RESENHA: SANTA ROSA’S FAMILY TREE – I LIKE TO SMELL THE DIRTY PANTIES THAT YOU LEAVE IN THE BATHROOM

SEM CONCLUSÃO

Normalmente entro em discussões sem a menor possibilidade de se chegar a uma conclusão. É uma troca de argumentos em que nenhum dos lados cede, talvez por não haver certo ou errado.

Mas um delas eu preciso ceder. Disseram-me que o músico pensa em algumas referências na hora de criar, quer soar como aquilo e tals, só que sua criação acaba levando-o por outros caminhos e a outro destino. O ouvinte, por fim, percebe de uma outra forma, de uma “terceira” forma, e identifica na obra final algo que o artista nem imaginou relação.

Nunca concordei muito com isso. Pra mim artista que quer fazer algo, tem que ser certeiro. Batia o pé por besteira: cada um entende como quer e bola pra frente.

Aí, me deparei com esse “I Like To Smell The Dirty Panties That You Leave In The Bathroom”, primeiro disco do Santa Rosa’s Family Tree, mais um projeto do imparável e insano Cadu Tenório, do Sobre A Máquina – e me pus a tentar imaginar que raios ele tentou fazer aqui.

De cara, dá pra definir que é o trabalho mais palatável que saiu da cabeça de Tenório, se é que ele imaginou ser assim. A primeira das quatro músicas, “You Could”, é uma sucessão de colagens sob vocal que repete a mesma frase, “you could save me from myself”, um troço climático no limite “Twin Peaks” da coisa, até que no terceiro minuto um sax estridente de dor ocupa todo o espaço naquele que é, talvez, o melhor uso do instrumento em toda a história da música nacional.

O ouvinte sinceramente acredita ter entendido tudo, mas aí “Waiting” começa e as coisas mudam de figura: estamos diante de alguém que parece ter ouvido um bocado de Notwist e os mexicanos do Album, com aquela batidinha safada que o Thom Yorke se apropriou no “The Eraser”. Por outro lado, não tenho dúvidas de que Tenório jamais ouviu Notwist ou Album (Yorke certamente sim) e que o repertório dele é de coisas bem mais obscuras e experimentais, o que cai na discussão sem conclusão do começo deste texto. O que será que ele tinha na cabeça? Ou será que isso é realmente importante?

Porque “Armpits” e “Panic”, essa com um final kraftwerkniano, seguem a mesma linha de “Waiting” – e todas elas ficam à disposição de remixes espertos pra pistas espertas e “modernas” (a dica tá dada). O resultado esperado era esse? Diante do histórico de Cadu, fica difícil afirmar. É um trabalho bastante diferente do Sobre A Máquina e até mesmo do Ceticências, outro dos seus projetos. Esse é dançante, leve, digerível. É um outro Cadu Tenório.

Essa diferença sugere que o cérebro dele (sei lá se de todos os artistas novos) funcione como um Windows, colocando em pastas todas as referências que ouviu durante a vida, da forma mais organizada e linear possível, e que pouco se misturam. Parece-me um lance metódico e até meio esquizofrênico: “nesse projeto, pego essa e aquela referências; nesse outro, aquela outra e a outra acolá”; e por aí vai.

É como se Cadu tivesse feito essas quatro canções, com ingredientes dessa ou daquela pasta, resolvesse seus dilemas internos, jogasse (a roupa suja) ao público e partisse pra outra. Fica uma sensação de que “poderia ter mais”. Cadu usou seu conhecimento e suas referências pra fazer pouco, no sentido da quantidade.

Ao final da audição de “I Like To Smell The Dirty Panties That You Leave In The Bathroom”, ficou um vazio – ou, por outra, interrogações. Com tantas facetas já apresentadas por Tenório, não se chega a uma conclusão sobre de onde ele partiu e aonde ele queria chegar: sabe-se apenas que ele mais uma vez chegou a um bom resultado e que ele tem bagagem pra chegar a vários outros.

NOTA: 7,0
Lançamento: 16 de maio de 2012
Duração: 15 minutos e 42 segundos
Selo: TOC
Produção: Cadu Tenório
Download gratuito: clique aqui

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