RESENHA: MAZZY STAR – SEASONS OF YOUR DAY

“Among My Swan” saiu em 1996. De lá pra cá, o Mazzy Star hibernou, com raros despertares, ali no final da década passada pra frente. David Roback não fazia questão de dizer que a banda acabou, não com frequência, nem Hope Sandoval. Agora que “Seasons Of Your Day” saiu, dezessete anos depois do disco anterior, é possível afirmar: o Mazzy Star nunca acabou de fato, artisticamente falando.

É um disco bastante íntegro e preciso, mas isso não quer dizer que ele tenha sido produzido, criado, elaborado, gravado todo de uma vez. Contrariamente a essa impressão, a própria dupla faz questão de dizer que é um disco de duas décadas, desde o princípio do Mazzy Star, lá na virada pra década de 1990.

É o caso de “Lay Myself Down”, que tem o pedal steel de Stephen McCarthy primeiramente gravado em 1990, quando o guitarrista foi convidado a participar do Mazzy Star. Os créditos dão na mesma canção o baixo a Paul Olguin, que só tocou o instrumento com o grupo na época do primeiro disco, “She Hangs Brightly”, de 1990.

É o caso também da faixa-título, que apresenta a participação do violinista Will Cooper. Mas Cooper faleceu de câncer em 2001.

O disco é na prática uma coletânea de muitas sobras de criação e estúdio retrabalhadas. E talvez isso explique o motivo do disco parecer tão fiel às características do Mazzy Star sem ser “forçado” ou soar como um daqueles revivals caça-níqueis. De fato, “Seasons Of Your Day”, dentre os retornos que 2013 ofereceu ao mercado, soa muito melhor e surpreendente do que “mbv”, a estonteante volta do My Bloody Valentine; e até mesmo do que “Defend Yourself”, o bom disco novo do Sebadoh.

Surpreendente porque tudo parece ser como se jamais tivesse deixado de ser. Como se o tempo não tivesse passado ou, mais do que isso, como se esse tempo todo do intervalo entre o terceiro disco e esse quarto jamais tivesse existido. O Mazzy Star parece ter empregado a Relatividade, curvado o tempo e unido as várias partes de pequenas sessões íntimas de gravações.

A voz de Hope Sandoval segue linda, sedutora, hipnotizante. As letras seguem rasas, mas quem se importa com letras quando o que se ouve é um envolvente lual folk-country-blues-psicodélico? As guitarras não rasgam como antes, em muralhas finas de distorção; é um disco mais melancólico e possui um apreço pelas tradições musicais estadunidenses. É um apuro ainda mais fino da fórmula que deu importância ao Mazzy Star e gerou admiração em artistas diversos, desde o Beach House até a Lana Del Rey.

As participações ainda incluem o folker Bert Jansch (no blues “Spoon”) e o baterista do My Bloody Valentine e parceiro de Sandoval no Warm Inventions, Colm Ó’Ciosóig, que disse ter ajudado com material pra várias faixas, tocando baixo, teclado e bateria, num trabalho que vem desde 2002, na Noruega.

Ao ouvinte, essa viagem no tempo começa logo na primeira faixa, a brilhante e arrepiante (na falta de um adjetivo melhor) “In The Kingdom”, na mais acessível “California” (o estado natal da banda) e na sublime “I’ve Gotta Stop”. Só vai parar quando subitamente a última faixa, “Flying Low”, se calar. A impressão que o disco passou rápido como um estalo.

Ouça “In The Kingdom”:

Nessa imersão hipnótica que o disco submete o ouvinte, o Mazzy Star se mostra atemporal. “Seasons Of Your Day” é a sua arma contra o passar do tempo, o envelhecimento, o esquecimento e a irrelevância.

NOTA: 9,0
Lançamento: 24 de setembro de 2013
Duração: 50 minutos e 02 segundos
Selo: Rhymes Of An Hour Records
Produção: David Roback e Hope Sandoval

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