RAKTA – III

Apesar do título, “III” é o segundo disco da banda paulista Rakta, uma das preferidas aqui da casa há tempos. O primeiro, sem título, foi lançado em dezembro de 2013, mas durante o percurso entre um e outro o grupo ofereceu o EP “Rakta Em Transe”, em parceria com a Cadáver Em Transe (saiba mais aqui).

“III” é de “trio”, marcando uma mudança na banda, que agora não tem guitarra, mas baixo (Carla Boregas), teclas (Paula Rebellato) e bateria (Nathalia Viccari). O primeiro single, gravado na Espanha, ainda tinha o formato quarteto, com guitarra (Laura Del Vecchio). Era “Intenção”, com “A Busca Do Círculo”. Ambas foram reajustadas pro formato sem guitarra de “III”. Você pode ouvir a versão com guitarras aqui.

Logo, o disco foi apresentado num bom show no SESC Pompeia, em São Paulo (veja aqui – com vídeo).

A gravação foi realizada em São Paulo, em janeiro de 2016, no Fábrica De Sonhos, por Bernardo Pacheco. A master ficou com Daniel Hussayn. O lançamento é um conjunto de forças da Nada Nada Discos, Dama Da Noite Discos, Iron Lung Records (EUA) e Dê O Fora (ESP). A arte é de Mateus Mondini, que também fez a capa do “Intenção” (e é autor da imagem que ilustra este artigo).

Ouça na íntegra:

“III” tem a intensidade no mergulho profundo ao soturno que marcou os trabalhos anteriores da banda. Aqui, as Raktas mostram que a disposição pra experimentar e quebrar vínculos com a própria história não é um risco amedrontador a afugentá-las. Nas seis canções do disco, o grupo derrama letras diretas em ambientes sonoros quase ritualísticos.

“Raiz Forte” daria um certo sorriso à Siouxsie, mesmo sendo uma aproximação óbvia; “Filhas Do Fogo” vai num círculo kraut de amargura e dor, com efeitos de voz que amplificam os gritos, pra emendar com o massacre de “Conjuração Do Espelho”, uma canção que ao vivo se torna vigorosa no atrito. É tribal e urbana. “A Violência Do Silêncio” é um recado claro ao massacre de uma minoria-do-discurso – que a Rakta se propõe como uma voz a não se calar e se utiliza em modo artístico.

O curioso deste disco é a intensidade de emoções estimuladas por essas maneiras como o trio trata o som. É quase como um disco instrumental, apesar da voz e da poesia falada, escrita, cantada estarem presentes e não serem dispensáveis em seu conteúdo. É que ao dar protagonismo aos seus brinquedinhos sonoros – pedais e efeitos, climas e tensões -, a banda sublinha cpm traços duplos a sua temática. A ambienta: é na música experimentada que escreve sua história.

Uma história sempre em movimento pelo avanço cotidiano da vida – não em saltos, mas um trabalho de reafirmação (social e musical) diária, de peitar desafios, um trabalho de observação constante. Uma história coerente, é bom que se destaque: a Rakta de ontem não é a mesma de hoje e não será a de amanhã – ou será? Nunca se sabe. Rakta é uma banda que se move no tempo e seu passado é puxado pelo futuro e fundido pelo presente. É um tempo líquido. Ela será o que a nossa sociedade estimular que a banda crie.

O próximo desafio é incerto, mas posso apostar que a Rakta vai nos surpreender de novo.

1. Raiz Forte
2. Filhas Do Fogo / Conjuração Do Espelho
3. A Violência Do Silêncio
4. Intenção
5. A Busca Do Círculo

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