RESENHA: EXAUSTA – RAVE DA MORTE

Aqui, todos os nomes das faixas são uma interrogação (“?????”). A variação pressuposta apenas pode estar no som. O elemento nominal é o mesmo.

Com uma finalidade especulativa, se debruçar sobre o disco é se debruçar sobre mudanças totalmente bruscas (o chiado da faixa 2 pros ruídos da faixa 3). Exausta é Thiago Miazzo e Miazzo se deixa trair por seus instrumentos (cortes, ruídos, gritos abstratos) e é ao trair si mesmo numa manipulação intrinsecamente intensa que a abertura do elemento interrogativo pode surgir de maneira mais contundente.

A música adere à sua finalidade questões emergentes e identitárias, verossimilmente interrogativas, abolindo estruturas meramente conceituais pra nomear o elemento-questionador que nunca pode ser devidamente identificado. Pra tanto, é necessário a evocação desta rave, de maneira que seu processo manipulativo acaba dialogando com sua própria entidade criadora (nomeação, músico etc.).

Miazzo nomeia suas músicas com um ponto de interrogação porque elas são, antes de tudo, uma coisa. Coisas que circundam aspectos distantes de uma nomeação e carregam – em seus barulhos e frequências e cortes – um dinamismo que não apenas destrói mas realoca elementos pra uma morte inevitável. O resultado é uma materialidade do nada, construído por multiplicidades diversas que, ao apontar nominalmente o destino possível (morte), interagem dentro de uma cadeia fechada construindo novos diálogos – impressão que fica mais nítida na faixa 11 (a quarta). Por “materialidade do nada”, eu quero dizer que a manipulação de Miazzo parte do elemento-questionador pra entidade final (a morte) e é ao estabelecer o nome de uma “rave” pro único destino possível e o preenchimento do tempo-espaço (uma rave onde? O que está tocando?) que materializa a nulidade final.

O materialismo do nada confirma-se à medida que a última faixa vai nos limites da música recondicionando o ouvinte, fazendo-o ao mesmo tempo preencher a maioria dos espaços possíveis e deixando evidente a possibilidade ínfima de cobrir verdadeiramente um espaço vazio. A música é uma linguagem inconsistente e é justamente fazendo o caminho menos popular e mais audacioso – não seguindo estruturas prontas que forjam uma consistência – que pode-se apresentar esta espécie de “verdade única/final”. Miazzo identifica um cerne indisposto a mudanças mas que, de qualquer maneira, aceita aparentemente apenas caminhos drásticos e radicais.

“Rave Da Morte” é a performance musical que não sai de si mesma pra evidenciar que, claramente, há outra coisa. Evita se posicionar (!) pra questionar (?) e é por meio da exploração do elemento interrogativo que evidencia as variações que partem dum mesmo ser.

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NOTA: 8,0
Lançamento: 10 de janeiro de 2017
Duração: 19 minutos e 58 segundos
Selo: Independente
Produção: Thiago Miazzo

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