-fãs. Muita gente não entendeu esse álbum. Acharam uma loucura. Saíram até da gravadora, porque achava que não ia vender. Hoje os vinis são caríssimos no Ebay e esgotados. Simplesmente a banda quis escrever, compor, gravar, experimentar em cima de um tema por EP. Pra quem curte uma produção e experimentos de gravações, é lindo.

Ouça “Come All You Weary”:

The Beatles – “Abbey Road” (1969)
Acordei pros Beatles meio tarde, mas num momento ótimo. Estava começando as gravações e prés do Sin Ayuda, e veio bem a calhar. Por um tempo, só escutei esse álbum. Deixei de conhecer “só o que tocava na rádio, nas bandas covers e nos bares” e conheci tudo. Não tem muito o que falar.

Ouça “The End”:

Hot Water Music – “A Flight And A Crash” (2001)
Não foi o primeiro que eu ouvi, mas o que me acordou pro som dos caras. Sonzeira pesada boa. Muito timbre bom, e voz rasgando na orelha. Esse álbum não foi só importante pra conhecer o trabalho deles, mas também uma legião de outras bandas que trilham os ensinamentos dos beberrões de Gainesville e também fazem coisas muito interessantes, como Castevet, Bear vs Shark, Polar Bear Club, Small Brown Bike e muita coisa boa.

Ouça “A Flight And A Crash”:

Asian Kung-Fu Generation – “World World World” (2008)
Sim, conheci essa banda em desenho japonês mesmo. Porém, fui além, e a banda, também! É dificil quebrar a barreira das línguas, mas quando você consegue, sempre se surpreende com as melodias de bandas japonesas. Eu acompanho essa banda desde 2001 e eles são exemplo de como uma banda major deve trabalhar. Todo ano rola no mínimo um single, um festival que eles mesmo produzem dando espaço pros independentes e um DVD. Fora a evolução, começaram indies, viraram major de estádio, mas hoje se preocupam com os problemas da pequena ilha, fazendo shows nos abrigos pra animar quem perdeu tudo com os desastres. Na faixa.

Ouça “World World World”:

VINÍCIUS PACHECO (vocal e guitarra)

Led Zeppelin – “Led Zeppelin IV” (1971)
Quarto Disco de estúdio do Led. A maior peculiaridade desse disco, no meu caso, é que foi o primeiro disco de rock que eu ganhei. Minha madrinha me presenteou.

Ouça “Going To California”:

At The Drive-In – “Relationship Of Command” (2000)
O At The Drive-In também foi um baque: estava acostumado com outro tipo de som, nisso achei um CD-r sem nome certa vez… E quando ouvi, era um “Relationship Of Command”.

Ouça “One Armed Scissor”:

Dinosaur Jr. – “Green Mind” (1991)
Mesmo gostando bastante das músicas que o Lou Barlow cantava (“Back To Your Heart”) e toda aquela coisa da formação original, algumas músicas como “Water” e “Puke + Cry” fazem com que esse disco seja com certeza meu favorito dos caras.

Ouça “Pure + Cry”:

Pink Floyd – “The Piper At The Gates Of Dawn” (1967)
Disco ácido, psicodelia fervendo. Syd Barret de longe é meu Pink Floyd preferido.

Ouça “Lucifer Sam”:

John Frusciante – “Curtains” (2005)
Top 3 de personalidades que eu pago muito pau, gosto de tudo que ele faz, principalmente do “Curtains”.

Ouça: “The Past Recedes”:

JULIO CAVALCANTE (baixo)

Sonic Youth – “Daydream Nation” (1988)
Sonic Youth é simplesmente a mais feroz banda de guitarras que eu já vi e ouvi, além dos baixos da Kim Gordon, que são fantásticos. Esse disco é o meu preferido e me influenciou muito desde que comecei a tocar, mas qualquer disco dos caras mereceria estar nessa lista.

Ouça “Hey Joni”:

Joe Lally – “Nothing Is Underrated” (2007)
Joe Lally é a minha maior influência como baixista e quando ouvi esse disco tive certeza de que o baixo é essencial pra qualquer música. Com esse disco senti que as guitarras e sintetizadores são apenas pra preencher alguns espaços nas músicas. Isso sem contar todo o trampo dele com o Fugazi.

Ouça “Day Is Born” (ao vivo):

The Vain – “Let Them Come” (2008)
Comecei a tocar baixo no The Vain e compondo e gravando esse disco que tem músicas de 2002 a 2008 foi que pude entender muita coisa e realmente aprender a tocar. Pra mim, foi melhor do que qualquer aula ou teorias musicais que pudesse aprender.

Ouça “Spiral”:

Polara e College – “Não Use O Termo” (2001)
Quando ouvi esse EP em 2001 achei demais, e depois tive a oportunidade de ver alguns shows e tocar junto em outros e foi fantástico. Esse EP tem 4 músicas de cada banda e representa uma parcela das boas bandas que existiam no começo de 2000. Fora que os shows eram divertidissimos.

Ouça “Meus Cumprimentos” (Polara):

Blemish – “Silverbox Song EP” (2000)
Esse EP do Blemish foi o que me fez ter vontade de tocar, era a banda que eu queria ter com 14 anos de idade e fez parte do meu aprendizado musical. Esse EP é foda, tem um dos clássicos perdidos do underground brasileiro, a faixa que dá o título ao disco.

Ouça: “Silverbox Song”:

Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, My MIDI Valentine.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Inverness”.

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