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VAMPIRE WEEKEND EM SÃO PAULO – COMO FOI

Crédito: Roberto Setton, Folha/UOL

Essa história tem relação direta com novembro de 1986, quando a Siouxsie & The Banshees fez seu show no Rio de Janeiro.

Explico. Eu tinha 14 anos naquele show da Siuoxsie. Pra mim, foi o grande espetáculo do ano – porque foi o único desa envergadura no período, porque foi o primeiro da minha “carreira” de fã de música.

Tudo era novidade e na novidade a chance de acerto é muito maior. Pelas críticas da época, foi histórico, adjetivo que sobrevive até hoje – todas as críticas foram gentis com o show; para a imprensa musical, se é que já existia uma, aquilo também era novidade.

Valeu pra mim o ineditismo e o descabaçamento na minha (hoje) extensa lista de show. É claro que ficou na memória.

As folhinhas do calendário voaram e agora me vejo em 2011, suado, com umas cervejas (ruins) na cabeça, na saída de um show do Vampire Weekend, banda que tenho profundo apreço, desde o seu primeiro disco, de 2008.

Depois de tanto tempo, o que há de novidade aqui? Carrego comigo uma pesada carga de shows mal organizados, de frustaç?es, de má vontade e de preocupaç?es com as peripécias do cotidiano, que certamente me fará dimunuir o produto final.

O Vampire Weekend, porém, com integrantes mais jovens do que eu (na mesma idade da maioria da plateia), com vitalidade maior, com profissionalismo extremado, tratou de jogar contra esse cenário. “Holiday” abriu pra chafurdar toda rabugice.

Ao meu redor, uma turba de jovens bem nutridos, bronzeados, de dentes reluzentes, com a primeira parcela para o Carnaval em Salvador já paga (e talvez até com o ingresso para o show de Claudia Leite, no mesmo Via Funchal, dia 12 de fevereiro, no bolso) dançava coreografadamente a cada refrão, a cada “ohhh” que Ezra Koening soltava, bem-intencionado. E remetia ao calor que senti naquele novembro de 1986, à emoção do ineditismo, à vibração de ver uma banda que se quer ver, da qual é fã.

Sim, há quem tenha ido só pela badalação e não conhecia uma nota sequer do Vampire Weekend. Com essa gente bronzeada é assim. Mas e daí? Nesse caso, a banda ganhou novos adeptos, porque o público inteiro (inexplicavelmente, uma lotação de apenas 70% do Via Funchal) dançou, pulou, extravasou, se preparou pro Carnaval. Dificilmente alguém ficou parado. Dificilmente alguém não suou.

Porque o Vampire Weekend faz aquele tipo de pop fácil aos ouvidos brasileiros, acostumados com o sol e com a folia em geral. E porque de uma forma ou de outra, você já ouviu a banda, entre Cláudias Leites e Ivetes.

A sequência com “White Sky”, “Cope Cod Kwassa Kwassa” e “M79” (a música “da Vivo”) deixou claro. O termômetro da noite apontaria para uma inesquecível festa: a banda tinha bala para segurar a adolescência ávida por um grande acontecimento, uma grande noite.

O momento “estranho” se deu com “Giving Up The Gun”, desfigurada, sem peso, sem ritmo. Nem ela, e nem mesmo os freios no trio elétrico “California English” e “I Think Ur Contra”, convites ao banheiro, para uma tomada de fôlego, ou ao reabastecimento de cerveja, tiraram o abadá da audiência, ou a vontade de “jogar as mãos pro alto e tirar os pés do chão”.

Não: “Cousins” foi um êxtase coletivo, “Run” fez todo mundo cantar junto, “A-Punk” amplificou a festa, e “Blake” exigiu uma empolgada coreografia vocal coletiva, puxada pela banda, como Dodô e Osmar. No bis, “Mansard Roof” e “Walcott” marcaram o Vampire Weekend pra sempre na memória da audiência.

Crédito: Roberto Setton, Folha/UOL

Pra tudo isso, uma explicação óbvia: como na Siouxsie em 1986, aqui a plateia era de jovens, jovens e jovens. E tudo era novidade. Marcar como seu primeiro show (ou um dos primeiros) uma banda no auge, como o Vampire Weekend, conta. Daqui a duas décadas e meia, o termo que eles vão cunhar pode ser “histórico” pra se referir ao show. Ou pode ser “legal”. Ou mesmo dizer que foi só “mais uma festa”.

Não importa. O que vale é ouvir o coração, jogar de lado a ranzinzice e cair na festa. O Vampire Weekend estava aí pra isso – e todos saíram suados e felizes.

(clique na foto para ampliar)

01. Holiday
02. White Sky
03. Cape Cod Kwassa Kwassa
04. I Stand Corrected
05. M79
06. Bryn
07. California English
08. Cousins
09. Run
10. A-Punk
11. One (Blake’s Got A New Face)
12. Diplomat’s Son
13. I Think Ur A Contra
14. Giving Up The Gun
15. Campus
16. Oxford Comma
BIS
17. Horchata
18. Mansard Roof
19. Walcott

Veja a abertura, com “Holiday”:

E de “M79”:

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Comentários

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7 comentários

  1. Os caras fizeram direitinho , tocaram bem ,elogiaram o público paulistano;enfim fizeram uma apresentação digna.Eu tmb já vi muito show bom (tenho 28 anos)e sempre vou ver as bandas sem pensar em criticar porque não espero nada de mais.O que interessa é que não me arrependi de gastar meu dinheiro suado (afinal não sou nada bronzeado e nunca corri atrás de trio elétrico, pois eu trabalho)e consegui até me divertir um pouco.

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