VIAGENS ORIENTAIS #2: KOUSOKUYA – 1ST (1991)

HISTÓRIA

Formada em Tóquio no final dos anos 70, o Kousokuya figura entre os titãs do rock psicodélico underground japonês, ao lado do já apresentado Les Rallizes Dénudés e de outras bandas, como Fushitsusha e High Rise.

Sua formação clássica era composta por Jutok Kaneko, lendário guitarrista da cena psicodélica japonesa, a baixista/vocalista Mikk e o baterista Ikuro Takahashi. Também passaram pela banda alguns outros nomes conhecidos na cena, como Munehiro Narita e Asahita Nanjo, que mais tarde viriam a formar o High Rise.

Assim como grande parte das bandas que fizeram parte dessa cena, o Kousokuya lançou raros álbuns de estúdio, que vieram muitos anos depois de sua formação. No caso do Kousokuya, seu primeiro lançamento oficial foi em 1991, 12 anos após sua formação, pela Forced Exposure, “Ray Night 1991-1992 Live”.

Pelo menos, ao contrário do Les Rallizes Dénudés, no caso do Kousokuya temos um disco de estúdio pra apreciarmos sua psicodelia de uma maneira menos caótica do que em bootlegs. E esse disco é “1st”, lançado também em 1991, com uma edição limitada de 200 cópias e mais tarde relançado pela lendária PSF Records.

A banda existiu por 28 anos e só acabou, tragicamente, em 2007 com a morte do guitarrista e fundador Jutok Kaneko. Pouco após sua morte e o fim da banda, foi lançado o sensacional bootleg “Echos From The Deep Underground”, contendo inclusive um DVD bônus com uma apresentação ao vivo em 2001.

“1st”

Quarenta e cinco minutos de pura viagem psicodélica regada a muita distorção.

Esse é “1st”, o primeiro e único disco de estúdio do Kousokuya, lançado em 1991, em uma rara e limitada prensagem em vinil de 12 polegadas pelo selo próprio da banda, o Ray Night. Pouquíssimas cópias saíram do Japão na época, e talvez se não fosse pelo seu relançamento em 2003 pela conhecida PSF Records, não estaria escrevendo esse texto hoje.

O disco é composto de apenas quatro músicas, duas com mais de quinze minutos de duração e outras duas com algo em torno de “apenas” sete minutos. Classificá-lo apenas como “rock psicodélico” seria uma injustiça tremenda com a enorme diversidade que se encontra por trás de toda distorção e improviso que podemos ouvir.

Logo na primeira e mais longa faixa do disco, “The Miracle”, notamos uma variedade imensa de sons e ideias. Ao longo de dezoito minutos temos o tradicional noise rock psicodélico e caótico na veia do Rallizes Dénudés e Fushitsusha, passagens lentas e atonais, com uma forte influência da cena No Wave americana e a linha de bateria também se alterna entre o caos e ritmos esquisitamente tribais aqui e ali, tudo servindo de base para a voz única e amedrontadora, e talvez angelical, de Mikk.

Ouça “The Miracle” dividida em duas partes (na sequência):

As duas faixas mais curtas, “The Dreams Of The Recollections” e “The Dark Spot” são as que mais se aproximam de um format tradicional de rock, ainda que com os traços únicos da banda, sendo talvez as melhores canções pra introduzir algum ouvinte despreparado ao seu som.

A grande surpresa está na esquisita faixa “Removal”, com seus 15 minutos de batidas esparsas, microfonia ditando o clima sombrio da música e os preguiçosos porém eficientes vocais de Mikk, construindo uma faixa que caberia muito bem como trilha sonora de um filme de terror.

“1st” é um disco facilmente relacionado a cena psicodélica japonesa, porém está longe de ser um clichê do gênero. Talvez uma das mais talentosas entre todas as bandas da cena, que presava em muitos momentos mais pela atitude do que pelo primor técnico. Um disco para se juntar ao panteão do noise rock mundial, com os grandes nomes como Sonic Youth e Les Rallizes Dénudés. Se Jutok Kaneko tinha uma missão nesse planeta, com esse disco ele pode descansar em paz, pois ela com certeza foi cumprida.

N.E.: A versão em CD, lançada em 2003, tem uma música a mais, “Suffering Broken Song”

1. The Miracle
2. The Dreams Of The Recollections
3. Removal
4. The Dark Spot
5. Suffering Broken Song

Outros discos (bootlegs) recomendados:
“Ray Night 1991-1992 Live” (1991)
Primeiro lançamento da banda, raríssimo. Mas a Internet está aí pra isso.

“Echoes From The Deep Underground” (2007)
O último (e póstumo) lançamento da banda. Vale o investimento principalmente pelo belo DVD que vem de brinde.

“First Live 1979” (2006)
Oúnico bootleg que mostra a banda em atividade nos anos 70. A grande surpresa do bootleg é a presença de um quarto membro, Hiroshi Yokoyama, tocando sintetizador, dando ao som da banda um aspecto diferente do que viria a ser feito no decorrer da carreira.

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