RESENHA: LINA TULLGREN – WON

“Won” é um disco muito pessoal. Sobre relacionamentos passados, com amigos, ex-companheiros, família, desconhecidos. Lina Tullgren quer dizer que sobreviveu a tudo e a todos. Entretanto, não se pode levar a sério o título: ela mesmo não sabe se pode considerar ter vencido coisa alguma.

Essa jovem pinçada do nada pela Captured Tracks, um dos radares mais eficazes de um indie rock metido a cool, talvez não tenha vivido o suficiente pra se declarar vencedora de algo. A vida ainda pode lhe dar mais rasteiras, como dá em todos nós o tempo todo, só que o seu primeiro EP, “Wishlist”, gravado e lançado em 2015 de maneira amadora e relançado pela mesma Captured Tracks em março de 2016 (ouça aqui), foi o anúncio de que se ao menos o seu sonho for viver de música, há um futuro que pode se abrir vencedor pra ela.

Criada no bairro histórico de Jamaica Plain, em Boston, Esteites, ela se considera uma sobrevivente entre pensamentos conservadores. Contesta até mesmo uma pergunta simples de “como você está?”, uma pergunta retórica, já que ninguém quer saber como você está de fato.

Aliás, “você” é o personagem principal do disco. E “você” é alguém que ela considera importante deixar no passado pra poder seguir em frente. Não é, então, um disco sobre o fim desse ou daquele relacionamento. Está mais pra músicas sobre fins de períodos e eventos que ela (ou todos nós) não precisamos mais. É sobre crescer.

Mas há também uma grande dose de amargor. Ela canta, em “Perfect”, que “amar é como ficar preso na lama”. Então, contraditoriamente, há em Tullgren uma certa ambição revanchista, de cantar que está bem, quando pode ser que não seja exatamente o caso. As canções carregam um clima simples, e isso é tocante, com uma guitarra aparentemente limpa, teclas, flauta e vocal melancólicos, além de uma bateria quase fúnebre o tempo todo – “Face Off” é um grande exemplo, enquanto “Fate” tem um final de sonhos.

Numa safra de vozes femininas tão bonitas e suas canções impressionistas e elegantes, como Julien Baker, Courtney Barnett, Angel Olsen e Aldous Harding, pra citar as mais contundentes, Tullgren pode almejar seu espaço. Com “Won” ela contribui com um indie agradável e promissor, embora não memorável. Se as citadas cantoras já têm rodagem artística relativamente maior e isso possibilita uma mínima reavaliação do próprio trabalho, quando chegar a hora de Tullgren ela poderá olhar pros recados de “Won” e verificar se é pra bater no peito e se orgulhar do desabafo.

Artisticamente, é um estreia bem digna.

01. Asktell
02. Perfect
03. Face Off
04. Red Dawn
05. Fitchburg State
06. Slow
07. Get Lost
08. Summer Sleeper
09. Fate
10. Static Burn

NOTA: 6,5
Lançamento: 22 de setembro de 2017
Duração: 32 minutos e 28 segundos
Selo: Captured Tracks
Produção: Ty Ueda e Lina Tullgren

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