ZOLA JESUS EM SÃO PAULO – COMO FOI

Lotado de trabalho. Sem tempo. Uma chuva torrencial, daquelas que o verão sempre reserva pros meses de janeiro em São Paulo (verão, nada: um pouco de frio). E ainda por cima, eu simplesmente detesto qualquer trabalho que Nika Roza Danilova, a Zola Jesus, lançou até hoje, incluindo “Conatus”, badalado álbum de 2011, que acabou figurando em um bocado de respeitadas listas de melhores do ano. O quadro não era dos melhores: nada ali me agradaria e me moveria pra vê-la ao vivo.

Por que fui? Ah, os amigos… A chance de ver os amigos e tomar umas consegue me convencer de qualquer coisa, em qualquer situação e cenário.

Só que meus amigos e a cerveja que me desculpem: o que fez a noite dessa quinta-feira, dia 19 de janeiro de 2012, foi a Zola Jesus e seu baita vozeirão. Que baita show – e essa exclamação deveria ser tudo o que bastaria pra você saber. Mas não é.

A moça ao vivo começa tímida, com “Avalanche” e “Hikikomori”, duas músicas que se mostram exemplares pro que vem pela frente: ao vivo, Zola Jesus é estupenda, infinitamente melhor do que em disco, onde é insossa, sonolenta por vezes. Comparando, parecem duas artistas diferentes. Aquela que subiu no palco, uma loirinha branquela de um metro e sessenta e poucos, cresce de tal forma, como cresce o impacto de seu set, que é definitivamente outra pessoa.

A Clash Club, com metade da lotação apenas, presenciou uma transformação. Duvido que só a chuva tenha causado aquele estrondoso e ofensivo vazio (bom, a proximidade com o Natal/Ano Novo, as férias, as contas pesadas de janeiro, as férias, tudo contribui pro povo ficar sem grana e ter preterido o evento): Zola Jesus ainda não tem um nome tão forte, apesar do hype insistente que os gringos conduziram sua carreira de uns tempos pra cá. Sinto informar, pois, a quem não foi: ali estava outra Zola Jesus, muito melhor e fascinante.

Sua voz chama atenção logo de cara. Que baita voz. Ela e seu programador e tecladista no palco, após o começo tímido, fazem um estrago na pista, com batidas secas, pulsantes, embaláveis, uma mistura de Siouxsie e Beach House, alimentada pela alma do X-Mal Deustchland. E os góticos se puseram a dançar. Mas não só eles, o público era bem heterogêneo e todos estavam na mesma vibração.

“Shivers”, “Seekir” e “Vessel”, embalos conhecidos da cantora, fazem não só a plateia chacoalhar, às vezes com leveza, às vezes no batidão, como ela mesma se desdobrar em sua dança erótico-desengonçada. Zola Jesus vai à plateia (e some ali no meio), sobe nas caixas, se esgueira no pequeno palco, desce o braço num prato de bateria, ela faz o que pode pra não depender só da sua voz e das suas músicas intensas. Nem precisaria.

Durante pouco menos de uma hora, a plateia ficou satisfeita com o que viu – fãs, simpatizantes e cretinos irredutíveis como eu. Mas me vi não tão irredutível assim e fui vencido pelo talento da moça. Não mudei de opinião com relação aos discos – não vou comprá-los, nem baixá-los de novo – mas iria facilmente a outros shows dela.

Veja “Avalanche”:

E veja “Hikikomori”:

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