VIAGENS ORIENTAIS #3: HIGH RISE – II (1986)

HISTÓRIA

Já apresentamos uma banda nascida nos anos 60 (Les Rallizes Dénudés) e outra nascida nos anos 70 (Kousokuya), agora vamos partir pros anos 80, década que a música ocidental chegou com força total ao noise rock que já estava sendo previsto pelos japoneses, e também pelo Velvet Underground.

E a banda dessa edição tem muita história pra se contar. Senhoras e senhores, apresento-lhes o High Rise.

Na real, já havia falado sobre o High Rise brevemente, quando convidado do “O Resto É Ruído”.

Primeiramente, falando dos membros que formaram a banda, já temos muita história. Criado em 1982, pelo vocalista e baixista Asahito Nanjo (Kousokuya, Mainliner, Nijiumu) e pelo guitarrista Munehiro Narita (Kousokuya, Kyoaku no Intention), o High Rise é talvez a mais reconhecida banda do rock underground japonês.

E, para citar alguns outros nomes que passaram pela banda, temos os bateristas Ikuro Takahashi, que também participou do Kousokuya e do Fushitsusha, CHE-Shizu e LSD-March; Shoji Hano, famoso por colaborações com Peter Brötzmann, Derek Bailey e Keiji Haino; e Tatsuya Yoshida, talvez o mais conhecido entre os três, membro da lendária Ruins, além de Musica Transonic, Knead, Acid Mothers Temple SWR e inúmeros projetos e colaborações – com Ron Anderson, Yoshishide Otomo, Kawabata Makoto, entre outros.

“II”
Apesar do nome, “II”, lançado em 1986, o disco é considerado o primeiro trabalho próprio do High Rise, já que muitos consideram o primeiro lançamento, “Psychedelic Speed Freaks”, de 1984, apenas um bootleg, devido à péssima qualidade de gravação. Vale a menção de que foi esse primeiro bootleg que deu nome à PSF Records, gravadora que é a porta de entrada pra qualquer um interessado em conhecer mais sobre a cena psicodélica japonesa.

O disco já começa com o petardo de menos de um minuto de duração, “Cycle Goddess”, um noise rock urgente servindo de prelúdio pro que está por vir. O álbum como um todo aparenta ser um disco de rock básico, só que tocado duas vezes mais rápido, com duas vezes mais distorção e mais “drogado”, na falta de um adjetivo melhor.

Ao contrário do que acontecia nas bandas que precederam o High Rise, aqui a gravação de melhor qualidade e também um maior conhecimento técnico dos membros da banda permite que possamos mais facilmente identificar, ou entender, os solos de guitarra e os vocais em meio ao caos de guitarras que permeiam o disco.

“Cotton Top” é a primeira faixa em que o guitarrista Munehiro Narita demonstra seus desconcertantes solos, e na faixa seguinte, “Last Rites”, a mais palatável do disco, mostra sua competência com um rife que não deve nada aos grandes clássicos do rock dos anos 70.

Mas nada do que se passou no disco até esse ponto pode preparar o ouvinte pra viagem psicodélica de mais de treze minutos que é “Pop Sicle”. Construída sobre mais um rife espetacular, Narita improvisa e faz seus solos por incontáveis minutos, coisa que em apresentações ao vivo podia chegar à uma hora de duração, terminando o álbum como ele começou, caótico e explosivo.

Ouça “Pop Sicle”:

“II” é um disco muito mais conciso e bem construído que outros clássicos do rock psicodélico japonês, mas sem perder aquela atitude e sonoridade agressiva que marcam as bandas de lá, desde os anos 60. Talvez isso o torne mais agradável e interessante que as outras bandas já apresentadas aqui, mas ainda o colocaria um degrau acima do nosso “noise rock de cada dia”.

O mundo ainda estava se equiparando e às vezes até superando o Japão, naquela época, com The Jesus And Mary Chain, Sonic Youth e Dinosaur Jr., entre outros novatos que estavam conquistando seu espaço e viriam a conquistar fama internacional. Uma pena que seus colegas e predecessores japoneses não chegaram tão longe.

Ouça na íntegra (a versão do CD, de 1993 – veja abaixo a diferença):

Lado A
1. Cycle Goddess
2. Turn You Cry
3. Cotton Top
4. Last Rites

Lado B
5. Wipe Out
6. Pop Sicle

A versão de 1993, em CD, também da PSF Records, tem duas músicas a mais e uma capa diferente:
1. Cycle Goddess
2. Turn You Cry
3. Cotton Top
4. Last Rites
5. Wipe Out
6. Pop Sicle
7. Monster A Go Go
8. Induced Depression

Outros discos (bootlegs) recomendados:
“Psychedelic Speed Freaks” (1984)
O começo de tudo, o disco que conseguiu destruir um dos meus fones de ouvido, ouça com cautela.

“Dispersion” (1992)
O disco mais longo da banda, contém várias faixas de puro psychedelic freakout. No clima certo não é nem um pouco cansativo.

“Live” (1994)
A chance de sentir o quão mais pesada a banda soava ao vivo. Uma excelente gravação e setlist.

Leia mais:

Comentários

comentários

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.