RESENHA: THE WALKMEN – HEAVEN

A BELEZA DE ESTAR POR CIMA

“Nossas crianças vão sempre ouvir / Histórias românticas sobre os tempos passados / Nossa era de ouro vem e vai / Nossos sonhos tortos sempre irão brilhar / Fique comigo, oh, você é meu melhor amigo / Toda a minha vida, você sempre foi”.

A faixa-título parece um recado. O Walkmen, com “Heaven”, está imaginando que os bons tempos passaram e que os fãs vão lhe virar o nariz. Os bons tempos de “Lisbon”? Não, é cedo demais. “Lisbon” é ontem. “Heaven” é hoje, e ainda sente o calor desse passado recente, desse ontem.

Mas, é claro, o Walkmen está falando de amor, relacionamentos, frustrações. Está falando de saudades, de memórias. Tudo está ligado: o artista e o homem, a alma e o corpo, não podem se separar.

Desde a abertura, com “We Can’t Be Beat”, celebrando a decadência e a imperfeição, numa balada que faz mais sentido no todo do que sozinha, a banda parece brincar com a compreensão de que não poderia bater a perfeição de “Lisbon” e de que tudo dali pra frente será decadência. No decorrer do disco, veremos que não bateu. Mas chegou bem perto e, oras, que “decadência” deliciosa!

Senão, vejamos a sequência estupenda de “Love Is Luck”, “Heartbreaker” e “The Witch”: as duas primeiras estariam perfeitamente no altar de qualquer banda como peças a se orgulhar e adular, com suas guitarras preguiçosas, batidas idem e Hamilton Leithauser, com sua rouquidão calculada, a ensinar que cantar não é exatamente igual a alcance vocal (embora sua voz mesmo seja limitada nas notas mais longas); e a terceira é mais noturna.

Ouça “Heartbreaker”:

Tudo parecia ir bem, até que a banda emenda duas baladas dispensáveis (não exatamente “ruins”). “Southern Heart”, ao violão, é cheia de dor (“Tell me again how you love all the men you were after”), mas parece servir mesmo só pra quebrar o ritmo. “Line By Line” não é exatamente uma balada, embora se apresente como tal, aumentando o ritmo conforme Leithauser interpreta a letra contundente (“Oh, sei como essa coisa toda termina / O homem honesto sobrevive / Como sabemos isso? / Eu só sei / Eu só sei”), mas não chega a lugar algum.

Aí, “Song For Leigh” recupera o tempo perdido (“então começa / outro hino abençoado / cantando pra minha garota” – depois de algumas audições, tente não se pegar cantando por aí o refrão “I sing myself sick/ I sing myself sick”), com a guitarra de Paul Maroon malemolente de novo. “Heaven” se consolida com “The Love You Love” e a faixa título. Nem mesmo a intrigante “Jerry Jr.’s Tune”, um blues-hula-hula instrumental, e a lamuriosa “No One Ever Sleeps”, com participação do Fleet Foxes Robin Pecknold (imagine um filme com Elvis), desviam o foco.

Ouça “Song For Leigh”:

“Heaven” implora pelo trocadilho: a banda está no céu, acredita ter chegado ao seu auge. Sua música de fácil aceitação (ah, os anos 1980!), sua modéstia e ironia e sua aparente postura nem-aí tornam meio difícil não gostar do Walkmen.

O caso é que a banda pode ter razão: o que virá daqui pra frente? Como se reinventar? Como fazer melhor? Será que ela nunca mais vai errar? De toda forma, é melhor aproveitar. Ou como ela mesmo diz, em “The Love You Love”, “não acredite nos fatos, acredite na ficção”: sabe-se que pode haver um problema, mas vamos tratar dele depois, quando ele de fato aparecer. Por ora, vamos aproveitar a beleza de estar por cima.

NOTA: 8,5
Lançamento: 29 de maio de 2012
Duração: 47 minutos e 07 segundos
Selo: Bella Union
Produção: Phil Ek

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Comentários

comentários

11 comentários

  1. Cara, concordo com tudo, discaço. só discordo quanto à faixa “Line by Line”. Cortaria um braço pra compor esse riff de guitarra.

  2. […] “Queríamos fazer vocais de apoio há muito tempo, algo como dez anos, e finalmente construímos a coragem pra fazer. Então começamos ontem e soa bem legal agora”, diz Hamilton Leithauser, vocalista e guitarrista do Walkmen nessa entrevista-sessão pro Alternate Side, sobre “We Can’t Be Beat”, a canção que abre o novo disco, “Heaven”. […]

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