RESENHA: DESVENTURA – SONHOS TANGENCIAIS EP

O céu hoje estava limpo enquanto eu caminhava por Santo André (São Paulo) ouvindo o trabalho do Desventura, “Sonhos Tangenciais”. E não quero aqui aplicar um clichê de que a paisagem visual casou com o som, mas foi um desses pontos em que os minutos importaram – eu quero dizer, eles não apenas passaram, mas adquiriram corpo e relevância. Os pedaços que deixamos nisso que chamamos de estrada; e eu pensei que cheguei aqui e não conquistei basicamente nada. Ainda sob o mesmo céu estático.

Os reflexos nos quais nos projetamos, pessoas que temos como padrão-objetivo do que atingir em termos de sucesso e vitórias, um relacionamento que acaba e parece – um tempo depois – que o outro mais matou na gente do que deu vida a algo. Nenhuma situação é mais tão simples. Sem perceber, os dias vão adquirindo uma velocidade que beira o surreal. É impossível esquecer, é impossível recuperar e é impossível conviver com estes fantasmas ignorando-os por completo, de forma que eles consomem os fragmentos que tentamos recolher.

Eu queria falar que tem a ver com nossa capacidade, mas parece ser uma força gritantemente maior, a força da aleatoriedade que condiciona com o que vamos tem de lidar quando amanhece. Problemas que supomos mortos reaparecem meses depois, o dinheiro ficou curto, os amigos estão longe. Não controlamos direção alguma, “nossa capacidade” é mera ilusão. Os fardos sempre são maiores do que podemos carregar (deve ser por isso que têm esse nome) e parece que há um “X” demarcando no chão um ponto ao qual sempre iremos retornar. De modo que essa espécie de concreto tatuado ludibria qualquer outro caminho que pensemos tomar.

A busca do Desventura se calca muito no post-hardcore dos anos 1990 e muito no problema da geração atual com o tempo fragmentado. E a banda não encontra nada. Mas impõe uma busca visceral.

1. Assim…
2. Abandonei
3. Reflexões
4. Sobre O Tempo
5. Sobre O Espaço
6. Ineficaz…

NOTA: 6,5
Lançamento: 29 de abril de 2017
Duração: 15 minutos e 34 segundos
Selo: Share This Breath
Produção: Rodrigo Nepomuceno

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