PENSE OU DANCE: UM ANO SEM LISTAS

Eu sou, assim como provavelmente você é, um fanático por listas. E nessa época do ano, beirando o Natal ou logo após o Ano Novo, elas pipocam por todo lado, saindo de todos os blogues e sites que gostamos e de pessoas que respeitamos quando falam de música. É legal.

Porém, a coisa anda meio descontrolada. Porque todo mundo gosta de listas e elas geram cliques e acessos aos veículos, a “listomania” desandou. Há listas de metade do ano, como aconteceu em 2012, só pra se ter uma ideia. “Os melhores discos dos primeiros seis meses do ano”, é mole?

Paralelamente, listas se tornam enormes, com muitos itens: são cinquenta ou cem melhores discos, duzentas melhores músicas, só pra que o site quebre a publicação em duas ou três etapas e gere mais acessos. O que importa um disco que ficou em nonagésimo nono lugar? Qual a diferença do octogésimo segundo pro septuagésimo terceiro? A gente quer ver os dez primeiros, ou vinte, se muito.

Não há ciência que explique qual é o melhor jeito de publicar ou fazer uma lista de melhores do ano (ou do semestre, ou do mês). Cada um faz do seu jeito e com o seu propósito, de fato não há problema algum. Se não gosta, não lê.

Mas listas têm seus propósitos. Listas são feitas pra gerar polêmica e discussão, entre quem publica e quem aprecia. Listas são feitas pra gerar arrependimento, entre aqueles que as tem que elaborar. Listas são feitas pra manter uma conversa de alto nível nas muitas horas em que se passa tomando uns chopes no boteco mais próximo. Listas são triviais, mas dão credibilidade aos artistas que nelas estão.

Certa vez, um amigo perguntou: “por que diabos vocês que têm site ficam publicando essas besteiras? Acham que vão mudar a opinião de alguém sobre um disco ou vão influenciar alguém a gostar daquela obra?”. E terminou com a sabedoria da praticidade: “gosto do que ouço e me agrada, se eu não gostar, simplesmente não ouço”.

É simples assim. Quem não gosta de uma banda não precisa ouvi-la, por mais que um crítico ou site insista.

Só que essa não é a questão. Após a Internet com banda larga, baixar discos é a coisa mais simples do mundo. Você tem todos os discos do mundo ao seu alcance. Qualquer um que queira. Basta saber onde procurar e ter paciência. É a grande loja que você sempre sonhou, só que com tudo de graça – ou se quiser pagar, dá conseguir qualquer coisa por preços mais em conta e com mais comodidade.

Com tanta oferta, é difícil acompanhar tudo. Eu conheço um bocado de pessoas que passaram ilesas por “Ai, Se Eu Te Pego” em 2011, ou por “Gangnam Style” e “Call Me Maybe” este ano, até o momento em que eu mostrei a elas. Tem gente que simplesmente não se importa por um determinado tipo de música, por memes, por certo conteúdo de informação. A não ser que você diga a elas, é capaz delas jamais saberem que tal música ou disco existiu.

A ideia, pois, não é mudar a opinião da pessoa, ou parecer na moda ou parecer mais descolado porque fez uma lista diferente. A questão, como em todo veículo de comunicação, é informar.

Por isso, dou valor a listas que se apegam a estilos diferentes daquilo que ouço normalmente, ou naquelas mais extremadas àquilo que ouço todos os dias. Essas listas me posicionam dentro da realidade do mundo real, me tirando do meu filtro-bolha.

De modo algum tenho capacidade de ouvir tudo o que lançam durante o ano. Também não tenho tempo pra digerir e apreciar o que me proponho a ouvir, de modo que as minhas próprias listas de vinte ou trinta discos são no máximo ideias de algo que imagino ser o ideal naquele momento. São como resenhas: você decreta algo sobre aquela obra, e tempos depois descobre o que realmente acha dela – o tempo é o melhor termômetro pra qualquer análise, mas tempo é justamente o que não temos aqui.

A saída é seguir listas de amigos, de sites que confio, de pessoas cuja opinião respeito. E de pessoas que não conheço, principalmente de pessoas que não conheço e que eventualmente poderão me apresentar algo que perdi durante o ano.

Por não haver uma ciência exata por trás das listas, não é o caso de só buscar concordância ou ficar atirando pedras. Faça isso com seus amigos, sei lá, numa mesa de bar. Como disse, rende boas rodadas de chope. Elogiar uma lista não quer dizer nada, a não ser que você concorda com aquele que a publicou. Apedrejá-la também não muda nada, a não ser uma leve alteração no humor de quem critica. É como pênalti: depois de apitado, juiz nenhum volta atrás.

Percebe-se: eu gosto de listas – e até publico um bocado delas e tento me enfiar na produção de outras tantas (como a de “100 Melhores Discos De Todos Os Tempos”, a de “100 Melhores Discos Nacionais De Todos Os Tempos”, e as listas de final de ano).

Mas gostaria de imaginar um cenário diferente: como seria um ano sem listas?

Pense num ano em que nenhum blogue, site, rádio ou jornal veiculasse uma lista sequer. As pessoas talvez vagassem perdidas por aí, procurando a esmo na Internet um disco que talvez valha a pena, sem saber se vale realmente – ou tendo, veja só que complicação, que ajuizar um tanto de opinião própria. Seria o caos?

Esse seria um momento único de descobertas feitas por conta própria. Um momento mágico, eu diria – mas nada muito diferente do que deveria acontecer durante os meses do ano em que essas listas de fato não precisam existir.

Um ano sem listas não deveria fazer a menor diferença, afinal. Cada um ouve o que quer, quando quiser, sem obrigação, sem se sentir “pressionado” a apreciar os primeiros colocados em detrimento dos nonagésimos. Um ano sem listas só iria deixar o ano mais chato, mesmo que um ano com listas demais também seja um saco.

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Comentários

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2 comentários

  1. Todo mundo tem um pouquinho de rob flemming…
    Listas são boas pq são sobretudo pensadas, escolhidas, categorizadas.
    E, listas de melhores do ano são MUITO legais pq dão a oportunidade de rever algo que não teve tempo para ser digerido à época, ou para revistar algo com mais calma, e até para dar uma chance à um lançamento que à época não chamou a atenção.
    Eu adoro listas.
    E vou continuar procurando listas, seja onde for.
    Ok – melhores singles de 2013 (não vale bowie, nem arcade fire e nem qotsa…) – qual o seu top5? 😉
    Alex

  2. No texto eu enalteço as listas, por isso, continuarei fazendo por aqui. Então… hehehe aguarde semana que vem, meu caro! 🙂

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