RESENHA: O ANO DE 2011

Fim do disco. “2011” acabou pra muita gente, não é preciso nem esperar essa última semana. Quando chega o Natal, e até o Ano Novo, há uma estagnação, e a faixa “Dezembro” vai entrando em loop de redução de suas últimas notas. Agora, é esperar “2012” e ver se ele vai ser tão divertido e turbulento quanto “2011”, que foi, enfim, um ótimo disco. Sabe-se, de antemão, que “2012” já será diferente de “2011” porque a segunda faixa será maior: é ano bissexto.

É um dia a mais pra você descansar, trabalhar, se preocupar, rir, chorar, curar ressaca, ganhar dinheiro, pagar contas… Viver como se vive os outros 365 dias. Nada muda, de fato, afinal o que é possível fazer com um dia a mais?

Em “2011”, a bem da verdade, ele até que seria bem aceito. Como diria o ex-sapo barbudo (agora careca, infelizmente pelo câncer que descobriu – e que felizmente parece que está em franco processo de reversão): nunca na história desse país houve tantos festivais e shows bacanas.

Logo na primeira faixa, “Janeiro”, o M/E/C/A/ Festival trouxe o Two Door Cinema Club e o Vampire Weekend. Teve, em “Fevereiro”, a apresentação do LCD Soundsystem, que viria, pouco mais pra frente, a realizar seu último show, em Nova Iorque, com encrenca de ingressos super inflacionados e tudo. James Murphy virou a página em “2011”.

Teve o Lollapalooza Chile 1ª Edição, fazendo muitos brasileiros rumarem pro aeroporto. Resquícios bons: Drums e National por aqui. E o Teenage Fanclub também aportou por cá, num sugestivo “festival” chamado Whisky Festival, fazendo um dos melhores shows do ano. Em “Maio”, teve o Cultura Inglesa Festival, no Parque da Independência, no Ipiranga, de graça, com Miles Kane, Gang Of Four e Blood Red Shoes.

Foi em “2011” também que se viu uma curiosa nova modalidade de patrocinadores de shows: as festas fechadas de marcas famosas. Uma delas trouxe Yuck e Future Island, por exemplo; outra, o Tokyo Police Club, que apareceu por cá em “Setembro” e “Novembro”; e teve ainda as lindas do Warpaint.

É preciso dar um parágrafo inteiro ao Fourfest, que é daqueles festivais feitos na raça, sem grandes aportes de dinheiro. Na sua segunda edição, agora mudando o foco, apontando pro “indie”, trouxe o Ariel Pink e o The Pains Of Being Pure At Heart. Aplausos merecidos – e a gente deseja mais festivais como esse.

Festivais gigantes disputaram espaço no calendário do segundo semestre. Rock In Rio, SWU, Planeta Terra e o Ultra Music Festival. Em “2012”, o disco vai ser ainda mais cheio, é o que aponta o calendário (navegue por ele).

Já confirmados, teremos mais uma edição do M/E/C/A/, outra do Sónar em São Paulo, e a primeira passagem do Lollapalooza pelo Brasil. Tem ainda um mega evento só de metal, em São Luís do Maranhão. Isso só no primeiro semestre. A coisa vai esquentar. Esse dia a mais pode ser útil.

Em “2011”, porém, teve outros mega eventos solo, como U2 e Paul McCartney, que encontrou nos fãs brasileiros uma boa forma de engordar a conta bancária. Toca de novo em “2012”. Rolou ainda Justin Bieber, Britney Spears, Ringo Starr… Foi um ano movimentado. Pro ano que vem, há confirmado o Roger Waters e, talvez, a Madonna. Há no Morumbi vinte datas reservadas pra shows de grande porte.

Foi nesse ano que vimos algumas bandas anunciarem seu fim: REM, White Stripes, LCD Soundsystem, Superguidis, Mavka, Grinderman etc. Mas também foi nesse “2011” que vimos dois grandes ícones voltarem: Stone Roses e Black Sabbath.

É bom lembrar: foi o ano do sertanejo pop, com Paula Fernandes e Michel Teló colhendo os frutos do furacão Luan Santana de 2010. “Ai, Se Eu Te Pego”, foi certamente a música mais popular do ano (alçando voos europeus também), com quase 89 milhões de visitas no YouTube. “Fugidinha” bateu 28 milhões de acessos e contanto… O cachê desses artistas passeia na casa dos seis dígitos com bastante facilidade.

O fenômeno Teló se deu muito por causa de Neymar, divulgando a música a todo instante. Mas isso foi antes dele aprender a jogar futebol com Messi, lá no Japão…

E é bom lembrar: foi o ano do furor da Rebeca Black, com seu “Friday”, que teve mais de 20 milhões de visitas – e se contar todos os vídeos da cidadã (da mesma música) deve bater em um bilhão de views.

Ela sumiu tão rápido quanto apareceu, na mesma proporção de outra bandalheira sonora, a Banda Mais Bonita da Cidade, que “estourou” com a chatíssima “Oração” (o clipe bateu num só vídeo quase 9 milhões de visualizações) e depois “sumiu”, ou pelo menos voltou à sua pequenez.

E, claro, o Restart, que deu uma sacudida nas paradas de sucesso, com seu colorido e falta de conteúdo – levando tudo quanto é prêmio – se é que você dá importância a alguma premiação.

Pro Floga-se, “2011” foi um disco especial. Houve mudança de foco. Em “2010”, pouco se ouviu por aqui algo de música feita no Brasil. Mas nos doze meses que se encerram hoje, a produção nacional rivalizou de igual pra igual nas páginas desse pobre site com as bandas da gringolândia. Surgiram as primeiras entrevistonas, com a Inverness, a Sinewave, o Dorgas, a Looking For Jenny, a Neon Night Riders, a This Lonely Crowd, a Mavka; e outras menores, que só mostram a preocupação do site em dar espaço a essa gente cada vez mais acesa e explosiva, que não encontra (sabe-se lá o motivo) eco e espaço em muitos outros veículos.

A ideia é sempre falar com o artista antes de publicar, pra dar um incremento no post. A relação do Floga-se com os artistas cresceu e, nesse sentido, vieram bons papos com Wallace Costa, Duyi, Sobre A Máquina, Badhoneys, Búfalo… As aspas foram abertas e todos puderam falar.

Foi em “2011” também que surgiram as seções e colunas especiais aqui: “Os Discos da Vida” dá oportunidade às bandas mostrarem aqueles discos que efetivamente mudaram ou tiveram alguma importância na vida de seus integrantes. É cada história mais bacana que a outra, numa coluna semanal. Vale ler e reler sempre. Teve a primeira edição do “Boteco do Barulho”, com a Neon Night Riders, cuja ideia é levar uma banda alternativa pra tocar num boteco sujo, pra um público totalmente diferente do que ele tá acostumado. Novas edições vêm por aí.

Um destaque bacana vai pra sessão acústica e ao vivo na Locomotiva Discos, que já capturou bastante gente boa: Single Parents, Lê Almeida, Top Surprise, Cretina… E vai continuar a tocar em “2012”.

A ideia é expandir também projetos paralelos bacanas como o “Várias Visões”, que iniciou-se com o Hierofante Púrpura:

O Floga-se também se orgulha de ter estendido o alcance com seus colaboradores de assuntos específicos. A criação de três colunas especiais reforça que o alternativo é de fato o foco deste site. Cadu Tenório, do Sobre A Máquina, escreve sobre pós-rock e drone e afins, na sua “Engrenagem”; o xiita e mestre Renato Malízia se embrenha no mundo da barulheira guitarrística, na sua “Noise Waves”; e Al Schenkel, um agitador musical em Santa Catarina, e dono do Starfire Connective Sound, assina as novidades brasileiras e barulhentas, no seu “Esquizofrenizando”. Houve ainda o surgimento da coluna “Pense Ou Dance”, que agita a cuca em discussões doidonas.

Por fim, não só o conteúdo do Floga-se mudou, mas o layout também, que você deveria ter percebido na faixa de “Setembro”.

“2011” foi também um ano de polêmicas. E polêmicas é algo que adoramos saborear. Teve a treta do Lobão e do Perry Farrell, a treta dos ingressos do U2, dos ingressos do Lollapalooza, do preço dos ingressos, treta da Abrafin e do Fora do Eixo, treta, treta, treta… Como diria o rapper, “é muita treta”.

No campo político, a banda tocou forte pro lado dos ministros da Dilma, que caíram como dominó. Mas a oposição também dançou legal, com o “Privataria Tucana”, o livro que ninguém leu direito e todo mundo discutiu. No futebol, deu Corinthians campeão, mas foi o Vasco o protagonista, com um time mazomenos que levou a Copa do Brasil e brigou até o final pelo Brasileirão e pela Sul-Americana, recusando-se a se contentar com a vaga na Libertadores e com os problemas que pareciam não ter fim (e feliz que Ricardo Gomes escapou daquela).

Na economia, o mundo se viu em crise, certo? Mas, peralá, o mundo não tá sempre em crise? Desde que o capitalismo é capitalismo, o mundo vive em crise – e tende a piorar, é o que dizem. Tá faltando dinheiro pra todo lado.

E a juventude assumiu de vez sua vocação pro inconformismo, embora do jeito mais prático e fácil que lhe é peculiar: via Internet, Redes Sociais. Foi um tal de marcha disso e daquilo, mas o evento mais importante não foi nem as bordoadas da polícia nos defensores da maconha (!?), nem a truculência do governo paulista no episódio infame da retomada da reitoria da USP (que mostrou que há muita, mas muita gente reaça não só governando, mas travestida de moderna, tuitando por aí, que se posicionou a favor do governo): foi o tal “churrasco da gente diferenciada”, que tomou as ruas ricas de Perdizes e Pacaembu, por causa de uma estação de metrô que ia ser construída lá, não vai ser mais e depois ninguém sabe que fim levou o projeto. Esse é o jeito festivo da classe média branca paulistana protestar. Esse é o país que vivemos…

As Redes Sociais divertiram todo mundo nas “transmissões” de shows, nos debates rasos (como a troca de Fátima Bernardes por Patrícia Poeta, no Jornal Nacional, talvez o assunto mais não-assunto do ano), na discussão política, no fortalecimento de memes inúteis (“senta lá, cláudia”; “é dia de rock, bebê”; “que deselegante…” e por aí vai) e, porque não, na socialização propriamente dita. O Twitter e o Facebook já existiam, entretanto não há como negar que em “2011” deu-se sua consolidação como instrumento de comunicação e informação primeiros.

Pois “2011” teve essas turbilhões divertidos. Você há de concordar, assim, que foi um ano e tanto. A esperança é que “2012” aproveite o ritmo e seja mais bacana. Não só pro Floga-se, que isso é irrelevante, mas pra você, leitor, que teve paciência generosa em acompanhar e aguentar o nosso proposital (e divertido, essa era a intenção) mau humor. Que a resenha de “2012” pra você esteja recheada de boas músicas e histórias, de felicidades e de conquistas. Que sejam doze faixas deliciosas de ouvir – e de ouvir bem alto e com satisfação! O resto é besteira. Bom ano e até lá!

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Comentários

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7 comentários

  1. Parabéns ao Floga-se pelo ano…
    acompanho essa beleza há mais ou menos 1 ano e meio,e as portas musicais que esse site me abriu são incalculáveis.
    À partir daqui fui conhecendo outros blogs e sites (por aí vai) que, hoje, não sei o que seria de mim sem eles.
    Um ótimo próximo ano para todos vocês que apoiam e divulgam a música alternativa de fato.
    Onde houver uma masmorra, de dentro dela, vai sair algum barulho!!

    Ótimo e ensurdecedor 2012 a todos!

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