RESENHA: CULT OF DOM KELLER – THEY CARRIED THE DEAD IN A U.F.O.

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Adoro a ideia de que somos micro seres manipulados como brinquedos por seres muito mais desenvolvidos, e que todos nosso universo cabe numa pequena bolinha de gude a rodar nos dedos desses seres – sim, eu gosto de ver e rever “Homens De Preto”.

Mas talvez porque eu seja um tanto apaixonado por histórias toscas de ficção científica, filme B dos anos 1950, quando os roteiristas usavam os extra-terrestres como metáfora pra invasão de comunistas, e as crianças ficavam assustadas com criaturas que soltavam laser pelos olhos.

É um universo hipnótico o suficiente pra gente ficar viajando por horas. E me admira que pessoas ainda alimentem esse culto nos dias de hoje em que nada é inocente e tudo é efetivamente manipulado – especialmente ideias e, oh!, eleições.

“They Carried The Dead In A U.F.O.”, o sexto disco dos dois do Cult Of Dom Keller, da capa ao som, do título, às letras, transmitem aquele clima, embora sem tanta inocência, porque inocentes não são mais permitidos.

A banda nunca foi assim uma das minhas preferidas. Na verdade, passava sempre meio “pra depois”: “depois eu ouço” e no final nada de ouvir. Mas com “They Carried The Dead In A U.F.O.” esses ingleses me pegaram na veia – e nas memórias e preferências. “Eles carregaram os mortos num OVNI” é um belo de um título. Psicodelia cinquentista, nível de resgate de jaquetas pretas de couro, óculos escuros e gomalina no cabelo, tal como o Black Rebel Motorcycle Club, embora o som esteja a alguns anos-luz de distância (mas nada que um buraco de minhoca não resolva).

Já perdi a razão com drogas ilícitas e lícitas pra ouvir esse tipo de som, ler os quadrinhos, ver os filmes. É uma viagem, que enfim é bem resgatada e captada pelo CODK. E costumo contar um contato que tive com um extra-terrestre, que, compreensivelmente, ninguém acredita, mas eu sim e é isso que importa.

Em minha intensa e demorada conversa com esse ser, falamos sobre muitas coisas, inclusive comunismo (um conceito que meu interlocutor espacial não conseguiu compreender o motivo de tanta celeuma), drogas (algo que ele compreendeu sobremaneira) e morte. A forma como as pessoas querem morrer é um tabu na Terra. Não se fala nisso, ninguém pode escolher sua morte. Pois eu gostaria de um saboroso e fulminante ataque cardíaco durante o sono – e que meu corpo fosse levado por um objeto voador não identificado pra estudo, dissecação e o que mais quiserem fazer. Espero que o covite tenha sido compreendido pelo meu amigo.

O CODK resgatou esses pensamentos em mim. Morrer não deveria ser um tabu, mas também não deveria ser um objetivo, porque isso é roubar no jogo (vai ser um objetivo atingido, no final das contas). E ouvir discos como este me dão a sensação de que por mais que existam seres desenvolvidos o suficiente pra nos tratar como grãos de areia em uma bolinha de gude, e que não somos significantemente nada, ainda assim vale a pena arriscar e fazer um esforço por algo. Por si. Pelos outros.

É uma sensação cósmica-elevada-sei-lá-o-quê que me faz sentir menos ódio por qualquer um e qualquer coisa, mesmo que uma certa dose de bile não faça mal a ninguém.

“They Carried The Dead In A U.F.O.” é um gibi, um filme B em forma de sons doentes ou tranquilizadores (depende do seu humor), um caldo de melancolia e nostalgia bem-vindo em tempos de loucura e gana pela destruição. A morte não é uma destruição porque não somos nada, afinal, algo minúsculo dentro de um brinquedo minúsculo e sem importância.

Um disco que nos coloca em nosso lugar de inferioridade em dias de alta tensão, o que é algo maravilhoso.

1. Run From The Gullskinna
2. Lyssa
3. Cage The Masters
4. She’s Turning Into A Serpent
5. Infernal Heads
6. Psychic Surgery
7. Amazing Enemy
8. Last King Of Hell

NOTA: 8,0
Lançamento: 21 de maio de 2021
Duração: 38 minutos e 50 segundos
Selo: Fuzz Club
Produção: Cult Of Dom Keller e Brett Orrison

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