RESENHA: LEWSBERG – IN THIS HOUSE

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Quando se lê qualquer crítica sobre o Lewsberg, quarteto holandês (de Roterdã) que chega ao segundo disco com “In This House”, o que se aponta é o “curioso sotaque” do vocalista Arie Van Vliet – homônimo do ciclista medalhista nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, uma de ouro e uma prata).

Ele canta em inglês. Cantar, na verdade, é modo de dizer. Ele declama, interpreta. Sua velocidade é oposta ao do homônimo medalhista olímpico. É que a música do Lewsberg se aproxima sobremaneira do Velvet Underground (há comparações com o Talking Heads também, mas ouça e verá que não há como escapar do Velvet).

E é exatamente isso que o disco deveria chamar atenção. É incrível como a banda consegue reconstruir a aura de Lou Reed, John Cale e companhia, seja na canções circulares, com o vocal despejando versos atrás de versos, seja nas músicas calmas e lentas, com a guitarra sutil e tímida.

Arie van Vliet (vocal e guitarra), Michiel Klein (guitarra), Shalita Dietrich (vocal e baixo) e Dico Kruijsse (bateria) são praticamente a reencarnação da banda estadunidense, o que já seria elogio suficiente. Quer dizer, é. Mas só imitar não é suficiente, é preciso criar. E isso o Lewsberg também consegue.

Embora os fãs do Velvet possam ter um certo incômodo com a duração das músicas – “Cold Light Of Day” no “White Light/White Heat” teria, sei lá, uns dezoito minutos de duração – o Lewsberg parece saber que isso importa um tanto pros dias de hoje. São, afinal de contas, fruto do seu próprio tempo, mas pode ser que alguém aponte “preguiça” ou falta de “desenvoltura” pra estender a música pra além do que foi entregue.

Mesmo assim, em recente entrevista, o quarteto disse porque não está nas redes sociais, talvez o maior símbolo dos nossos tempos: “porque nós temos escolha, e escolhemos não estar nas redes sociais. Acho que muitas bandas não percebem que também têm essa escolha, elas acham que estar nas redes sociais faz parte do negócio. E provavelmente há uma grande quantidade de bandas que realmente gostam de estar nas redes sociais e compartilhar suas coisas diárias lá também, mas eu não consigo sentir empatia com isso. Estou feliz por não ter que me preocupar com isso, não consigo pensar em nada menos emocionante do que compartilhar meus pensamentos ou ocupações nas redes sociais o dia todo”.

Seus pensamentos estão na música e nas letras.

“The Door”, a calma-com-ruídos-e-microfonia, chega a seis minutos de elegante envolvimento com o ouvinte. “Through The Garden” acelera circularmente pra hipnotizar, mas vale a pena acordar e prestar atenção à letra (“se eu morrer, eu estarei morto”, ele canta, e é impossível não abrir um sorriso com versos tão simples – ou idiotas – quanto esse).

“Gosto da calma antes de uma tempestade. E eu gosto ainda mais da calma logo após uma tempestade. Não gosto muito da tempestade em si, mas estou feliz por estar em uma banda com pessoas que apreciam uma tempestade adequada de vez em quando”, Vliet diz – e “Interlude” parece ser uma das suas “tempestades”.

Então, vem “Jacob’s Ladder” e é como jogar os feitiços numas notas e elas nos transportam pro anos 1960 (que eu nunca vivi, mas bandas como o Velvet marcaram).

Vliet já disse que a banda não está aqui pra agradar as pessoas, mas, ao contrário do grande clichê do mundo musical, também não está aqui pra agradar a eles mesmos. “Às vezes, é bom perturbar as pessoas”, e esse é o tipo de conceito que talvez falte a quem faz música de guitarras. Pertubar, incomodar.

“In This House” mostra o quanto esse conceito pode enfeitiçar o ouvinte. De repente, não há sotaque, não há referência, não há posicionamento. A música é só esse espetáculo impactante de viagem no tempo ou na própria cabeça.

01. Left Turn
02. Cold Light Of Day
03. At Lunch
04. Trained Eye
05. From Never To Once
06. The Door
07. Through The Garden
08. Interlude
09. Jacob’s Ladder
10. Standard Procedures

NOTA: 10,0
Lançamento: 27 de março de 2020
Duração: 34 minutos e 01 segundos
Selo: Lewsberg Records
Produção: Henk Koorn e Michiel Klein

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